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Empreendedorismo ajuda a salvar mulheres da violência doméstica

Getty Images
Imagem: Getty Images

Daniela Carasco

da Universa, em São Paulo

02/04/2018 04h00

Em 2010, a publicitária Ana Fontes criou um blog para compartilhar dicas e conteúdos sobre gestão para mulheres que empreendiam ou desejavam abrir seu próprio negócio. Batizado de Rede Mulher Empreendedora, ele logo ganhou uma página no Facebook e virou de fato uma rede de apoio, que conta hoje com mais de 500 mil mulheres, considerando cadastradas e seguidoras. 

Entre tantas histórias de superação que já ouviu, uma marcou Ana profundamente. Depois de conseguir tirar do papel sua ideia, uma das empreendedoras da rede contou a Ana que havia também se separado do marido. O relato, a princípio, lhe causou um desconforto. “Fiquei assustada ao pensar que estaria promovendo o fim de relacionamentos”, disse durante uma palestra em São Paulo. “Mas ela logo justificou que o término tinha sido positivo, pois colocou fim a um relacionamento abusivo, marcado por violência física.”

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O prejuízo da dependência financeira

Segundo a pesquisa Data Senado 2017, 32% das mulheres em situação de violência doméstica não denunciam porque dependem financeiramente do agressor. Levantamentos sobre o assunto mostram ainda que um dos fatores de risco à mulher em situação de violência é a conduta do agressor de impedi-la de trabalhar ou estudar.

“Isso é extremamente grave”, diz a promotora de Justiça Fabíola Sucasas, assessora do Centro de Apoio Operacional Cívil na área de Direitos Humanos e autora do projeto “Prevenção da Violência Doméstica com Estratégia de Saúde da Família” em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Por isso, ela defende o empreendedorismo como forma de romper com o ciclo de violência.

“Ele garante independência financeira, algo fundamental às vítimas”, justifica a promotora. Ana Fontes acrescenta: “Quando nos tornamos donas do nosso próprio dinheiro, nos tornamos donas também das nossas decisões”.

Elas já são maioria na área

Para romper o vínculo da dependência econômica e transformar a realidade de muitas mulheres, o Ministério Público de São Paulo preparou em parceria com o Sebrae-SP a cartilha “Prevenção da violência doméstica e familiar contra as mulheres com a estratégia de saúde da família”, distribuída principalmente nas zonas periféricas da cidade e que carrega um capítulo sobre a conquista da independência financeira por meio do empreendedorismo.

Um levantamento do Sebrae identificou que as mulheres já correspondem hoje a 51% dos empreendedores iniciais. E as empresas chefiadas por elas estão concentradas principalmente em quatro áreas de atuação: restaurantes (16%), serviços domésticos (16%), cabeleireiros (13%) e comércio de cosméticos (9%). A maior parte trabalha dentro de casa (35%).

“Empreender também significa para as mulheres uma oportunidade de conciliar a vida pessoal e profissional”, diz o material. “No caso das mães, é possível ter o próprio negócio, se sustentar e ainda cuidar dos filhos.” Isso sem falar na satisfação pessoal em fazer algo diferente e novo.

O que é preciso para começar a empreender?

Abrir o próprio negócio envolve muitos desafios. E algumas características são fundamentais nessa trajetória. Veja o que sugere a cartilha:

  • Busque informação: pesquise sobre o produto ou serviço que deseja oferecer, busque informações sobre possíveis clientes, fornecedores e quem são seus concorrentes. Com essa pesquisa fica mais fácil identificar oportunidades e repensar a ideia de negócio.
  • Esteja comprometida: principalmente no começo da empresa, as atividades serão feitas pela dona do negócio; isso demandará esforço pessoal e foco nas tarefas.
  • Persista: empreender é um desafio, não desanime. Esteja motivada, convicta, entusiasmada e creia nas possibilidades. Comemore cada conquista.
  • Estabeleça metas: pense onde você quer chegar. Defina metas e objetivos de vendas, conquistas de clientes e receita, por exemplo. As metas podem ser definidas por dia, mês e ano. Assim fica mais fácil analisar se está alcançando o que foi estabelecido.
  • Planeje e acompanhe: para tornar real e medir os objetivos e metas é preciso planejar as atividades e acompanhar os resultados, dessa forma é possível verificar se sua empresa está apresentando bons resultados.