"É preciso mais do que soco para me parar", diz professora agredida de SC

Desde que recebeu um soco no olho de um aluno, a professora de língua portuguesa Marcia Friggi, 51, diz ter adoecido. “Da violência física, veio a doença emocional. Não saio mais desacompanhada, não consigo dirigir. Tenho pesadelos com esse dia. Desenvolvi receios, ansiedades”.
A agressão aconteceu em agosto, durante uma aula em um colégio municipal de Indaial, a cerca de duas horas e meia da capital Florianópolis. A foto em que aparece ensanguentada circulou nas redes sociais. De lá para cá, Marcia teve que se afastar do trabalho.
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“Tenho muita dificuldade de concentração e ainda não consigo me manter concentrada em uma atividade por muito tempo seguido”, diz. Ela diz que enfrenta o período com o auxílio de um psicólogo. “Desenvolvi uma dificuldade até em me ver como professora novamente”.
Agressão a professora continuou nas redes e se repete
Além do soco, a professora também recebeu ataques pessoais em seu perfil do Facebook. O motivo das mensagens de ódio teria sido o posicionamento político manifestado por Marcia nas redes. “É o segundo soco”, disse na ocasião, em entrevista ao UOL.
“Apesar disso, também recebi inúmeras mensagens de apoio de professores que também já foram agredidas, verbalmente e fisicamente, com depoimentos gravíssimos”, diz. A professora relata que seu caso representa uma realidade comum aos professores em todo o país.
No início de novembro, um professor de uma escola na zona sul de São Paulo levou um soco de um aluno de 20 anos, insatisfeito com uma nota. A agressão foi filmada e compartilhada nas redes sociais.
Em setembro, dois alunos agrediram um professor de uma escola estadual em São Carlos, município a cerca de 230 quilômetros da capital paulista. Além da agressão, o profissional também teve o carro depredado e recebeu ameaças de morte.
Uma semana após a agressão contra Marcia, um professor foi agredido por pais de alunos em uma escola em Itajaí, a cerca de 90 quilômetros de Florianópolis.
Segundo um relatório de 2013 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil é o que mais registra casos de agressão a professores em uma lista com 34 países.
“A sociedade tem que ser companheira dos professores e da escola”, diz Marcia.
Professora promete retornar a sala de aula
Hoje, meses após a agressão, a professora tomou a decisão. Retorna às salas de aula em 2018. “Não foi fácil. Eu fui ao inferno e voltei, mas ano que vem estou dentro. "É preciso muito mais do que soco para me parar --e eu não vou me calar. Se eu não for, quem vai? Quem estará lá com meus alunos? Ser professor é um ato de resistência”, conclui.
O autor da agressão contra a professora cumpre medida socioeducativa, informa o Ministério Público de Santa Catarina. O caso é acompanhado pela promotoria da infância de Blumenau, a cerca de 150 km de Florianópolis.
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