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Homem não entra: por que surgem agora espaços de trabalho só para mulheres?

Natacha Cortêz

Do UOL, em São Paulo

25/10/2017 04h00

"Em um ambiente livre de homens, mulheres podem se sentir mais produtivas e menos intimidadas". Foi assim que Audrey Gelman definiu sua empresa, o The Wing, uma mistura de espaço de trabalho compartilhado (coworking) e clube exclusivo para mulheres em Nova York, em entrevista à revista "Inc. Para a "ELLE" americana, ela foi além: "Ser uma garota não é mais um lugar politicamente neutro. Sua identidade, quer você goste ou não, agora é política". 

Coworking The Wing - @thewing - @thewing
Em Nova York, primeiro coworking exclusivo para mulheres tem lista de espera
Imagem: @thewing

Agora, até os negócios tentam reverter os prejuízos históricos causados pelo machismo. Se depender do cowrking de Gelman, pode dar certo. Há uma lista de espera de mais de 3 mil nomes para conseguir um espaço entre as outras 650 membros dali - incluindo a criadora da série "Girls", Lena Dunham. A mensalidade para fazer parte do clube é de 215 dólares. 

O mercado de trabalho, tal qual conhecemos, é hostil com as mulheres. No Brasil, elas ganham quase 30% menos do que os homens exercendo funções iguais e ocupam apenas 11% dos cargos de CEO nas empresas. Há, ainda, a questão do assédio: 33% das brasileiras disseram sofrer com ele no ambiente de trabalho.

Segundo uma pesquisa da Catho, de 2013, mulheres também pedem menos por promoções. Um estudo realizado pela Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, vai ao encontro da pesquisa: 70% das americanas entrevistadas (todas executivas de prestígio) sofrem da mesma questão.

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Para a paulistana Ana Bavon, há uma espécie de "síndrome de impostora" entre as mulheres. "Precisamos ser muito boas profissionais para nos sentirmos confortáveis em pedir um aumento. Não basta fazer nosso trabalho, cumprir horários e entregas, temos que ser excepcionais e pró-ativas", conta ela que depois de uma década como gestora em um renomado escritório de advocacia, decidiu seguir caminho autônomo e abriu a Feminaria. "Uma desenvolvedora de negócios, focada na ascensão profissional da mulher", explica. 

Ana Bavon - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Ana Bavon, fundadora da Feminaria
Imagem: Arquivo pessoal

"Reflete na autoestima"

Em São Paulo, o empreendimento de Bavon, localizado em uma casa no bairro da Aclimação, oferece planos de consultoria e desenvolvimento de negócios é o único coworking na cidade exclusivamente voltado para negócios liderados por mulheres. O preço mensal por um espaço no lugar, com direito a linha telefônica e internet, é de R$ 450.

Hoje, as oito vagas da casa estão ocupadas, mas ainda há planos para quem deseja apenas desenvolvimento de negócios e carreira. Eles custam de R$ 187 a R$ 237 por mês. "Entre as mulheres que ficam aqui na casa e as que apenas passam pra receber consultoria, atendemos 45 clientes atualmente", diz.

De acordo com a empresária, a tendência é que lugares como a Feminaria se multipliquem pelos grandes centros urbanos. "Não tenho dúvidas de que é uma tendência de mercado. O número de clientes que nos procuram aumenta a cada semana." Bavon também destaca as vantagens de quando mulheres se reúnem para trabalhar: "Estar num ambiente em que você pode compartilhar experiências com alguém que passa pelo mesmo é muito importante e saudável, ajuda no fortalecimento da autoestima e na segurança na tomada de decisões".