Cirurgia é etapa do tratamento da obesidade na adolescência, não solução

Cerca de três milhões de jovens brasileiros, com idade entre 13 e 17 anos, estão com excesso de peso. Desse total, um milhão é obeso. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, divulgada em agosto pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os números foram o ponto de partida para diversas discussões ocorridas durante o Simpósio da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, realizado no Rio de Janeiro, em setembro. Afinal, a redução de estômago é uma medida válida para conter a obesidade entre a população jovem do nosso país?
“Quando o médico e o paciente se convencem de que esgotaram todas as tentativas de tratar a obesidade exclusivamente com a mudança do estilo de vida, a alternativa mais eficaz é a cirurgia”, diz o médico Caetano Marchesini, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. No Brasil, de acordo com as diretrizes do Conselho Federal de Medicina, jovens entre 16 e 18 anos podem ser submetidos à intervenção.
O principal objetivo do tratamento é garantir a saúde. “Pacientes com IMC [índice de massa corporal] acima de 35, que tenham doenças secundárias à obesidade, como pressão alta, diabetes, apneia do sono e problemas de mobilidade, são candidatos à cirurgia, assim como jovens com IMC acima de 40”, afirma Marchesini.
Na avaliação do quadro, o impacto da obesidade na autoestima dos jovens é levado em conta, bem como os prejuízos à vida social, pessoal e escolar.
“O Conselho Federal de Medicina indica depressão e estigmatização social como critérios para a realização da cirurgia. Estamos falando de jovens que passam por intenso sofrimento psíquico e que enfrentam prejuízos sociais acarretados pela obesidade”, declara a psicóloga Nelia Mendes Fernandes, da equipe de cirurgia bariátrica do Hospital Federal dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro.
O durante e o depois
O cirurgião do aparelho digestivo Sidney Klajner, vice-presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, explica que a técnica mais utilizada nessa faixa etária é a gastrectomia vertical, que diminui o tamanho do estômago para que a saciedade seja atingida rapidamente.
“É um procedimento que gera menos problemas de absorção de nutrientes, um ponto importante para o adolescente, que ainda não completou o crescimento”, fala Klajner, que acrescenta que com a técnica ocorre um emagrecimento mais saudável do ponto de vista nutricional.
Mas, mesmo após a realização da cirurgia, o adolescente precisa de acompanhamento nutricional e suplementação vitamínica. O cuidado deve ser mantido para o resto da vida. A assistência psicológica também é indispensável, pelo menos durante um período.
“Adolescentes anseiam por modificações corporais, pois acreditam que elas sejam o passaporte para uma vida mais plena e feliz. É como se ganhassem um convite VIP para uma festa muito desejada”, afirma Nelia.
Porém, sem ajustar as próprias expectativas à realidade, há o risco de que continuem insatisfeitos com a forma corporal, ainda que tenham realizado a intervenção. “As sobras de pele são as queixas mais recorrentes, assim como a dificuldade de reconhecer o próprio corpo”, diz a psicóloga.
O cirurgião Klajner afirma que o pós-cirúrgico do adolescente só é mais difícil do que o do adulto porque exige controle emocional, uma característica em desenvolvimento em uma pessoa em plena fase de transformação.
A psicóloga Andrea Levy, especializada em obesidade e cirurgia bariátrica pela USP (Universidade de São Paulo), concorda. Ela reforça que o paciente, apesar de novo, precisa ser maduro o suficiente para entender que a cirurgia não é o término do tratamento, mas apenas uma das etapas dele.
“Para emagrecer, é preciso seguir uma série de regras. Porque não há cura, mas controle da obesidade”, declara Andrea. Em outras palavras, não há como fugir da lição de casa: é fundamental se comprometer com uma mudança de estilo de vida, que inclui fazer atividade física regularmente e vigiar a qualidade e a quantidade dos alimentos ingeridos.
“Muitas vezes, os ambientes escolares, domiciliares e sociais não colaboram para a mudança de hábitos”, diz Caetano Marchesini. Por isso mesmo a participação e o interesse da família no processo de emagrecimento, mesmo após a cirurgia, são essenciais para o êxito.
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