Jornalista abre salão acessível para cachos: "Assumi-los é ato político"

"Como a maioria das cacheadas e crespas, fui criada para acreditar que nasci com uma anomalia genética", diz Sabrinah Giampá em entrevista ao UOL. O conceito, ainda que absurdo, não soa estranho aos ouvidos de quem nasceu com fios anelados. E foi justamente por isso que a jornalista de 36 anos resolveu mudar os rumos de sua vida profissional com a criação do salão Garagem dos Cachos, montado na sua própria casa, na zona Sul de São Paulo (SP).
A busca por incentivar esse resgate do orgulho dos cachos teve início primeiro a partir de uma experiência própria. Dependente de alisamentos por 30 anos, Sabrinah decidiu assumir os fios por não se reconhecer mais no espelho. "Para mim o meu cabelo era uma fera que eu mantinha trancafiada e, naquele momento, tinha que aprender a lidar com aquilo", argumenta.
E manter o cabelo sem a agressiva química dos alisamentos significou muito mais do que apenas se ver livre da chapinha e do secador. "O cacheado e o crespo são repudiados por serem mais próximos da cultura negra, o que ainda é visto como algo 'ruim' no Brasil por ainda existir um racismo velado. Por isso, assumir o próprio cabelo é um ato político", explica a jornalista.
Quando percebeu que estava sendo muito parada na rua para dar conselhos sobre seus cachos, a jornalista resolveu transformar o seu blog pessoal em um espaço para escrever sobre a experiência de ter cabelos cacheados. "Mas não queria um blog de beleza, porque já existem muitos", diz. "Queria algo mais político, para ajudar outras mulheres."
"Naquele momento, perdoei todos os cabeleireiros que eu tinha crucificado em minha vida (risos).” O jeito foi fazer uma especialização com profissionais norte-americanos. "Mas mesmo neste curso não havia bonecas crespas”, observa. “Aprendi a cuidar de black power na prática, experimentando".
No espaço de beleza, que funciona há cerca de dois anos, ela atende, sob agendamento prévio, mulheres que estão em fase de transição e em busca da recuperação de seus fios naturais. A profissional publica os antes e o depois das clientes em seu blog, além de uma breve história sobre como elas decidiram voltar ao cabelo sem química. "Quando a mulher faz esta decisão, é muito julgada pela sociedade e pela família", comenta.
O preço é mais conta porque suas clientes costumam pertencer à classe C e também pela estrutura do lugar, que não tem o mesmo padrão de um salão profissional. "É Garagem dos Cachos porque é uma garagem mesmo", ri.
Apesar da simplicidade do espaço, Sabrinah, que está com a agenda lotada até março, acredita que seu trabalho representa também uma ação social. "Geralmente recebo meninas que têm os fios alisados desde os 3 anos de idade, não sabem nem como é o cabelo natural", fala. "É muito legal participar disso, porque a gente vê meninas com lágrimas nos olhos quando ela se reconhece no espelho. Você está resgatando a beleza da pessoa".
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