Snapchat e Periscope podem levar usuário a uma vida solitária
Em março deste ano, o Twitter lançou o Periscope, rede social que permite aos usuários fazerem transmissões ao vivo –e que ganhou dez milhões de participantes em apenas cinco meses. Febre dos últimos meses, o Snapchat --lançado em 2011-- é um aplicativo para publicação de fotos feitas na hora e vídeos de até dez segundos, que já tem mais de 200 milhões de adeptos. Ambos os aplicativos estão disponíveis para Android e iOS e a semelhança entre eles é a possibilidade de mostrar aos seguidores, em tempo real, o que se está fazendo, o que vai além do que proporciona o já consolidado Instagram. Ao alimentarem o sonho dos 15 minutos de fama, as ferramentas podem levar a pessoa a uma vida solitária.
De acordo com Carla Falcão, palestrante e especialista em mídias sociais, a quantidade de "likes" de um usuário nesses aplicativos funciona como um reflexo da importância que eles têm --para si próprios e para os seguidores. O reconhecimento estimula os hormônios do humor, fazendo com que o usuário queira postar mais frequentemente e assim reforçar o engajamento de quem o segue. "Essas ferramentas possibilitam o acesso a opinião dos seguidores em tempo real. Tudo isso gera reconhecimento --para o bem ou não--, que é o que as pessoas buscam cada vez mais", fala.
Para Alda Marmo, terapeuta da ABPMC (Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental), usuários fervorosos desses sistemas podem deixar de lado as relações com a vida real, o que não é sadio. "Fomos feitos para viver em sociedade", declara.
Mas por que esse tipo de exposição gratuita interessa a tantos? Segundo Andrea Jotta, do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática) da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, poder fazer um reality show da própria vida seduz a geração apaixonada pelas redes sociais, pois dá "ibope" para o internauta e, consequentemente, favorece sua autoestima. "O Periscope e Snapchat são ferramentas que trazem aquela sensação de ser visto, escutado e aceito."
Segundo Andrea, para quem trabalha com a imagem, como atores e cantores, os aplicativos aproximam a pessoa do público --sem que o artista tenha de gastar nada. "É possível transmitir aos fãs tudo o que desejar usando apenas o smartphone. Dependendo da assiduidade da celebridade, o seguidor pensa que faz parte do dia a dia dela, pois sabe tudo a seu respeito: o que come, onde vai, o que veste."
A especialista em mídias sociais Carla Falcão alerta para o fato de que é preciso ter um propósito ao usar ferramentas de interação como o Persicope e o Snapchat ou o indivíduo pode acabar frustrado. "O bom senso é fundamental. Usar os aplicativos com a pretensão de ficar famoso, por exemplo, e tentar agir como tal dando pode não dar certo. É fácil se perder", afirma.
E saiba: se você é do tipo que entra nessas ferramentas apenas para zombar das transmissões alheias pode acabar, mesmo que sem querer, responsável pelo "sucesso" e frequência daquela pessoa na rede social. Alda diz que interpretamos os sinais da forma mais conveniente e, dessa forma, se há alguém ali assistindo e comentando --mesmo que seja para falar mal-- é porque aquilo é "importante".
"Se eu fizer um vídeo e não conseguir nenhum seguidor --ou poucos--, minha vontade de estar naquele meio de comunicação vai diminuir até acabar. Mas se uso hoje e os seguidores crescem, isso reforça o meu comportamento. A frequência não parte do indivíduo, mas da relação que se estabelece entre o que ele faz e como os outros se relacionam com ela", diz.
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