Escola para pais vai além das dúvidas do curso de gestante
Ensinar pais de primeira viagem a cuidarem de recém-nascidos já não é novidade. Os cursos de gestantes confortam homens e mulheres inseguros com todos os aspectos de uma gestação, esclarecendo detalhes do parto e dos cuidados com a saúde do bebê ao nascer. A questão é que, com a passagem do tempo, as dúvidas –principalmente às que dizem respeito à educação– crescem na mesma velocidade das crianças. E a preocupação de trocar a fralda ou dar banho se torna pequena diante de outros tantos desafios que envolvem a criação de um filho.
Foi para atender a essa necessidade que surgiram as escolas de pais, instituições que promovem o debate de temas comuns no ambiente familiar, com o respaldo de psicólogos, pedagogos, médicos ou apenas de pais experientes.
“A escola ajuda os pais a agirem de forma mais consciente na educação dos filhos. Os temas são eleitos conforme as necessidades e angústias do grupo. A questão da sexualidade precoce, o impacto da mídia eletrônica sobre a formação da criança, as relações entre os irmãos e até dependências químicas, por exemplo, são assuntos que podem entrar em pauta”, afirma a médica e terapeuta Ana Paula Cury, uma das fundadoras da escola de pais da Escola Waldorf Rudolf Steiner, em São Paulo, e coordenadora das aulas.
Na Rudolf Steiner, a iniciativa nasceu em 2009. Hoje em dia, cerca de 40 pais frequentam assiduamente os encontros semanais, gratuitos e abertos às famílias dos alunos.
Já a Escola de Pais do Brasil, com seccionais espalhadas por 70 municípios, funciona de maneira um pouco diferente, mas com o mesmo objetivo. Na instituição, sem fins lucrativos, casais voluntários são treinados para dar cursos gratuitos a pais, mães e educadores em diversas localidades. “Os círculos de debates podem ocorrer em qualquer lugar onde for possível reunir alunos: escolas, paróquias, condomínios, igrejas. Não temos absolutamente nenhuma restrição”, diz o presidente da entidade, Djalma Navarro Falcão.
O curso tem duração fixa: são oito encontros, que acontecem uma vez por semana, à noite. Para dar as aulas, os voluntários precisam ter frequentado a escola, mas também devem concluir um curso de capacitação dado pela própria entidade, além de ter boa formação intelectual. “Há médicos, pedagogos e também economistas. São pessoas com disposição para continuar estudando sempre, porque fazemos aperfeiçoamentos semestrais”, fala Falcão.
Também é possível encontrar outros formatos de cursos, como os oferecidos pelo Mamusca, em São Paulo, um espaço onde as crianças podem brincar e aprender. No local, em horários alternativos, os pais podem assistir a palestras pagas, que abordam a criação dos filhos em seus mais diferentes aspectos.
“Nós orientamos os pais a lidarem com situações adversas, desde um acidente até uma briga entre irmãos. O objetivo das oficinas e palestras é dar ferramentas para eles agirem por conta própria, nas situações mais desafiadoras”, declara a proprietária do espaço, Elisa Roorda.
Nas três escolas, a participação majoritária ainda é de mulheres, embora os pais estejam gradativamente se juntando ao grupo de alunos. “Temos muitos avós que participam também, porque eles estão cada vez mais jovens e cuidam dos netos”, afirma Falcão.
Novo modelo de escola para novos pais
As longas jornadas de trabalho, a grande quantidade de informação disponível para consulta e uma profunda mudança no cenário social respondem pela insegurança dos pais da atualidade, que buscam novas referências para educarem seus filhos.
“A estrutura familiar de hoje é bem diferente. Os núcleos estão menores e mais isolados, não há tanta interferência de outros parentes na educação. Os pais também têm menos filhos, o que permite que se dediquem mais à criação de cada um”, diz Elisa.
“Outro tipo de família muito comum são as reconstituídas, quando o casal se separou e casou novamente e, nesse encontro, traz filhos de uniões diferentes. Com o novo arranjo, surgem também novos desafios”, diz o presidente da Escola de Pais do Brasil, Djalma Navarro Falcão.
Há, ainda, nos pais de primeira viagem contemporâneos, um grande medo de errar, o que os motiva a buscar uma entidade capaz de ensinar aquilo que não se aprende em escolas comuns. No entanto, para a psicanalista infantil Anne Lise Scappaticci, doutora em saúde mental pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o grande trunfo desses cursos não é a função pedagógica, mas a capacidade de viabilizar trocas de conhecimentos entre os pais.
“Ao dividir angústias e problemas, muitas vezes, os pais passam a se sentir menos culpados, porque percebem que não são os únicos a vivenciarem o mesmo tipo de situação. O simples fato de compartilhar experiências ajuda a diminuir muito a ansiedade”, afirma Anne.
Elisa Roorda concorda com a afirmação. “Os pais geralmente saem daqui tranquilos por terem mais informações, mas também porque se sentem mais à vontade para falarem de suas dificuldades, ao perceberem que outras famílias lidam com isso também. Não são poucos os casais que saem amigos daqui.”
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