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Em casa ou no trabalho, bagunça causa estresse e distração

Juliana Reis decidiu se livrar da bagunça para se irritar menos ao se vestir para ir trabalhar - Claudia Silveira/UOL
Juliana Reis decidiu se livrar da bagunça para se irritar menos ao se vestir para ir trabalhar Imagem: Claudia Silveira/UOL

Claudia Silveira

Do UOL, em São Paulo

09/01/2014 07h57

Por causa de uma mudança feita às pressas e sem planejamento, a empresária Juliana Reis morou por alguns meses em uma casa nova tomada pelas caixas. "Metade do meu guarda-roupa estava fora do lugar e o caos me atrapalhava. Eu não encontrava nada do que precisava. Não conseguia fazer nenhuma tarefa direito, porque começava uma coisa e a bagunça me levava a fazer outra", conta.

A dificuldade que Juliana sentiu em se concentrar nas atividades exemplifica o resultado de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, o excesso de estímulo visual, como o da bagunça, atrapalha a nossa capacidade de prestar atenção em uma atividade só.

O estudo foi realizado graças a uma parceria entre o Instituto de Neurociência e o Departamento de Psicologia da universidade e mostrou que o ambiente bagunçado também limita a capacidade do nosso cérebro de processar informações e guardá-las na memória. Essa condição leva ao estresse, à distração e à irritação. 

Esses eram os sintomas que a empresária Juliana percebia ao procurar uma roupa para ir trabalhar. Com metade das peças em caixas, ela até tentava encontrar uma blusa que combinaria com a calça, mas surgia uma saia no meio e ela acabava se esquecendo da tal blusa. O que ficava era a frustração e o cansaço quando o dia estava apenas começando.

 
"A energia que a bagunça exige do nosso cérebro acaba por cansá-lo mais rápido", afirma a psiquiatra e psicoterapeuta Luciana Gioia de Deus, especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria. A médica usa como exemplo o próprio processo de se vestir.

"Em um guarda-roupa bagunçado, a gente olha, mas não consegue encontrar com facilidade aquilo que procura. Se, ao contrário, estiver tudo arrumado, é só bater o olho que o cérebro já localiza e decide o que vestir. É uma economia de energia cerebral que pode ser aproveitada em outras atividades do dia a dia", compara.
 
Essa relação entre bagunça e concentração vale tanto para o ambiente doméstico quanto o profissional. A diferença, no caso do escritório, fica por conta da maior exigência de produtividade.

"Quanto mais estímulo visual, mais dificuldade o cérebro vai ter de se concentrar no que é mais importante na ocasião. Não precisa nem ser o ambiente de trabalho todo. A mesa já pode ser suficiente para atrapalhar", diz o psiquiatra Duílio Antero de Camargo, coordenador do Grupo de Saúde Mental e Psiquiatria do Trabalho do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
 

Mesmo que existam pessoas que digam "da minha bagunça eu entendo" ou "eu sei onde está qualquer coisa que precisar", o psiquiatra explica que, como o ambiente de trabalho é coletivo, mesmo que a sua bagunça não atrapalhe o dono dela, o colega ao lado pode ser prejudicado sem se dar conta disso.

Ele fala, ainda, que essa perturbação não se limita a encontrar um objeto específico no meio da desordem, mas o fato de que a bagunça em si é o que causa da poluição visual e, consequentemente, da distração. 
 

Ordem na bagunça

 
Depois de meses com caixas distribuídas por cômodos da casa, a empresária Juliana decidiu que era hora de colocar ordem na bagunça. A missão era se livrar do excesso e fazer tudo caber no guarda-roupa da casa nova.

"Mesmo ainda estando no meio do meu processo de reorganização, saber onde está cada coisa já facilita e me livra do estresse matinal ao me vestir. Hoje, consigo bater o olho e saber tudo o que tem no armário e saber o que eu quero".
 
"Organização é sinônimo de qualidade de vida", diz a organizadora pessoal Valéria Duarte. Segundo ela, o mais comum é a pessoa não saber por onde começar. "Faltam concentração e plano de ação, além do conhecimento das técnicas e das ferramentas certas para colocar tudo no lugar; não só de uma de forma otimizada, mas que a própria pessoa possa mantê-la no dia a dia", diz Valéria. Mas, segundo ela, o esforço vale a pena: "O ganho de tempo e qualidade de vida são os principais benefícios", incentiva a organizadora.