Não consegue se desligar do trabalho? Mude isso
Com o crescimento da tecnologia e os recursos que ela traz, como celulares com acesso a internet e tablets, ficamos antenados a tudo o que acontece a qualquer hora do dia. Porém, para alguns, mais especificamente 45,4% dos brasileiros --segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), feito em agosto de 2012-- isso significa não se desligar totalmente do trabalho após o fim da jornada diária.
O problema é que esse hábito de checar e-mails ou atender a ligações fora do seu expediente pode se transformar em uma compulsão e, mais tarde, em doença.
De acordo com a Isma (International Stress Management Association), o workaholic (profissional viciado em trabalho) tem 65% mais chances de desenvolver doenças cardíacas do que as outras pessoas.
Segundo Maria de Lurdes de Souza Zemel, psicanalista membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, esse é um problema difícil de ser identificado, já que o trabalho é considerado uma "droga nobre", pelo fato dos que trabalham muito às vezes serem valorizados.
"Um grande sinal é observar se a relação com o trabalho é a única e a mais importante que a pessoa estabelece. Um indivíduo não procura análise dizendo 'estou compulsivo pelo trabalho'. Geralmente, essas pessoas chegam aos consultórios através dos clínicos porque já apresentam um problema físico por consequência do excesso de trabalho", afirma ela, que sugere prestar atenção ao que as pessoas próximas dizem sobre seu comportamento para perceber que algo não está bem.
De acordo com a pesquisa do Ipea, entre as causas apontadas para não conseguir se desligar do trabalho, destacam-se a necessidade de ficar de prontidão (26%), precisar desenvolver alguma atividade de trabalho por meio de internet ou celular (8%) e querer aprender algo novo sobre o próprio trabalho (7,2%).
"O uso do e-mail no celular influencia esse tipo de vício. O trabalho que ficava restrito ao expediente agora toma conta da vida 24 horas por dia. Todos viram escravos e reféns da tecnologia que, ao invés de servir, domina", afirma Marcia Luz, psicóloga, especialista em comportamento e em administração de recursos humanos.
A psicóloga aconselha seus pacientes a não levar mais o celular para lugar nenhum, a não ser quando é extremamente necessário, como, por exemplo, quando tem um familiar doente.
A psicanalista Maria de Lurdes fala que nem sempre a dedicação ao trabalho deve ser vista como compulsão. Mas a diferença é grande, já que essa responsabilidade tem hora para terminar e não deve prejudicar outras áreas da vida.
"Quando estamos comprometidos com o trabalho, estabelecemos com ele uma relação que é controlada por nós. Por exemplo: estou trabalhando muito por um tempo porque preciso de dinheiro ou porque tenho de responder a uma demanda temporária no meu emprego. Na compulsão, essa relação se inverte. É como se o trabalho é que determinasse minha necessidade. Então, passo a justificar minha ação, mas não consigo colocar um limite, ainda que eu esteja exaurido", explica.
Para Branca Barão, especialista em comportamento humano, palestrante e autora do livro "8 ou 80 - Seu Melhor Amigo e Seu Pior Inimigo Moram Aí, Dentro de Você!" (Editora DVS), a origem do vício, muitas vezes, pode ter a ver com insegurança e ansiedade de que as coisas saiam sempre como planejado.
"Não conseguir se desligar pode fazer com que você esteja com a cabeça no trabalho e se sentindo culpado pela falta de cuidado consigo mesmo por não se dedicar à família. É preciso estar presente verdadeiramente naquilo que nos propomos, assim não nos sentiremos mal em relação ao que devíamos ter feito nem ansiosos com aquilo que precisamos fazer", afirma Branca Barão.
O mau planejamento de vida, das prioridades e do tempo também pode estar associado ao fato de não conseguir se desligar do trabalho nos momentos de folga. Nesse caso, a solução pode ser traçar uma nova estratégia para escapar dessa rotina, antes que as doenças e o estresse apareçam.
"Encare a vida como uma empresa, com várias áreas para administrar. Uma boa gestão de vida inclui o lazer. É importante dedicar um período do dia para si mesmo. Se conseguir meditar, por exemplo, melhor ainda; se não, apenas respire e preste mais atenção em você", aconselha José Roberto Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
De acordo com a psicóloga Marcia Luz, os momentos de atividade e relaxamento devem ser diretamente proporcionais. "É preciso ter momentos de recolhimento para ter momentos de ação e trabalho. Parar a mente não é luxo, é necessidade. Se isso não acontece, o preço é adoecer", declara.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.