Plásticas exageradas e comportamento imaturo revelam medo desproporcional de envelhecer
Envelhecer é um processo natural do corpo e, se encarado com maturidade, o curso pode ser prazeroso e enriquecedor. No entanto, a dificuldade em aceitar a idade é frequente e, cada vez mais, mulheres saem em busca da “juventude eterna”. No meio da jornada, porém, muitas se perdem ao tentarem atingir padrões estéticos e comportamentais que já não fazem mais sentido.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o Brasil é o segundo país que mais procura procedimentos cirúrgicos desse tipo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em 2011, 700 mil brasileiros fizeram plásticas, sendo 80% mulheres e 60% por motivos estéticos --prótese mamária, lipoaspiração e intervenções na face são as mais procuradas.
Na área dermatológica, o cenário não é diferente. A aplicação de toxina botulínica representou 43% dos procedimentos na área cosmética em 2011, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia. Para Carolina Maçon, dermatologista e membro da SBD, é preciso ter parcimônia na hora de tentar reverter os efeitos da idade.
“Hoje em dia, por causa do culto à beleza e do Photoshop, as pessoas vêm ao dermatologista em busca de coisas impossíveis. Existem muitos recursos para rejuvenescer, mas não tem como transformar uma pessoa 60 anos em uma de 20”, afirma Carolina. “O que eu costumo falar é que o ideal é envelhecer com dignidade, pois é possível ter 50 ou 60 anos e ter uma pele bonita e uma aparência jovem, mas tudo tem um limite. Cabe ao médico impor essa medida, para que a paciente não fique com um aspecto artificial nem com deformidades.”
Medo de envelhecer
Segundo Pedro Paulo Monteiro, mestre em Gerontologia e autor dos livros "O Tempo Não Tem Idade" e "A Beleza do Corpo na Dinâmica do Envelhecer" (Ed. Gutenberg), a dificuldade em aceitar o envelhecimento é mais comum em mulheres. Segundo ele, o sexo feminino valorizara "enormemente" a estética. "Algumas mulheres têm medo de envelhecer, por que acreditam que ficarão feias, isoladas e sem atrativos. Isso não é verdade, pois existem várias pessoas que só começaram a ser felizes na velhice."
Para o estudioso, a nossa cultura é bem mais cruel com as mulheres do que com os homens, fator que também dificulta a chegada da idade para algumas pessoas. “Um homem pode ter cabelos brancos e até é elogiado; uma mulher precisa de coragem para assumi-los”, diz Monteiro. Para o especialista, o ponto principal para quem deseja passar pela nova fase da vida com tranquilidade é a maturidade.
“Quando as mulheres mais velhas assumem que não são mais jovens, se tornam donas de si mesmas. Percebem que o tempo é individual, que ninguém envelhece no mesmo tempo. Mas é comum ver mulheres com mais de 70 anos que ainda não conseguiram ainda alcançar essa maturidade, pois ser maduro é assumir quem você é”, argumenta
Como lidar com a mudança?
Para algumas mulheres, entrar em contato com as transformações do corpo, que pode deixar de ser um objeto de desejo nos moldes padrão, pode ser devastador, explica a psicanalista Dorli Kamkhagi. “Ocorre uma extrema necessidade de negar o momento e uma inadequação muito grande frente à própria idade. Assim, elas passam a buscar uma série de intervenções e procedimentos estéticos e surge uma vontade de se comportar como uma jovem, o que leva a uma vivência, às vezes, totalmente inconsequente e de desequilíbrio.”
A especialista afirma que é importante que as mulheres se olhem de verdade. "Elas devem perceber que desenvolveram uma trajetória e que sempre podem ser belas e desejáveis. Não é somente o olhar do mundo e da sociedade que importa, é também o nosso olhar”. Para ela, a mulher não deve deixar a vaidade de lado com a maturidade, mas, sim, aceitar a nova beleza, que tem uma história, na qual as marcas nem sempre podem ou devem ser apagadas. “O cuidado com a aparência é muito importante, assim como vontade de se manter jovial, o que é totalmente diferente desta desenfreada busca por um tempo que não existe mais."
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