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Mais pragmático que criativo, Verão 2011 do Fashion Rio endossa período de entressafra na moda

CAROLINA VASONE

Enviada especial ao Rio

04/06/2010 00h01

Teve um bocado de decote de ombro só (parecido com o da foto do meio, logo abaixo). Cintura marcada e saia rodada. Saias e shorts curtíssimos. Plissados, babados, bordados. Tom de pele (ou “nude”) combinado ou em contraposição a cores vibrantes, com destaque para o amarelo limão. Não chega a ser uma repetição do que o que já está nas lojas. Mas não causa surpresa a moda do próximo Verão 2011 desfilada no Fashion Rio, até a última terça (1/6).

  • Montagem/UOL

    Looks de Têca, Juliana Jabour e Andrea Marques para o Verão 2011

Mais pragmáticas que criativas, as coleções apresentadas no evento carioca para a próxima estação apostaram em um design de moda seguro, baseado mais no que os consumidores já desejam que naquilo que nem imaginam existir, mas que adorariam conhecer.

Corretos como há muito não se via, os desfiles da temporada carioca (a segunda dirigida por Paulo Borges, do SPFW), no geral, refletem um comportamento mundial, num período que parece de entressafra de inovação fashion, de um retorno à roupa da vida real, não do sonho, mais bonita que ousada. E que, certamente, vende muito mais. Grandes grifes lançadoras de tendência optaram por este caminho, como a Louis Vuitton e a Prada em suas últimas coleções. Comportamento de instinto de "preservação da espécie" diante das consequências da crise financeira mundial, ainda sentida em muitos países da Europa e nos EUA.

Sim, nós temos (as nossas) bananas

E por falar em influência internacional, a "correção" dos desfiles diz muito respeito ao bom comportamento da maior parte das grifes, que procurou desenvolver uma proposta de moda em vez de copiá-la. Claro, hoje m dia quase todo mundo contrata os mesmos bureaus de estilo (escritórios que fazem pesquisa de tendências comportamental e de moda pelo mundo), então os anos 50 da cintura marcada e das saias godês na altura da canela, propostos primeiro pela Louis Vuitton, estavam lá. Nada que mereça tom de denúncia. 

Se a maioria não copiou mas também não chegou a revolucionar comportamentos de moda vigentes, três jovens grifes receberam aplausos entusiasmados dos fashionistas pelo trabalho ao mesmo tempo fortemente autoral e possível comercialmente. Em comum, os estilistas Maxime Perelmuter, Lucas Nascimento e Melk Z-da têm uma personalidade forte e identificável de estilo que enche suas roupas de significado.

No caso da British Colony, de Maxime, é a mistura "cool" de alfaitaria com modelagem de traços geométricos com uma despretensão despojada genuinamente carioca que chama a atenção. Já Lucas Nascimento, brasileiro que fez carreira em Londres, onde mora, acredita no tricô - no inverno e no verão - como o veículo de seu trabalho elegante, sensual e cuidadoso nos detalhes contemporâneos de modelagem e na escolha de cartela de cores. Por último, o pernambucano Melk Z-da, o mais conceitual do trio, é do tipo de criador que consegue usar técnica essencialmente artesanal, se inspirar em uma temática regional (as festas populares do Nordeste) e ficar a quilômetros de qualquer lugar-comum em coleção de construção complexa.

  • Montagem/UOL

    Looks de British Colony, Lucas Nascimento e Melk Z-da para o Verão 2011

 A Prada da moda praia

Com vocação para a moda praia mas apenas quatro desfiles do gênero, o Fashion Rio - que deve ser, segundo Paulo Borges, todo voltado para este segmento a partir de 2011 - , equilibrou a seleção com duas grifes estilo "iate", para mulheres que querem fazer o gênero "jet setter", com a Lenny e a estreante Triya, e duas conhecidas das areias cariocas, criadoras de peças que viram febre entre as cocotas do Rio - a Blue Man e a Salinas.

Em todos os casos, nesse estilo, o Brasil parece não temer os riscos e faz questão de ficar à frente no lançamento de tendências. Como bem definiu a consultora Gloria Kalil, só há agora moda praia "com emoção". Isso se traduz em peças sempre elaboradas, com texturas, recortes e materiais inusitados, do chamois (um tipo de couro) na Lenny aos vazados da Triya.

Modelagem repetida em muitas estaçõs passadas, o maiô "engana-mamãe", cavado na lateral da cintura, parece ter sido caso de influência da moda praia que ultrapassou até os limites das areias e balneários de luxo. Nesta estação, muitos vestidos e blusas apareceram com este recorte, o que mostra o alcance que uma peça tão pequena pode ter. Em tempos de contenção criativa, sorte do Brasil.  
 

  • Montagem/UOL

    Maiôs da Triya e Salinas estão entre os melhores do Fashion Rio