Fotógrafo no centro de escândalo do Nobel é indiciado por estupro
Jean-Claude Arnault, cuja mulher é membro da Academia Sueca, é alvo de duas acusações de agressão sexual e pode ser condenado a seis anos de prisão. Francês foi um dos pivôs do adiamento do Nobel de Literatura.O fotógrafo francês Jean-Claude Arnault, alvo de acusações de assédio sexual e figura central no escândalo que levou ao adiamento do Prêmio Nobel de Literatura de 2018, foi indiciado nesta terça-feira (12/06) pelas autoridades da Suécia em dois casos de estupro.
Se for considerado culpado pelos crimes, que datam de 2011 e envolvem uma mesma vítima, Arnault pode ser condenado a até seis anos de prisão. Ele nega as acusações. Ainda não há data para o julgamento.
Segundo afirmou a promotora sueca Christina Voigt nesta terça-feira, as "evidências são fortes o suficiente" para dar continuidade ao processo. Ao longo dos últimos seis meses, os investigadores fizeram uma série de entrevistas com a vítima, com testemunhas e com o próprio Arnault.
O fotógrafo francês, que dirigia o Forum, um espaço cultural em Estocolmo, foi acusado pela vítima de tê-la estuprado pela primeira vez em outubro de 2011, e novamente em dezembro do mesmo ano. "Em um dos casos houve violência, e no outro ela estava dormindo", disse Voigt.
Arnault, que é casado com a escritora sueca Katarina Frostenson – membro da Academia Sueca –, é um dos nomes mais influentes na cena cultural do país escandinavo, também em decorrência de seu casamento com a poetisa e dramaturga, ela própria alvo de uma série de outras acusações.
Em entrevista ao jornal sueco Expressen, o advogado de Arnault, Björn Hurtig, afirmou que seu cliente está "perturbado e resignado". "Ele diz que isso está totalmente errado e que é completamente inocente das alegações", defende.
As acusações de assédio sexual contra Arnault vieram à tona em novembro do ano passado, quando 18 mulheres afirmaram ao jornal sueco Dagens Nyheter terem sido assediadas pelo fotógrafo.
Muitos dos abusos teriam ocorrido no Forum, cofinanciado pela Academia Sueca, mas também em apartamentos em Estocolmo e Paris, que foram disponibilizados a ele pela organização responsável pelos prêmios Nobel.
Arnault teria usado suas ligações com a instituição para pressionar as vítimas, entre as quais estariam aspirantes a escritoras e ex-funcionárias de seu clube de arte comercial particular.
Adiamento em meio a escândalos
Após as alegações de assédio sexual, além de escândalos de crimes financeiros envolvendo tanto Arnault como sua mulher, Frostenson, a Academia Sueca decidiu, em maio, que o Prêmio Nobel de Literatura não será concedido em 2018, sendo entregue somente em 2019.
A justificativa foi de que a academia não está em condições de escolher um vencedor em meio às recentes polêmicas. "Achamos necessário dar um tempo para recuperar a confiança da opinião pública antes que o próximo laureado possa ser anunciado", disse a organização na época.
Frostenson foi alvo de várias acusações, inclusive de corrupção, e deveria ter sido excluída da Academia Sueca em uma reunião no começo de abril, mas foi mantida no órgão. No mesmo mês, três de seus colegas renunciaram ao posto de membro da academia, também em meio a alegações de corrupção, assédio sexual e quebra de confidencialidade.
Uma das acusações contra Frostenson – que, como membro da Academia Sueca, tem poder de voto na concessão do Nobel de Literatura – é a de que teria violado a regra de confidencialidade ao revelar ao marido os nomes dos futuros ganhadores do prêmio literário. Arnault é acusado de ter vazado alguns desses nomes, o que ele nega.
Além disso, descobriu-se que a escritora de 65 anos era sócia do clube de arte do marido. A instituição recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, permitindo assim que, na prática, ela decidisse sobre doações a si mesma.
No próprio clube, também teriam sido cometidos delitos, tal como a distribuição ilegal de bebidas alcoólicas e fraude fiscal. Um escritório de advocacia a serviço da academia chegou a propor que o clube fosse formalmente denunciado.
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