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Meninas com rara chance de estudar sob o domínio Talibã se atrevem a sonhar

Mulheres afegãs seguram cartazes durante um protesto pelos direitos das mulheres em Cabul em 21 de outubro de 2021. Talibã reprimiu violentamente a cobertura da mídia - BULENT KILIC / AFP
Mulheres afegãs seguram cartazes durante um protesto pelos direitos das mulheres em Cabul em 21 de outubro de 2021. Talibã reprimiu violentamente a cobertura da mídia Imagem: BULENT KILIC / AFP

07/12/2021 08h54

Quando os talibãs assumiram o controle da cidade de Nawabad, na região central do Afeganistão, as aulas continuaram na escola local no Ensino Médio para meninas, uma exceção na comparação com a maior parte do país, onde as adolescentes foram impedidas de prosseguir com os estudos.

O centro de ensino permaneceu em funcionamento porque é administrado por uma ONG, o que reflete as contradições no país com as regras implementadas pelo novo governo.

"Os talibãs vieram e viram as estudantes e as aulas. Eles ficaram felizes porque todas usavam o hijab", afirmou à AFP uma das professoras, Forozan.

Desde seu retorno ao poder em agosto, os talibãs anunciaram restrições severas às mulheres, apesar das promessas de um regime com menos brutalidade que o de seu mandato anterior (1996-2001).

Em algumas províncias, as autoridades locais talibãs foram convencidas a reabrir as escolas, mas milhões de meninas continuam marginalizadas.

Em Nawabad, a escola é administrada pelo Comitê Sueco para o Afeganistão (SCA), uma organização presente no país há quatro décadas.

A localidade fica na província de Ghazni, controlada pelos talibãs durante muito tempo e onde a educação feminina é tolerada de maneira geral.

- Sonhos universitários -Em Langar, outra localidade do distrito, a única turma para adolescentes e mulheres jovens de outro projeto administrado pelo SCA também prossegue com aulas.

"Quando os talibãs tomaram Cabul, não tínhamos nenhuma esperança de que deixariam a escola continuar", disse Mahida, de 18 anos.

Sua turma é formada por mulheres de 18 a 26 anos, que se preparam para exames de fim de ano.

"Estávamos com medo de frequentar a escola. Não podíamos sair de casa devido à guerra", conta Mahida.

Todas as jovens de Langar esperam continuar com os estudos para virar professoras, médicas ou engenheira. Mas ainda não sabem se poderão fazer as provas de acesso à universidade.

Mesmo antes do retorno dos talibãs, muitas jovens da província de Ghazni estavam privadas das aulas do Ensino Médio em consequência da distância, da pobreza, do conflito e dos casamentos precoces.

No vilarejo remoto de Jangalak, Zahra, de 19 anos e que sonha em ser engenheira, comparece a uma aula do SCA para estudantes com lacunas na educação.

Os talibãs aprovaram as turmas, mas a aula de orgulho cívico e patriotismo foi substituída por educação religiosa.

"Vejo os talibãs todos os dias quando vou para a aula" explica Zahra. "Eles não têm problemas conosco", afirma.

Porém, no mesmo prédio, outras alunas que antes frequentavam aulas administradas pelo Estado ficaram retidas em casa desde a mudança de poder.

- Desigualdade -Dados de 2016 do ministério da Educação mostraram que menos de 20% das mulheres sabiam ler e escrever no Afeganistão, contra mais de 60% do homens.

O secretário adjunto de Cultura da província de Ghazni tenta justificar a suspensão das aulas.

"Precisamos encontrar dinheiro para pagar os salários dos professores", declarou à AFP Mansoor Afghan.

E os currículos escolares também devem ser avaliados para sabe se são "bons ou ruins" e mais professores devem ser contratados, completa.

O porta-voz talibã Suhail Shaheen declarou à AFP que espera o retorno das alunas nos próximos meses.

Mesmo com a volta às aulas, os próximos passos sonhados pelas estudantes de Langar e Nawabad, universidade e carreira, parecem fora de alcance.

Desde agosto, as mulheres foram amplamente vetadas de trabalhar fora das áreas da educação e saúde.

Muitos expressam ceticismo com as promessas dos talibãs, que foram particularmente brutais com as mulheres durante seu primeiro mandato.

A esperança é que, em seu esforço para tentar obter apoio internacional e recuperar a ajuda financeira, os fundamentalistas façam concessões.

"Esperamos que reabram as universidades e que, quando terminarmos o Ensino Médio, consigamos frequentar sem problema", afirmou Shafiqa, de 17 anos, sentada na primeira fila da aula de Nawabad e que deseja estudar Medicina.