Topo

Mulheres defendem seus direitos no Afeganistão

AFP Press

22/09/2021 12h13

Aos poucos, o Talibã exclui as mulheres da vida pública no Afeganistão, mas algumas estão decididas a se manifestarem, apesar das represálias do movimento fundamentalista islâmico.

No mandato anterior, de 1996 a 2001, os talibãs ganharam fama por esmagarem os direitos das mulheres, que eram proibidas de estudar ou trabalhar e só podiam sair de casa na companhia de um homem.

De volta ao poder, prometeram mudar e afirmaram que respeitariam os direitos das mulheres de acordo com a lei islâmica, promessas que, no entanto, despertaram dúvidas.

Em Cabul, a cidade que mais mudou nos últimos 20 anos, algumas jovens, como a ativista Shaqaiq Hakimi, se recusam a passar pelo exílio forçado após o retorno ao poder do regime talibã.

"Quero lutar e recuperar os direitos que nos foram tirados. Não precisamos ir para outro país. Esta é a nossa casa", disse à AFP.

"Se eles não nos obrigarem a sair, não iremos a lugar nenhum".

O Talibã garante que as restrições ao retorno das mulheres ao trabalho ou ao ensino médio serão suspensas assim que os novos sistemas forem colocados em prática.

Mas essas medidas lembram os primeiros dias de seu primeiro governo, quando as mulheres nunca mais foram autorizadas a exercer sua profissão ou a retornar às salas de aula.

Farkhunda Zahidbaig, de 21 anos e funcionária de uma ONG, contou que o Talibã entrou em seu escritório e disse aos chefes que as mulheres deveriam voltar para casa e parar de trabalhar.

"Depois disso, nosso chefe tomou a decisão de que o resto de nós não deveria voltar para o escritório".

"As mulheres querem ter uma profissão, mas [...] não podem continuar em seus empregos. O Talibã retirou sua liberdade de trabalhar", garante.

- "Medo" -Shabana, uma afegã de 26 anos que deseja permanecer anônima, disse que tem medo de nunca encontrar trabalho novamente.

Sem emprego, não será capaz de atender às necessidades de seus entes queridos.

"Estou muito preocupada porque eu sou a única que sustento a minha família", afirma a mulher, ex-funcionária de uma organização sueca.

As vitórias conquistadas pelas mulheres durante os 20 anos de governos apoiados pelo Ocidente foram praticamente limitadas às cidades deste país profundamente conservador. Agora, o Talibã tem sido duramente criticado por desfazê-las.

Diante das críticas, o movimento disse na terça-feira que permitiria que as meninas voltassem à escola "o mais rápido possível", mas não forneceu um cronograma.

Seu governo, composto apenas por homens, também fechou o ministério dedicado aos assuntos da mulher da gestão anterior e o substituiu por outro que ganhou notoriedade durante seu primeiro governo, com o objetivo de reforçar a doutrina religiosa.

À preocupação que as mulheres sentem por terem perdido o emprego, soma-se o medo de muitas delas saírem sozinhas de casa.

"Temos medo de sair na rua e que os talibãs nos chicoteiem ou nos espanquem", admitiu Shabana, que se locomovia por Cabul com seu pai.

"Não podemos nem ir à feira sozinhas", acrescentou.

Enquanto isso, Hakimi disse que vai esperar para ver se o Talibã cumpre sua promessa e se as mulheres afegãs voltarão a trabalhar ou estudar.

"Eu só espero que o façam".

Aos poucos, o Talibã exclui as mulheres da vida pública no Afeganistão, mas algumas estão decididas a se manifestarem, apesar das represálias do movimento fundamentalista islâmico