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"Solteiros parasitas", por que os jovens japoneses não se casam?

Reprodução/Facebook/PatyaDesign
Imagem: Reprodução/Facebook/PatyaDesign

06/12/2019 11h32

Dezenas de jovens bem vestidos se movem estranhamente pelas mesas da sala de conferências, trocando algumas palavras e o currículo, na tentativa de encontrar um parceiro, muitos acompanhados pelos pais.

Uma mulher de 38 anos que prefere não revelar sua identidade diz que "não teve coragem" de encontrar um marido e deixou a casa de sua mãe, que a acompanhou a esta feira para encontrar um parceiro.

"Não tive muitas ocasiões para encontrar alguém", explica. "No meu trabalho, existem muitas mulheres, mas poucos homens".

Cerca de 25% dos japoneses com entre 20 e 49 anos são solteiros, segundo dados oficiais.

Embora as pessoas dessa idade expressem seu desejo de se casar, comportamentos sociais antiquados e a crescente pressão econômica tornam cada vez mais difícil, dizem os especialistas.

O professor de Sociologia Masahiro Yamada, da Universidade de Chuo de Tóquio, declarou à AFP que é normal pessoas solteiras viverem com seus pais até que se casem, para que tenham menos pressão para encontrar um parceiro.

"Acham que ter um relacionamento com alguém que não atende aos seus requisitos é uma perda de tempo" e podem esperar até encontrar algo melhor. Essas pessoas são descritas como "solteiros parasitas".

Embora a segurança financeira de longo prazo seja considerada importante, a dificuldade de encontrar moradia a preço razoável é mais um incentivo para continuar morando com mamãe e papai, diz.

Um senhor de 74 anos que veio a essa reunião para encontrar uma namorada para seu filho de 46 anos aponta para outro problema: a crescente timidez.

"Meu filho é vendedor. É bom com os clientes, mas é muito tímido quando se trata de mulheres", afirma o pai. Por que seu filho não procura alguém sozinho? Porque está muito ocupado no trabalho.

Japão viciado no trabalho

O mesmo pai diz que a filha mais velha é casada, mas a caçula, uma médica que mora nos Estados Unidos, continua solteira aos 34 anos.

Ele reconhece que se preocupa com ela, "já que ouvi dizer que é difícil para as médicas encontrarem um parceiro".

Shigeki Matsuda, professor de sociologia da Universidade de Chukyo, no Japão central, explica a queda no número de casamentos no país por um fenômeno conhecido como "hipergamia".

"As japonesas tendem a procurar homens com emprego estável e nível educacional" mais alto que o delas, aponta.

O que parece confirmar essa feira. Uma pequena fila de mulheres se formou para trocar informações com um homem com a maior renda do grupo.

"O grande número de solteiros não mudará até que as mulheres aceitem a ideia de se casar com um homem com renda mais baixa do que elas", diz Yamada.

Até agora, muitas pessoas encontravam seus futuros cônjuges no local de trabalho, mas o aumento da insegurança no emprego não ajuda.

Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão reconstruiu sua economia basicamente graças às grandes empresas que oferecem trabalho ao longo da vida a funcionários ultradedicados, mas o modelo está mudando rapidamente e a segurança do emprego se deteriora.

Desde o início dos anos 90, a proporção de trabalhadores temporários aumentou de 15% para 40%, segundo estatísticas do ministério do Trabalho.

Foco no amor

"A queda na renda e o aumento de empregos altamente instáveis - com o medo de serem demitidos a qualquer momento - não ajudam as pessoas a pensar em se casar e formar uma família", diz Shuchiro Sekine, diretor de um sindicato que representa trabalhadores temporários.

Embora esses trabalhadores pensem em encontrar uma parceira, o aumento da insegurança no emprego e salários mais baixos reduzem as chances de conseguir isso.

Seis em cada 10 homens com entre 30 e 34 anos com um emprego bem remunerado estavam casados em 2017, de acordo com um estudo do governo publicado este ano, enquanto apenas 22% dos homens com emprego temporário da mesma idade tinham esposa.

Os participantes desta feira têm sorte, afirma Sekine à AFP. "Aqueles com renda mais baixa nem pensam em vir".

Apesar das barreiras, esse tipo de evento ajuda? Shoji Wakisaka, diretor da associação que organiza o encontro, diz que não há dados definitivos, mas que há algum sucesso, embora limitado.

"Em média, cerca de 2% dos participantes encontram um parceiro".

A consultora de casamentos da feira, Noriko Miyagoshi, pede que os participantes se esqueçam do dinheiro e se concentrem nas flechas do Cupido.

"Você não deve impor muitas condições", diz aos participantes. "Espero que escolha a pessoa com quem realmente sente que pode se dar bem."