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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jennifer Aniston está errada em cortar relação com quem recusa vacina? Não

Jennifer Aniston diz que cortou relações com quem recusou vacina contra Covid-19 -
Jennifer Aniston diz que cortou relações com quem recusou vacina contra Covid-19

Colunista do Universa

05/08/2021 04h00

Manter amizade com quem pensa muito diferente da gente não é fácil. Mas é um exercício importante. É legal ter amigos que pensam diferente de você politicamente, tem outro gosto musical e outras prioridades. Tudo bem ter um amigo que bebe muito ou que usa drogas quando você não o faz. Tudo isso é liberdade individual. Agora, o que fazer com quem se recusa a tomar vacina?

A atriz Jennifer Aniston revelou como está lidando com esse dilema pandêmico: cortando da vida. " Acabei de perder algumas pessoas que faziam parte do meu dia a dia que se recusaram ou não revelaram se foram vacinadas ou não, e foi lamentável". Ela ainda disse que as pessoas devem informar claramente se são vacinadas ou não.

"Sinto que é sua obrigação moral e profissional informar se foi vacinado ou não", em entrevista à Revista InStyle americana.

Detalhe importante: nos Estados Unidos, onde Jennifer mora, mais de 15% da população não quer se vacinar de jeito algum (segundo pesquisa publicada no jornal New York Times), apesar de a oferta lá ser enorme e as vacinas estarem disponíveis para todos sem dificuldades.

Jennifer está errada?

Não acho. Apesar de ela ter sido mega criticada por sua declaração (e aplaudida por outros, o que mostra o quanto essa decisão é difícil).

Concordo com Jennifer: tomar vacina não é uma só uma escolha pessoal. É uma decisão que afeta todo mundo. Os especialistas dizem que a pandemia só pode ser controlada quando no mínimo 70% da população estiver vacinada.

Ou seja, quem não se vacina, além de não nos ajudar a sair desse dia da marmota infernal, ainda contribui para que a gente não saia desse pesadelo. E, claro, nós, os orgulhosamente vacinados, corremos mais risco quando entramos em contato com quem não se vacinou, já que as vacinas salvam vidas, mas não protegem 100%.

Os membros da banda Offspring tiveram uma atitude semelhante à de Jennifer: demitiram o baterista, Peter Parada, porque ele disse que não se vacinaria. Nós, que não somos celebridades ou pop stars, não temos essa opção.

Infelizmente, não somos todos privilegiados como Jennifer Aniston ou os integrantes da banda. Não podemos, por exemplo, pedir demissão de um emprego só porque alguns colegas (ou o próprio chefe) se recusam a tomar vacina.

Agora, na nossa vida pessoal? Podemos, sim, escolher se queremos conviver só com vacinados ou não. Se é complicado? Claro que é. Mas estamos passando por uma situação limite. Tudo é complicado e difícil.

Se você tem um amigo que se recusa a tomar vacina, pode conversar com ele, mandar textos, tentar explicar. Ou ficar um bom tempo sem encontrar. E, na verdade, a gente que toma cuidado já não está encontrando quase ninguém mesmo estando vacinado porque sabe que não é só a vacina que protege enquanto o vírus não estiver controlado. Vamos privilegiar quem nos coloca em risco e aumenta nosso tempo em trancado por escolha própria? Vale a pena?

A pandemia já causou uma série de problemas entre amigos. Quem fez quarentena à risca se afastou de quem saía. Nós, que somos certinhos da quarentena, fomos chamados de malucos. Quem saía, de irresponsáveis. Agora, a vacinação é outra prova. Nosso único consolo: 91% da população brasileira, segundo pesquisa feita no início de julho, pretende se vacinar. Pelo jeito, não vamos perder tantos amigos assim.