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Nina Lemos

Alemanha "cancelou" o Natal. E não morremos por causa disso

Pessoas passeiam em frente à Árvore de Natal em praça de Berlim - Sean Gallup/Getty Images
Pessoas passeiam em frente à Árvore de Natal em praça de Berlim Imagem: Sean Gallup/Getty Images

Colunista do UOL

24/12/2020 04h00

A Alemanha é um país cristão e com uma imensa tradição de Natal. No país onde moro há cinco anos, as velas são acesas todos os domingos que antecedem o feriado e as ruas ficam cheias de gente nas famosas feiras de Natal. O consumo nessa época também é enorme.

A Alemanha é também um dos países mais atingidos pela segunda onda do Coronavírus. Por isso, todas as lojas fecharam (com exceção de farmácias, supermercados e livrarias) a dez dias do Natal, bem na hora em que as ruas começaram a lotar de pessoas fazendo compras.

O mais maluco é que tudo aconteceu de uma hora para outra. Em um domingo, ficou decidido por todos os chefes de estado e a chanceler Angela Merkel que entraríamos em lockdown radical na quarta-feira. E assim foi.

Na última sexta-feira, fui até a avenida mais famosa de comércio de Berlim, a Kurfurstendamm . Ali ficam lojas como Adidas, Zara e Benetton e também lojas de luxo, Chanel e Gucci. Todos os anos essa rua fica lotada. Na sexta-feira, tudo estava tão vazio que a avenida parecia o cenário de um filme distópico. Foi assustador pensar que estávamos na véspera do Natal com tudo fechado daquele jeito.

Mas, queria dar uma notícia para vocês. Sabe o que acontece quando o Natal é cancelado e você tem que deixar de fazer todas as compras (antes de quarta-feira as lojas estavam funcionando normalmente com protocolos de segurança)? Não acontece nada.

Claro que é gostoso comprar presentes para quem a gente gosta, passear nas feirinhas, encontrar os amigos nessa época. Mas, nós, seres humanos, somos animais com grande capacidade de adaptação. Também somos animais racionais.

Por isso, a maioria consegue pensar que tudo isso foi cancelado por um motivo muito importante: o número de casos novos nunca foi tão alto (mais de 25 mil por dia aqui) e o número de mortes também é assustador (quarta-feira o número passou de 900). No caso das festas, apenas reunião de no máximo quatro pessoas de duas casas diferentes serão permitidas.

A situação é tão séria que Angela Merkel disse em um discurso que se nada fosse feito esse seria o último Natal de muitos avós. O ministro da Saúde, Jen Spahn, fez uma declaração na mesma linha em uma entrevista: "Se as pessoas ficarem doentes e morrerem, elas nunca mais vão ter Natal".

É direto demais? Nem acho. É a realidade. A gente não pode cometer a imprudência (seja na Alemanha ou no Brasil) de celebrar o Natal este ano normalmente se a gente quiser sair vivo dessa (e quiser que nossos familiares também sobrevivam).

No caso de ficar sem compras ou festas de Natal, sinceramente, você não vai morrer por isso. Pelo contrário. Se você anular o Natal uma vez na vida, só uma, você pode salvar vidas -inclusive a sua.