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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

As empreendedoras do mercado erótico querem que você sinta prazer

Nova geração de brinquedos sexuais está longe de estética realista - Anna Shvets/Pexels
Nova geração de brinquedos sexuais está longe de estética realista Imagem: Anna Shvets/Pexels

Colunista de Universa

20/04/2021 04h00

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Uma das compras mais prazerosas que fiz na pandemia foi um sex toy lindo e roxo, minha cor favorita, com diversas posições e frequências vibratórias. Nada me gerou mais ansiedade do que a chegada do meu novo objeto auxiliar do autoconhecimento.

Eu fui só mais uma das pessoas que fez o mercado de sex shops crescer no país durante a pandemia. O isolamento social aproximou os consumidores ávidos por prazer de um setor em franco crescimento. Nasceram mais empresas e a diversidade de produtos só evolui — vão de lubrificantes e óleos feitos de matérias-primas veganas até acessórios de madeira e cristal.

O que chama a atenção nos números registrados durante o período de março a dezembro de 2020, entretanto, é o aumento da presença feminina no setor. Segundo uma pesquisa realizada pelo Portal Mercado Erótico, de cada dez negócios nascidos durante a quarentena, oito pertencem a mulheres.

São empreendedoras atentas às necessidades das consumidoras — e não pense que a tarefa é simples. Da informação à venda, há um caminho longo a ser percorrido com muitos tabus pelo trajeto. São vários os gargalos encarados até que as mulheres consigam desfrutar, sozinhas ou com seus parceiros e parceiras, de uma boa experiência com brinquedos sexuais.

Por entenderem tal histórico de objetificação e opressão de gênero, há um diferencial importante nos negócios eróticos administrados por elas: as donas também atuam para encurtar o caminho até o prazer por meio da informação, especialmente nas redes sociais.

Luana Lima - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Luana Lima é dona da loja Preta Se Toque, especializada em produtos eróticos
Imagem: Acervo pessoal

A paulistana Luana Lima é uma das que seguem atentas às questões em torno da sexualidade feminina. Ela abriu a sex shop Preta Se Toque (@pretasetoque) em 2020. Era um sonho antigo, mas a oportunidade de transformá-lo em realidade pintou durante a pandemia.

"A loja vem de um impulso, mas conta da minha trajetória de vida. Sou uma menina negra que cresceu fora dos padrões impostos pela sociedade, vendo seu corpo ser estereotipado, mas que tinha muita curiosidade à respeito dele e da própria sexualidade", conta.

Há outros dois pontos importantes no comportamento das consumidoras do segmento erótico. Elas são atraídas pela discrição das compras online, que chegam em casa sem identificação nas embalagens, mas também pela inovação em termos de design. Hoje, os produtos estão cada vez mais esteticamente agradáveis e distantes daquela imagem fálica realista.

"Eu amo os novos vibradores em formato de batom. Gosto dos toys discretos e coloridos. Não quero correr o risco do meu filho encontrar um pênis de borracha no meu quarto. Percebo que os produtos eróticos criados por mulheres me oferecem discrição e isso é decisivo no momento em que escolho um novo brinquedo", me conta Juliana Souza, gerente de recursos humanos, de São Paulo.

"Entendi o quanto os brinquedos sexuais e os cremes me ajudam na descoberta do meu corpo. Eles me permitiram entender o que gosto na hora do sexo e ditar as regras nas relações com meu parceiro", completa ela, que é compradora assídua de acessórios do tipo.

Portanto, para além das oportunidades de negócio, fiquemos também com o ensinamento da empreendedora Luana sobre autoconhecimento. "Vamos nos tocar, nos conhecer. Só conseguiremos criar bons relacionamentos quando entendermos que devemos estar em primeiro lugar - só depois vem a nossa relação com o outro. Não adianta esperarmos que alguém nos conheça sem que façamos isso primeiro", diz.

Divirta-se e goze!