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Opinião

Apresentei um evento da ONU e quero mais mulheres pretas nesse espaço

Fiz parte da maior reunião internacional sobre questões dos direitos das mulheres e igualdade de gênero no mundo. Estou falando da 68ª Sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW), que aconteceu na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, e reuniu lideranças femininas de diferentes países.

Preta, periférica e também internacional. O convite para participação veio do Pacto Global da ONU Rede Brasil, que levou cerca de 150 participantes e contou com nomes como a socióloga e primeira-dama do Brasil Janja da Silva, a deputada federal Benedita da Silva, a ministra das Mulheres do Brasil Cida Gonçalves e outras lideranças empresariais, representantes da sociedade civil, membros da imprensa, autoridades da ONU e autoridades governamentais.

Meu papel foi anunciar, ao lado de Maite Schneider, as empresas com práticas vencedoras na área de Direitos Humanos e Trabalho em um evento paralelo dentro da Comissão, organizado pela Rede Brasil, que teve como missão debater a importância do comprometimento das empresas na defesa dos direitos humanos das mulheres e meninas.

Tarciana Medeiros, presidenta do Banco do Brasil, recebeu o prêmio de Liderança feminina de destaque e o também o de iniciativas de inclusão étnico-racial e equidade de gênero dentro da instituição. Num discurso bastante emocionado, Tarciana traçou a sua trajetória enquanto liderança negra e nordestina para chegar ao topo da instituição que comanda.

Enquanto ouvia a história, pensava no quão grande também havia sido o meu esforço para chegar naquele palco na sede da ONU em Nova York. É muito relevante, não só para mim, mas para uma legião de mulheres que sabem o que é acordar de madrugada para estudar e trabalhar, se deslocar durante mais de 5 horas diárias em transportes públicos lotados, sendo também responsáveis pela economia do cuidado em seus lares e tendo ouvido diversos "nãos" ao longo de toda a jornada.

Eu não sou de fingir costume, e não será nesse texto que fingirei que tudo o que vivi nesta última semana foi algo normal e corriqueiro, pois não foi. Eu conheci mulheres líderes de outros países, cumpri agenda de almoço e jantares de negócios, vivi experiências que quero que muitas outras mulheres negras, periféricas e indígenas possam viver também.

Durante a viagem de avião eu só pensava naquela Cris Guterres que ouviu de recrutadores que não tinha perfil para ser apresentadora, pensava na Cris que ouviu de um homem poderoso que só ocuparia um espaço na televisão se fizesse sexo com os homens certos. Eu lembrei das violências que sofri e que não me permitiram desistir de trilhar um caminho em que a minha inteligência e capacidade fossem reconhecidas no final. Por que a raiva me move, a dor me transforma e a minha conquista é o resultado da luta de meus ancestrais.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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