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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cabe a cada brasileiro combater nossas 2 epidemias, o vírus e o fanatismo

Colunista de Universa

09/03/2021 04h00

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O choro é o primeiro ato de comunicação que nós humanos emitimos ao nascer. Um tapa seco no bumbum e abre-se o berreiro para gritar ao mundo: cheguei!

Embora visto como sinal de saúde e energia para o recém-nascido, o choro é avaliado por muitos como sinal de fraqueza no decorrer na vida. Provavelmente, em algum momento, você deve ter sido orientado a engolir o choro e seguir firme a caminhada, principalmente se você for um homem, pois vulnerabilidade e machismo são termos antagônicos em nossa sociedade.

Na última semana, o presidente Jair Bolsonaro, em mais uma de suas demonstrações de desumanidade para com o momento de angústia e dor que o planeta enfrenta, proferiu a frase: "Chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?"

Os outros não sei, mas eu vou chorar até que me restem lágrimas pelas mais de 260 mil vítimas de coronavírus no país. Pelas mulheres que foram imensamente impactadas por esta crise sem precedentes, pelos recém nascidos de Manaus, por aqueles que perderam o ar. Vou chorar por quem não mais respira e por quem desistiu de amar.

O choro é compaixão, é a externação das dores que nos afligem, é o acolhimento ao outro que sofre. Chora quem ama, quem se preocupa, quem imagina o quanto dói ou sabe quanto custa ver a vida passar num estante sem saber se ainda há tempo bastante.

Chora quem sabe que o ódio não é solução, chora quem se importa, quem sabe o segredo que nos faz humanos, quem não se deixará calar por fanastrões, quem sabe que o choro lava a alma e expõe uma explosão de emoções. Chora quem se importa e esperar que Bolsonaro se importe é acreditar que este governo consegue ir além da articulação de interesses politiqueiros.

Bolsonaro governa para si e para os seus. Nada nem ninguém parece existir além dele e seus filhos. Insiste em agir com palavras jocosas, piadas ofensivas e provocações infantis diante do caos que ele próprio ajudou a agudizar.

Nós estamos chorando demais. Assim como Belchior, estamos chorando pra cachorro. Temos todos os motivos para chorar. Só um ser sem humanidade não consegue demonstrar emoção e simpatia pela dor dos familiares das vítimas de covid-19.

As falas de Bolsonaro demonstram o seu despreparo, sua inaptidão e ingerência. O Brasil só conta com a articulação da sociedade civil para sair desta crise. Está nas mãos de cada brasileiro combater as duas epidemias que assolam o país, o coronavírus e o fanatismo.