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Vítima de golpe do reconhecimento facial, ela reverteu rombo de R$ 90 mil

Camilla Gomes de Araújo, vítima de golpe de reconhecimento facial - Arquivo pessoal
Camilla Gomes de Araújo, vítima de golpe de reconhecimento facial Imagem: Arquivo pessoal

Rebecca Vettore

Colaboração para Tilt, em São Paulo

25/04/2023 04h00

A entrega de um suposto presente em nome de uma floricultura por pouco não fez Camilla Gomes de Araújo, 30, perder R$ 90 mil. Tudo foi combinado via WhatsApp. Já na porta da residência da publicitária, em São Paulo, o entregador informou que faria o reconhecimento facial (padrão de segurança usado para autenticar operações financeiras) dela para confirmar a entrega.

E ela assim o fez. "Como faltavam poucas semanas para o meu aniversário, acreditei na conversa. Eles já tinham meu endereço e nome completo, e perguntaram se poderiam entregar o presente na minha casa de tarde, confirmei", conta ela a Tilt.

O que Camilla não sabia era que o telefone do golpista escondia na tela a etapa final de contratação de um financiamento de veículo no valor dos R$ 90 mil. O rosto serviu para autorizar a transação.

A Tilt, ela contou mais detalhes do que passou:

"Em uma manhã de setembro de 2021 recebi uma mensagem no WhatsApp de uma suposta floricultura falando que tinha um presente para mim.

Foto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mensagem no whatsapp do golpista
Imagem: Arquivo pessoal

O motoboy chegou com uma sacola, que não dava para ver direito o que tinha dentro, até pensei que era pequena para caber flores, mas aceitei. Na sequência o entregador falou que, para confirmar a entrega, tinha que fazer reconhecimento facial. Na hora nem passou pela minha cabeça que poderia ser golpe, só achei que era um novo procedimento.

Ele tentou tirar a foto [do rosto de Camilla] três vezes até dar certo, e ir embora. Na hora até reparei que tinha uma fita preta na metade do celular dele. O próprio entregador se justificou falando que o aparelho estava rachado. Mas na verdade estava cobrindo meus dados de um financiamento de veículos aberto no banco que eu possuo conta.

Voltei para casa e como fui direto para uma reunião, nem abri o presente. Depois do término, abri a caixa pequenininha e tinha três amostras de perfume da Jequiti. Na hora achei que era o meu namorado e até liguei para confirmar, mas ele não tinha enviado nada. Quando contei a história toda, foi levantada a suspeita que poderia ser um golpe. Quando fiz uma busca rápida, achei no Google uma história bem parecida com a minha."

Mais uma vítima

A história que a publicitária achou foi de Piero Rossi, também morador da capital paulista. Assim como ela, o publicitário recebeu um presente em sua casa de uma suposta floricultura, cujo entregador também disse que precisava fazer o reconhecimento facial para confirmar o recebimento.

Na época, o rosto de Piero foi usado para autorizar o financiamento de um automóvel de cerca de R$ 200 mil.

Depois de achar o caso do Piero, a publicitária ligou para instituição financeira envolvida, alertou o gerente que não tinha feito o financiamento e que nada deveria ser liberado em seu nome. Para garantir, a paulista fez um boletim de ocorrência.

"Dois dias depois da ação, no final da tarde, recebi um SMS do meu banco me parabenizando pelo financiamento do meu carro. Por conta do horário não consegui mais falar com meu gerente, mas liguei na central do Itaú e abri um chamado com o atendente do banco", lembra ela.

"Ele me tranquilizou dizendo que eu não arcaria com nada e que o banco ia resolver. Após duas semanas, o banco cancelou a compra", acrescenta.

Floricultura também é alvo de golpistas

Em suas pesquisas, Camilla descobriu que a floricultura usada pelos golpistas não existia em São Paulo. Ao ligar na Flores & Cia (nome informado na conversa pelo WhatsApp), descobriu que existe um estabelecimento com o mesmo nome em Nova Alvorada, Mato Grosso do Sul.

A reportagem de Tilt, Arlei Silva Barbosa, um dos proprietários dessa floricultura, disse que recebeu pelo menos cinco chamadas em 2021 de pessoas perguntando se eles faziam entregas em São Paulo.

"Perguntavam também se a gente entregava perfume. Depois de receber mais de uma ligação, desconfiamos de que alguém estava aplicando um golpe. Por isso, a gente passou a só conversar o básico, porque não sabia se era a vítima ou golpista que estava ligando, e já orientava a pessoa a entrar em contato com a polícia", afirmou Barbosa.

Como se proteger

A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), por meio de sua assessoria de imprensa, informou à reportagem que eles estão empenhados no combate de todas as modalidades criminosas, incluindo o estelionato - independentemente do meio em que aconteça.

Em casos como o da Camilla, a orientação do órgão de segurança é:

  • Faça um boletim de ocorrência online ou na delegacia mais próxima.
  • Se houver necessidade, entre também em contato com a Divisão de Crimes Cibernéticos do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

No caso do estelionato, a representação criminal por parte da vítima é necessária, conforme determina a lei.

A Polícia Civil possui uma cartilha com recomendações e orientações a respeito de golpes. Veja algumas das dicas:

  • Nunca informe dados de seus cartões ou de sistemas que permitam acesso a redes sociais;
  • Jamais repasse informações por internet ou telefone sem confirmar se está falando com um canal oficial da empresa. Qualquer dúvida entre em contato com o serviço de atendimento ao cliente ou pessoa de sua confiança.
  • Em caso de golpe, guarde as provas dos crimes praticados;
  • Anote o(s) número(s) de telefone do golpista/agressor;
  • Salve print das telas da conversa com o golpista/agressor.
Para orientação ou situação emergencial, fale com a Polícia Militar ao se deparar com uma viatura ou a acione pelo 190.