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IAs capazes de criar devem beneficiar saúde e área jurídica, diz Amy Webb

Futurista Amy Webb - Elena Seibert/Divulgação
Futurista Amy Webb Imagem: Elena Seibert/Divulgação

Aurélio Araújo

Colaboração com Tilt, de São Paulo

14/03/2023 13h16

A década que vivemos ficará marcada pelo avanço de sistemas com inteligência artificial capazes de criar coisas. Tecnologias do tipo poderão beneficiar áreas jurídicas e da medicina. Essa é uma das previsões feitas pela futurista americana Amy Webb, famosa por detalhar tendências para o setor tecnológico.

O relatório "Tech Trends 2023" foi apresentado por Webb em sua palestra no festival de inovações SXSW (South by Southwest), em Austin, nos Estados Unidos, no último final de semana. Além das IAs, o documento traz destaques sobre a futura era da internet: a Web 3.

A profissional costuma dizer que não prevê o futuro, apenas identifica tendências e padrões por meio dos métodos de análise aplicados pelo seu instituto, o Future Today. Abaixo, Tilt separou 5 destaques do que esperar nos próximos anos.

"Se focarmos nossa atenção corretamente, podemos ver o que importa", afirmou Webb na apresentação sobre o desafio maior de enxergar padrões futuros com clareza na era "pós-covid". "Você precisa focar nas convergências, nas interseções entre as tendências, não apenas nos pontos individuais."

1. Evolução das habilidades da IA

Desde novembro do ano passado, a capacidade de sistemas com inteligência artificial simular conversas com humanos não sai do noticiário. Tudo por conta do robô ChatGPT — a empresa desenvolvedora recebeu investimento da Microsoft.

Esse tipo de tecnologia é chamada IA generativa. Ou seja, capaz de criar coisas.

Segundo o "Tech Trends", se nos anos seguintes a 2010 as "IAs de percepção", capazes de identificar sinais como imagens e texto, dominavam o setor, a década atual será marcada pelas "IAs generativas". Hoje, já temos inteligências artificiais geradoras de texto e imagens (caso do Midjourney).

O relatório aposta que, entre 18 e 24 meses, IAs generativas como essas serão usadas em aplicativos cotidianos para consumidores. Além disso, ele prevê que áreas como a jurídica, a financeira, a arquitetura e a saúde devem se beneficiar desses avanços.

Sobre a última, o documento destaca que sistemas do tipo criarão novas proteínas, anticorpos e drogas, enquanto o desenvolvimento de novos modelos químicos e biológicos será acelerado por elas. Portanto, é uma área que deve atrair novos investimentos.

O "Tech Trends 2023" prevê ainda que profissionais talentosos do campo da inteligência artificial devem deixar as grandes empresas, como Google, OpenAI e Meta, para formarem as próprias startups.

2. Web 3: mais segurança e divisão de "poderes"

Embora o termo Web3 já tenha sido considerado por alguns especialistas como uma marca "vazia", o que desacelerou o investimento na sua construção, o "Tech Trends" indica que o conceito está mais vivo do que nunca, e um dos focos agora deve ser na segurança.

Sistemas como o blockchain, base de algumas criptomoedas, devem sair do mundo mais focado em transações financeiras e NFTs para se expandir, garantindo a autenticidade de outros bens e dados.

Outra característica da Web3 é a oferta de uma internet descentralizada, em que as informações não mais estarão concentradas nos grandes bancos de dados das chamadas "Big Techs" (como Apple, Google, Meta, Microsoft entre outras gigantes de tecnologia). E isso pode beneficiar os usuários.

Voltando a mencionar a questão da covid-19, a futurista afirmou que, com a pandemia, como diferentes atividades presenciais passaram a ocorrer de forma virtual, um volume enorme de dados passou a ser gerados e coletados por empresas.

Dados esses que vão desde para onde as crianças olham quando estão encarando a tela do dispositivo até que tipo de música está tocando no fundo. Ou ainda o que você está comendo enquanto acessa a internet.

"Isso é ótimo para empresas como a OpenAI, que puderam refinar seus modelos de computador usando aprendizado de reforço, aprendendo com feedback humano [dado em sites de maneira voluntária]. Mas quem é o real beneficiário aqui? Porque uma vez que vocês colocam dados nesses sistemas, meus amigos, vocês não vão tirá-los", ressaltou.

Outra previsão é de que a nova rede irá mudar o formato com que as pessoas fazem buscas: "e se, no futuro, em vez de você buscar na internet, a internet na verdade estar buscando você?", tentou resumir Webb durante o festival SXSW.

"Pensemos na busca. Se a primeira versão da busca eram hyperlinks azuis, e a segunda versão eram gráficos mostrando a você imagens e vídeos, a terceira versão será algo completamente diferente", disse.

"É algo mais próximo da conversação humana, ou apenas a transferência humana de informação e o compartilhamento de conhecimento", acrescentou.

3. Metaverso: é o futuro, mas tenha calma

O metaverso e a promessa de revolução esfriaram nos últimos meses. Contudo, o relatório demonstra que esses mundos virtuais deverão ser pensados ainda a longo prazo. O "segredo" enquanto isso é ver a ideia da tecnologia com cautela. Ao menos, por enquanto.

"Tudo que envolve tecnologias espaciais e imersivas está em desenvolvimento e em disputa", diz o documento. Mesmo assim, há uma expansão contínua de experiências mais imersivas.

A previsão é de que, de forma geral, a criação de avatares para representar pessoas em universos virtuais será múltipla. Ou seja, você não terá um único avatar no metaverso, mas vários, cada um com um objetivo específico.

"Isso levará à fragmentação, e a uma lacuna cada vez maior entre quem uma pessoa é no mundo físico e em quem ela se projeta para estar em várias plataformas", aprofunda o documento.

Por isso, o texto ressalta que o aumento da presença humana em espaços virtuais exige mais debates sobre limites éticos no uso da tecnologia.

4. Séries mais personalizadas e artes holográficas

Se você acha que o conteúdo de plataformas de streaming já é bastante nichado, havendo menos espaço para grandes filmes ou séries que muita gente vê, prepare-se: a tendência é um aumento significativo de experiências do tipo, segundo o relatório prevê.

O "Tech Trends" destaca que as histórias devem ser ainda mais personalizadas, o que ocorreria pela criação de produtos que não seriam mais lineares e finitos. Assim, cada pessoa terá uma experiência diferente com o conteúdo que consome.

Grupos que tenham características em comum, por exemplo, poderão fazer financiamento coletivo para decidir o que acontece com a história que estão assistindo, tornando as preferências do espectador ainda mais centrais para o desenvolvimento de narrativas.

Na arte, o "Tech Trends" indica ainda que projeções holográficas, cada vez mais presentes em indústrias como a da música, por exemplo, permitirão que shows e eventos ao vivo ocorram em mais de um lugar ao mesmo tempo.

5. Corrida espacial acirrada e mais lixo

A expansão das viagens espaciais privadas, segundo o relatório, não deve marcar o afastamento das agências estatais. Pelo contrário: com a exploração do espaço mais acessível, o mercado deve ganhar novos países na corrida espacial.

Aliás, o "Tech Trends" aposta na formação de "blocos espaciais", ou seja, novas alianças que se formarão justamente para disputas visando o espaço.

É uma mudança e tanto se considerarmos o cenário da Guerra Fria, em que as potências como EUA e União Soviética tinham muitas iniciativas de cooperação, apesar de suas contendas na Terra.

O texto destaca, por exemplo, que a China deve buscar novos parceiros a longo prazo nessa área, já que as sanções contra a Rússia afastaram-na da posição de principal aliado espacial chinês.

Por fim, o lixo espacial deve ser um problema a ser combatido nos próximos anos, criando novas oportunidades. Não apenas pela questão sustentável, mas porque o excesso de detritos atrapalha nossa capacidade de deixar a Terra, bem como impacta no funcionamento dos nossos sistemas de comunicação terrestres.