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Crise das big techs: com Dell, demissões em massa chegam a 100 mil pessoas

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Imagem: iStock

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo (SP)

06/02/2023 17h29Atualizada em 07/02/2023 14h32

A Dell, gigante dos computadores, anunciou hoje (6) que vai cortar 6.650 funcionários, ou seja, 5% de sua força de trabalho global. É mais uma big tech a anunciar uma demissão em massa, em um momento de queda de vendas e recessão econômica nos Estados Unidos.

No total, as big techs já cortaram pelo menos 100 mil pessoas nos últimos meses — algumas demissões já foram realizadas e outras estão em curso.

A crise das empresas de tecnologia vem se delineando desde novembro do ano passado e se intensificou em 2023. Em janeiro, só a Amazon, a Alphabet (controladora do Google) e a Microsoft, juntas, mandaram embora 40 mil pessoas.

Confira os 10 maiores "layoffs":

  • Amazon: 18.000
  • Alphabet/Google: 12.000
  • Meta: 11.000
  • Microsoft: 10.000
  • Spotify: 9.800
  • Salesforce: 9.000
  • Dell: 6.650
  • Cisco: 4.100
  • IBM: 3.900
  • Twitter: 3.700
  • SAP (software de gestão): 2.800
  • PayPal: 2.000
  • Coinbase (criptomoedas): 2.050
  • Wayfare (varejo): 1.750
  • Carvana (carros): 1.500
  • DoorDash (delivery): 1.250
  • Stripe (pagamento): 1.000

Demissões passam dos 250 mil

Se somarmos todas as empresas de tecnologia dos EUA, o número de demitidos entre 2022 e 2023 pode chegar a 255 mil, de acordo com estimativa do site layoffs.fyi, que reúne os cortes no setor desde o início da pandemia de covid-19.

Segundo a plataforma, 1.043 empresas demitiram 159.766 pessoas no ano passado; 2023 mal começou e 297 já dispensaram 94.838 funcionários. Mas mesmo estes números podem ser subestimados.

"O número real é muito maior do que o que está no site, simplesmente porque a maioria das demissões não é relatada. E infelizmente não vejo essa onda de demissões acabando tão cedo", afirmou Roger Lee, criador da plataforma, ao jornal USA Today.

Crise também atinge o Brasil

O site Layoffs Brasil reúne dados de demissões em empresas de tecnologia brasileiras — como Me Poupe!, XP, Buser, C6 Bank e Loggi, que recentemente cortaram algumas centenas de funcionários cada uma.

Desde o começo de 2022 até agora, foram mapeados mais de 6 mil demitidos por cerca de 40 empresas — além dos funcionários das big tech nos escritórios do Brasil que perderam seus empregos.

Por que tantas demissões?

As demissões chegam depois de uma onda de contratações durante a pandemia, quando serviços digitais foram expandidos e o trabalho totalmente remoto criou novas possibilidades.

Nos EUA, a situação é particularmente mais grave:

  • Em 2020, quando as pessoas passaram a ficar em casa, muita gente começou a gastar mais dinheiro com tecnologia e serviços online.
  • O trabalho via home office aumentou diante de medidas de distanciamento social.
  • Empresas do setor começaram a contratar para dar conta da demanda.
  • Elas tiveram ótimos resultados durante meses seguidos, mas isso não se sustenta a longo prazo.
  • A disseminação da covid-19 diminuiu, mas a economia mundial ainda não se recuperou.
  • Inflação, alta de preços, guerra na Ucrânia e crise dos chips agravaram a situação das big techs.
  • Empresas perceberam que acabaram contratando demais e estão fazendo ajustes de contas para enfrentar 2023 e os próximos anos.
  • Isso inclui as demissões, redução de estrutura física e fechamento de de escritórios inteiros.

A inflação nos Estados Unidos, por exemplo, chegou a um acumulado acima de 8% em 12 meses. Para controlá-la, o Federal Reserve [banco central dos EUA] precisa desacelerar a economia, e isso impacta diretamente o mercado de trabalho.

O aumento da taxa de juros também faz com que fique muito caro para as empresas conseguirem financiamento para investir em melhorias internas. Com isso, só resta recuar os gastos.

Quando anunciou cortes da Meta, em novembro, o CEO Mark Zuckerberg afirmou: "No início da pandemia, o aumento do comércio eletrônico levou a um crescimento desproporcional da receita. Muitas pessoas previram que isso seria uma aceleração permanente que continuaria mesmo após o fim da pandemia. Eu também, então tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos. Infelizmente, isso não aconteceu do jeito que eu esperava."

Zuckerberg, aliás, acaba de revelar que fará novos cortes, para reduzir ainda mais custos. Segundo ele, mesmo com a demissão de 11 mil pessoas, a empresa se tornou mais eficiente.

Bastidores dos layoffs

Microsoft anunciou, em 18/1, a demissão de cerca de 10 mil funcionários até o final de março. Em 2022, a companhia já havia realizado duas rodadas de cortes: a primeira afetou menos de 1% da força de trabalho; a segunda, em outubro, atingiu menos de 1.000 pessoas. A empresa tinha até então 221.000 funcionários, 122.000 deles nos Estados Unidos.

Amazon comunicou, em 5/1, o corte de "pouco mais de 18 mil empregos" no mundo todo. A empresa teve um desempenho financeiro decepcionante no terceiro trimestre de 2022, com queda acentuada na receita e nos lucros e estagnação no número de usuários. O grupo contratou bastante durante a pandemia, dobrando sua equipe global nos últimos dois anos, chegando a 1,54 milhão de funcionários no final de setembro.

Meta oficializou, em novembro de 2022, o corte de 11 mil postos de trabalho — cerca de 13% de seu quadro de profissionais. Até setembro, o grupo tinha cerca de 87 mil funcionários. Ainda não há detalhes dos novos cortes para 2023.

Twitter, chefiado pelo Elon Musk, iniciou um plano de demissões em massa no início de novembro de 2022. Para financiar sua aquisição em US$ 44 bilhões, o atual CEO bilionário endividou a empresa cuja saúde financeira já era frágil. Metade dos 7.500 funcionários da rede social foi demitida.

Apple resiste (ao menos por enquanto)

A Apple é uma das poucas big tech a resistir aos cortes. No entanto, no final do ano passado, a empresa anunciou que havia desacelerado significativamente as contratações.

Um dos motivos é que a fabricante do iPhone não teve uma política agressiva de novos funcionários durante a pandemia — é a big tech que menos aumentou seu quadro desde 2015. Para se ter uma ideia, a força de trabalho da Microsoft cresceu 36% nos últimos dois anos, enquanto a da Apple evoluiu menos de 15%.

*Com matéria de Thiago Varella, em colaboração para Tilt