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Ele achou mais de 100 perfis fakes com sua foto: "cansei"; veja o que fazer

Victor Coelho começou a se deparar com dezenas de fakes seus enviados por amigos - Arquivo pessoal
Victor Coelho começou a se deparar com dezenas de fakes seus enviados por amigos Imagem: Arquivo pessoal

De Tilt, em São Paulo

03/02/2023 04h00Atualizada em 03/02/2023 15h22

A foto que abre esta matéria é oficialmente de Victor Coelho, 35. No entanto, a mesma imagem circula na internet associada a Igor Cardoso, Guilherme Castro, Luiz Emanuel, Rodrigo Santos, Adriano Gomes, Douglas Ferrari, entre outros nomes.

Todos eles são de contas fakes que usam ou usaram a foto postada por Victor em seu Facebook em 2018 - muitos dos perfis falsos foram derrubados após denúncias feitas por ele.

"Já achei mais de 100 perfis fakes com minha foto: cansei", disse Victor à Tilt, resignado após uma tarefa de quase gato e rato: denunciar, esperar a conta ser derrubada e outras serem criadas. Só durante a pandemia foram 36 contas fakes detectadas.

E tem de tudo um pouco: desde fakes no Facebook, até em apps de namoro como Happn, Tinder, Bumble e Grindr (voltado ao público gay), passando por avaliações fakes em sites de compra.

Durante a pesquisa, inclusive, a reportagem encontrou um perfil falso do Victor no Linkedin. Lá, ele era Carlos Ferreira, um gerente comercial de uma empresa do Taboão da Serra (SP). A foto? A mesma de sempre - um dia após a denúncia, a página já estava fora do ar.

Perfil no Linkedin identificado como Carlos Ferreira usa foto de Victor Coelho; conta já foi removida da rede social - Reprodução/Linkedin - Reprodução/Linkedin
Perfil no Linkedin identificado como Carlos Ferreira usa foto de Victor Coelho; conta já foi removida da rede social
Imagem: Reprodução/Linkedin

"Acho que minha foto deve ter caído em algum tipo de banco de imagem sem minha autorização", respondeu sobre por qual motivo ele acha que uma foto específica dele é tão usada por fakes.

Quando a trolagem vira crime

A gota-d'água para o Victor foi em 2019, quando uma mulher de Salvador achou seu contato após buscar pela foto no Google. O objetivo dela era alertá-lo do roubo de identidade.

"[Ela me chamou no Facebook, dizendo que uma pessoa estava se passando por mim. Ela dizia que estranhou, pois o cara escrevia muito errado e achou a situação esquisita", lembrou.

Esse tipo de golpe é conhecido como catfishing. Nele, uma pessoa finge ser outra, usando fotos ou vídeos dela.

"Na época do Orkut já havia perfis falsos com celebridades e, depois, pessoas comuns. Muitas vezes era só para trollar ou tirar um barato, mas muitas pessoas estão usando isso para cometer crimes", disse o advogado Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência Artificial da OAB-SP.

Geralmente, o catfishing ocorre por três motivos:

  • Ciberbullying: intimidação feita pela internet.
  • Chamar a atenção de alguém: pessoas podem pegar fotos atrativas e criar um perfil fake para se aproximar de um contato virtualmente.
  • Golpe de romance: quando uma conta fake é criada com objetivo de se obter retorno financeiro -- em São Paulo, recentemente, usuários do Tinder eram atraídos por perfis falsos para encontros; ao chegar no local, eram sequestrados e obrigados a fazerem transações financeiras.

No caso de Victor, aparentemente, queriam usar a foto dele para ampliar essa estratégia para um golpe de romance. Isso fez com que procurasse a polícia.

Ao chegar na delegacia, o atendente disse que, na teoria, ele poderia registrar uma ocorrência, mas não a intenção de um crime - até então, seria apenas um terceiro usando uma foto dele. O funcionário ainda o desincentivou a fazer o B.O. (boletim de ocorrência).

A experiência de Victor na delegacia não deve ser um padrão. Segundo Solando, da OAB-SP, a recomendação é fazer o boletim de ocorrência, até como precaução.

"O uso de identidade de outra pessoa - o que inclui fotos - é crime previsto no artigo 307 do Código Penal. É um crime de baixo potencial ofensivo, mas registrar este tipo de infração mostra que a vítima não está sendo omissa", disse. Este tipo de ocorrência pode ser feito registro via delegacia eletrônica.

E em caso de golpe financeiro, por exemplo, a pessoa que teve a foto utilizada poderá ser acusada de omissão pela vítima que sofreu o prejuízo monetário.

É importante também juntar provas, como ter cópia de endereços eletrônicos e captura de tela. "A vítima tem que reunir o maior número possível de evidências para que no futuro ela consiga provar que não era ela", disse o advogado Solano.

Achei um fake meu. E agora?

Reclame para a plataforma: denuncie o conteúdo - pedir a ajuda de seus contatos para reforçar a denúncia costuma ajudar na rapidez do processo

  • Tinder

É possível denunciar dentro do próprio app. Caso você se depare com um perfil fake usando suas fotos ou de conhecidos, basta escolher a opção Denunciar (na parte de baixo da interface, abaixo da bio da pessoa), informar que trata-se de um perfil falso e escolhe a opção "Essa pessoa está usando fotos ou vídeos de alguém que eu conheço" ou "Essa pessoa está usando fotos ou vídeos de outra pessoa)

Pela web, é possível entrar na página de ajuda do Tinder e seguir os mesmos passos descritos acima com este link: https://www.help.tinder.com/hc/pt-br/requests/new

Não custa lembrar que o Tinder tem perfis verificados. Então, se a pessoa tem um selo azul próximo ao seu nome significa que o rosto da pessoa foi averiguado pela plataforma.

  • Bumble

No perfil do usuário, role até a parte inferior e selecione a opção "Ocultar e denunciar".

Na sequência, escolha "Foto roubada" como o motivo da denúncia e inclua comentários adicionais, por fim conte o que aconteceu e toque em "Enviar o relatório".

Se eles já combinaram e iniciaram uma conversa com um usuário que gostariam de denunciar, o processo será um pouco diferente:

O Bumble tem também uma página web de contato: https://bumble.com/help-search#contact-us

  • Happn

O Happn recomenda que as pessoas denunciem perfis fakes clicando nos três pontos no canto superior direito e denunciar a pessoa escolhendo o motivo.

Se for um crush (alguém que deu match com você), é necessário clicar nos três pontos no canto superior direito do perfil e denunciar a pessoa escolhendo o motivo.

A partir da interface principal, você só precisa clicar no perfil para os três pontos aparecerem (ou descer até a parte mais baixa do perfil e clicar na bandeira no canto superior direito).

  • Instagram

Na página https://www.instagram.com/hacked/, há a opção "Someone used my name, photos or information to create a new account" (Alguém usou meu nome, fotos ou informações para criar uma nova conta)". Toque nela e siga o passo a passo.

A rede pedirá informações como nome, e-mail e, em alguns casos, uma foto sua segurando um documento de identificação.

  • Facebook

Na página https://www.facebook.com/hacked, há a opção "Encontrei uma conta que usa meu nome ou minhas fotos". Toque nela e siga o passo a passo.

Como no Instagram, a rede pedirá informações como nome, e-mail e, em alguns casos, uma foto sua segurando um documento de identificação.

  • WhatsApp

Se perder acesso ao WhatsApp por meio de clonagem do seu número:

Envie um e-mail para support@whatsapp.com e, no campo Assunto, escreva "Perdido/roubado: desative a minha conta".

No corpo da mensagem, coloque somente seu número de telefone, incluindo o código do país (+55) seguido do DDD (Ex. +5511999998888).

Se perder o acesso ao WhatsApp

Envie um e-mail para support@whatsapp.com e, no campo Assunto, escreva "Perdido/roubado: desative a minha conta". No corpo da mensagem, coloque somente seu número de telefone, incluindo o código do país (+55) seguido do DDD (Ex. +5511999998888).

O email que confirma a desativação da sua conta chegará algumas horas depois. Fique esperto: o prazo de 30 dias para o perfil ser reativado começará a partir do momento em que você receber o correio eletrônico do WhatsApp. Se você não ativar o perfil em outro celular, ele será excluído.

Procure assistência jurídica caso os perfis fakes estejam sendo usados de maneira ostensiva. Assim, o profissional pode entrar com um processo para tentar tirar esses perfis falsos do ar e minimizar os prejuízos.

Fontes consultadas: Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência Artificial da OAB-SP e delegado Carlos Afonso, da DCCiber, Divisão de Crimes Cibernéticos do Estado de São Paulo.