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Rapper Notorious B.I.G. 'volta à vida' em show realista no metaverso

Reprodução/YouTube
Imagem: Reprodução/YouTube

Colaboração com Tilt, de São Paulo

19/12/2022 16h58

O rapper americano The Notorious B.I.G. fez um show muito elogiado no fim de semana. Mas ele morreu em março de 1997. O show, na verdade, ocorreu no Horizon Worlds, o metaverso do Facebook, onde ele foi recriado à perfeição, levantando questões sobre a ética da prática.

Notorious B.I.G., também conhecido como Biggie Smalls, se apresentou na sexta-feira (16) no espaço de realidade virtual criado pela Meta, a empresa proprietária do Facebook, do Instagram e do WhatsApp. Ou, talvez, seria mais adequado dizer que seu avatar se apresentou.

Mas quem assistiu ao show garante que quase não houve diferença em ver uma apresentação real: todos os trejeitos e movimentos característicos do rapper, assassinado a tiros há 25 anos, estavam lá.

A repórter Tanya Basu, da revista Technology Review, descreve que ele estava "arfando entre as estrofes, movendo o punho de acordo com o ritmo e parecendo muito vivo".

Mas, disso, decorrem novas questões: seria esse um novo mercado no mundo da música? É ético explorar a imagem de uma outra pessoa dessa forma? Ainda mais levando em consideração que essa pessoa morreu antes que se pudesse sonhar com esse tipo de coisa.

Captura de tela do show do avatar de The Notorious B.I.G. - Reprodução/Captura de tela do canal The Notorious B.I.G. no YouTube - Reprodução/Captura de tela do canal The Notorious B.I.G. no YouTube
Show de avatar do rapper The Notorious B.I.G. feito no metaverso
Imagem: Reprodução/Captura de tela do canal The Notorious B.I.G. no YouTube

Hologramas musicais

Shows com hologramas de artistas que já morreram não são novidade. Performances virtuais de músicos tão variados quanto Buddy Holly e Michael Jackson, passando por Whitney Houston e Amy Winehouse, já foram vistas em palcos ao redor do planeta nos últimos anos.

Uma das aparições mais famosas ocorreu há dez anos, quando o rapper rival de Biggie Smalls, Tupac Shakur, se apresentou no festival Coachella em 2012. Era um holograma, já que Tupac também foi assassinado nos anos 90.

Mas, no metaverso, onde a ideia é justamente criar um universo virtual, essa prática ganha novos contornos. Há outras maneiras de interagir com o avatar de um artista morto do que apenas se sentar e assistir ao show. E, em breve, espera-se que haja ainda mais maneiras, segundo Remington Scott, diretor de efeitos visuais do Hyperreal, estúdio que criou o avatar de Notorious B.I.G.

O processo

Em entrevista à Technology Review, Scott contou que foram utilizadas horas de filmagem de vídeos caseiros e fotos familiares para recriar os movimentos do cantor com o máximo de precisão possível. O diretor fez questão de incorporar pequenos detalhes, como o enrugado da pele ao fazer certas expressões.

Para isso, foi criado um banco de dados apenas de "materiais de referência de microexpressões", no qual a equipe do Hyperreal analisou "imagens de resolução no nível dos poros" e rastreou a elasticidade das camadas da pele para entender como o rosto de Notorious B.I.G. se mexia. O resultado é um avatar de fato muito realista.

"Quando usamos essa tecnologia em filmes, leva seis meses e milhões de dólares. Agora, podemos fazer em seis semanas, por um custo muito menor", explicou Remington Scott.

Questões éticas

É claro que um trabalho desses não poderia ser feito sem a autorização da família. A mãe do rapper, Voletta Wallace, enviou um e-mail ao final da criação do avatar dizendo à equipe: "esse é o meu Christopher" (o nome real de Notorious B.I.G. era Christopher Wallace).

A mãe administra o patrimônio deixado pelo filho, estimado em US$ 160 milhões (R$ 852 milhões), e está buscando maneiras de "trazer novos fãs" para as canções do rapper. Uma dessas maneiras, é claro, é recriando o artista por meio de um avatar como esse, no metaverso.

O problema é que o cantor morreu muito antes da possibilidade de sonhar com o metaverso. Não havia contratos assinados por ele prevendo o que poderia ou não ser feito com seu avatar virtual porque nem se imaginava que isso um dia seria tema de discussão.

No show de sexta, por exemplo, a equipe criou uma imagem de Notorious B.I.G. ao lado de Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA. Mas o rapper nunca soube quem era Obama: o futuro presidente só entraria na política no ano em que o artista morreu.