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60 anos dos Jetsons: quais previsões tecnológicas eles acertaram?

Carro voador dos Jetsons: na vida real, muitos protótipos, mas poucos resultados comerciais - Reprodução/Hanna-Barbera
Carro voador dos Jetsons: na vida real, muitos protótipos, mas poucos resultados comerciais Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera

Thiago Varella

Colaboração para Tilt

08/10/2022 04h00Atualizada em 11/10/2022 18h38

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Com carros voadores, empregadas domésticas robôs e viagens triviais ao espaço, o desenho animado Os Jetsons, lançado há 60 anos pela Hanna-Barbera, imaginava como seria o futuro dali 100 anos, em 2062. À primeira vista, o cotidiano do casal George e Jane e dos filhos Judy e Elroy não se parece muito com o nosso. Mas será mesmo?

Os criadores William Hanna e Joseph Barbera poderiam ter sido excelentes futuristas: acertaram diversos produtos que já estão presentes no nosso dia-a-dia (com 40 anos de antecedência ao desenho!) Em outros casos, ainda estamos aguardando: sabemos que eles são viáveis tecnologicamente, mas ainda não chegamos lá.

Confira abaixo oito previsões dos Jetsons e quais já viraram realidade (ou quase).

Vídeo chamadas

Os Jetsons - vídeochamada - Reprodução/Hanna-Barbera - Reprodução/Hanna-Barbera
Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera
  • Apresentado no episódio: "Rose, a robô" (Temporada 1, Episódio 1)
  • Já existe? Sim

Em 1962, televisão era artigo de luxo e telefonia (fixa!) sequer estava presente em todas as casas. Por isso, a ideia de conversar com outra pessoa por meio de imagem era algo digno de ficção científica. Algumas empresas até já estavam trabalhando em um sistema funcional de vídeo-chamadas, que chegou a ser lançado pela AT&T nos anos 1970, mas que estava longe de ser acessível ao grande público.

A tecnologia só se popularizou mesmo quando a gente passou a ter um smartphone no bolso. Parece que já faz tempo que a gente corta distâncias simplesmente fazendo uma chamada de vídeo por WhatsApp com alguém. Mas o primeiro celular com câmera capaz de fazer vídeo só foi lançado em 1999 pela Kyocera. Na década seguinte, o surgimento do Skype popularizou as vídeochamadas pelo computador. Finalmente, com o iPhone, conversar com vídeo passou a ser algo corriqueiro.

Na pandemia de Covid-19, trabalhar, assistir aula e comemorar aniversário por videochamadas virou "o novo normal" (tá, eu sei, o termo não é legal).

Smartwatches

Os Jetsons - smartwatch - Reprodução/Hanna-Barbera - Reprodução/Hanna-Barbera
Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera
  • Apresentado no episódio: "Elroy fugitivo" (Temporada 1, Episódio 24)
  • Já existe? Sim

George Jetson trabalhava pouco. Sua jornada era de uma hora por dia, dois dias por semana - em uma previsão futurística que (infelizmente) não se concretizou. Mas seu chefe estava sempre vigilante, por meio de vídeo-chamadas no relógio do protagonista. Ele usava um smartwatch quando o termo nem sequer existia!

A ideia de levar um computador no pulso é antiga. Se lembra daqueles relógios da Casio, nos anos 80, com calculadoras e até agendas digitais? Em 1994, a Timex lançou um relógio que se comunicava com o computador. Era o início do smartwatch como o conhecemos hoje. Seis anos depois, a IBM apresentou um que rodava Linux, o WatchPad. Mas, a popularização só ocorreu na década passada, com o Galaxy Gear, da Samsung, o Sony SmartWatch, e, principalmente, o Apple Watch, lançado em 2015.

Hoje, diversas marcas, grandes e pequenas, têm seu próprio smartwatch, ou smartband, como o popular Mi Band, da Xiaomi. Receber muito mais informação do que simplesmente a hora no relógio já é normal e barato.

Robôs domésticos

Os Jetsons - robô-empregada Rosie - Reprodução/Hanna-Barbera - Reprodução/Hanna-Barbera
Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera
  • Apresentado no episódio: "Rose, a robô" (Temporada 1, Episódio 1)
  • Já existe? Estamos quase lá

Curiosamente, o primeiro episódio do show estabelecia que Rose, a empregada robótica da família, era um modelo obsoleto para a época. Ainda assim, a faxineira reclamona já era muito mais versátil e eficiente do que os androides de serviço que lentamente estão surgindo hoje no mercado.

Por enquanto, o humanoide da empresa de Elon Musk foi mostrado fazendo coisas simples, como carregando caixas e regando plantinhas. A ideia é que o robô de 1,70 m de altura e 57 kg seja testado em fábricas de veículos e que custe, inicialmente US$ 20 mil. Depois, quem sabe, possa ser vendido para o público doméstico. Honda, Sony e Xiaomi também preparam produtos semelhantes.

Humanóides são robôs complexos justamente porque nós, humanos, somos assim. Por isso, os protótipos apresentados até hoje são, em sua maioria, parecem insatisfatórios: são lentos, limitados e ainda consomem bastante energia. Estamos perto, mas a Rose ainda não é uma realidade.

Impressora de comida

Os Jetsons - impressora de comida - Reprodução/Hanna-Barbera - Reprodução/Hanna-Barbera
Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera
  • Apresentado no episódio: "Problemas familiares" (Temporada 2, Episódio 6)
  • Já existe? Estamos quase lá

Apesar de ter uma empregada-robô completa como a Rose, a família tinha uma máquina instantânea de comida na cozinha. Ela mais se parecia como uma jukebox só que, em vez de música, era possível escolher o prato do jantar.

A primeira impressora de comida foi criada na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, em 2006. Era uma adaptação de uma impressora 3D, que em vez de plástico ou silicone, criava objetos com chocolate. Ainda hoje, essas máquinas são limitadas à matéria-prima principal (geralmente, chocolate, panificações, queijo ou um preparado nutricional específico). Ou seja, elas não "criam" a comida, apenas a esculpem.

Uma impressora capaz de gerar qualquer tipo de prato, especialmente com diferentes composições moleculares (arroz, feijão, bife e salada, por exemplo) ainda é um sonho distante. Mais fácil os robôs-empregados chegarem antes.

TV holográfica

Os Jetsons - TV holográfica - Reprodução/Hanna-Barbera - Reprodução/Hanna-Barbera
Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera
  • Apresentado no episódio: "O novo amigo de Elroy" (Temporada 2, Episódio 1)
  • Já existe? Estamos quase lá

Já temos disponível TVs com a tecnologia 8K de uma resolução inimaginável até alguns anos atrás. Mas nada tão imersível quando a televisão holográfica que Elroy adora. Se este também é seu sonho, comece a guardar dinheiro: a Samsung é uma das muitas empresas investindo na tecnologia, e acha que ela será viável com a telefonia 6G, no final desta década.

Por enquanto, o mais perto que temos são shows que usam "holografia" para "ressuscitar" artistas mortos. Neste caso, a tecnologia usada traz apenas uma ilusão parecida com a da holografia. Na verdade, o show é apresentado em uma projeção em uma tela translúcida ou, às vezes, em reflexos em um vidro translúcidos de uma tela no chão. Quem está longe tem a impressão de que o artista está ali presente, mas de perto é possível notar as falhas. Além disso, a técnica não traz a ilusão de presença em todos os ângulos.

Shows assim estão sendo produzidos há anos. No Brasil, em 2013, um Renato Russo holográfico participou de um show que acabou sendo bem criticado. A técnica da holografia falsa está sendo cada vez mais aprimorada. No show do ABBA, que está em cartaz em Londres, 160 câmeras foras usadas na gravação, com um resultado final que impressiona.

Carros voadores

Os Jetsons - carro voador - Reprodução/Hanna-Barbera - Reprodução/Hanna-Barbera
Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera
  • Apresentado no episódio: "Rose, a robô" (Temporada 1, Episódio 1)
  • Já existe? Estamos quase lá

O carro da família era tão importante que protagonizava a abertura do desenho: George cruzava os céus enquanto deixava a esposa no shopping, os filhos na escola e finalmente chegava no trabalho (quando ele ainda se compactava para virar uma prática maleta!)

Veículos aéreos particulares, capazes de driblar o trânsito "terrestre", são o "Santo Graal" das montadoras. Várias empresas já apresentaram protótipos nas últimas décadas, como o AirCar, feito na Eslováquia, ou o SkyDrive, bancado pela Toyota. O mais recente foi o SD-03, da japonesa Sky Drive, em 2020: à la Santos Dumont, o piloto fez um voo curtinho, mas cheio de potencial.

Os problemas dos carros voadores ainda são a segurança, que precisa ser garantida tanto em terra firme quanto no céu, a potência do motor capaz de fazer o veículo voar e, ainda por cima, ser compacto, o controle, já que o motorista também precisa ser piloto, e, por fim, o preço, ainda caro demais para ser vendido em escala industrial.

Turismo espacial

Os Jetsons - turismo espacial - Reprodução/Hanna-Barbera - Reprodução/Hanna-Barbera
Imagem: Reprodução/Hanna-Barbera
  • Apresentado no episódio: "Os bons escoteiros" (Temporada 1, Episódio 6)
  • Já existe? Sim

SpaceX, Blue Origin e Virgin Galactic estão empenhadas em proporcionar férias como as da família Jetson - na Lua. Por enquanto, porém, elas só conseguiram oferecer voos suborbitais ou translados até a Estação Espacial Internacional. (Elas também estão construindo suas próprias estações, que funcionarão como hoteis.)

Viagens para além da órbita terrestre ainda são ficcionais. A empresa Space Adventures já anunciou uma viagem à Lua, sem direito a descer e caminhar pelo satélite, sob o custo de US$ 150 milhões por pessoa. Em 2014, eles anunciaram que duas pessoas haviam se interessado em participar — e pagar todo o valor, mas, até agora, a viagem não teve uma data definida. A empresa Golden Spike Company chegou a anunciar algo parecido, com a promessa de pouso na Lua. No entanto, a companhia encerrou as atividades em 2013, sem ter seu plano concretizado.