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O polêmico produto da Amazon que gerou reality show e acusações de racismo

Polêmica tem ligação com tecnologia de segurança residencial da empresa Ring, comprada pela Amazon em 2018 - Alan J. Hendry/unsplash
Polêmica tem ligação com tecnologia de segurança residencial da empresa Ring, comprada pela Amazon em 2018 Imagem: Alan J. Hendry/unsplash

Simone Machado*

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

21/09/2022 12h06Atualizada em 21/09/2022 12h13

O lançamento de um reality show baseado em imagens capturadas por câmeras de segurança domésticas da marca Ring, comprada pela Amazon em 2018, está repercutindo negativamente nos Estados Unidos.

Quarenta grupos das áreas de privacidade e justiça racial assinaram ontem (20) uma carta aberta exigindo que a MGM Studios, outra empresa da Amazon, cancele o programa Ring Nation, com estreia prevista para próximo dia 26.

Segundo o grupo, a transmissão do reality corre o risco de "normalizar e promover a perigosa rede de câmeras de vigilância da Amazon Ring" e pode colocar a privacidade das pessoas em risco.

A empresa, fundada por Jeff Bezos, anunciou o programa no início deste ano, onde a comediante Wanda Sykes comentará vídeos virais compartilhados pelas câmeras de segurança (que funcionam com uma campainha inteligente) — como vizinhos salvando vizinhos, propostas de casamento, reuniões militares e animais fazendo coisas bobas.

O programa de meia hora está sendo desenvolvido pela MGM Television, que pertence à Amazon, devido à aquisição da MGM pela empresa em 2021 e da Big Fish Entertainment.

Os criadores do reality dizem que querem se concentrar em vídeos "comoventes e hilários", segundo informações do Gizmodo norte-americano. Por outro lado, grupos que defendem o cancelamento descrevem o Ring Nation como um show de terror.

Para eles, a MGM e outros afiliados ao programa se escondem atrás do conceito de consentimento para fazer a exibição do Ring Nation. "As pessoas que aparecem nos vídeos de forma alguma estão protegidas contra os danos decorrentes dessa exposição da Ring em geral, principalmente as comunidades marginalizadas visadas pela polícia", destaca o documento.

Ring Doorbell 2 é uma campainha inteligente com câmera embutida - Ring - Ring
A Ring comercializa campainha inteligente com câmera embutida
Imagem: Ring

Os ativistas citam ainda temores como fornecer aos departamentos de polícia acesso às imagens dos usuários e acusam a rede Ring de dar à polícia acesso a uma rede de vigilância em massa que opera independentemente sem supervisão.

Por trabalhar com equipamentos de segurança residencial, a Ring mantém parcerias com mais de dois mil departamentos de polícia em diferentes regiões dos Estados Unidos. A empresa teria supostamente fornecido às autoridades policiais imagens de usuários sem consentimento em pelo menos 11 ocasiões este ano.

"Perfil racial e policiamento racista são componentes centrais do modelo de negócios da Ring, que lucra com o medo. Se for ao ar, este programa coloca em risco os direitos e a vida dos espectadores e suas famílias", diz a carta. "A Ring Nation tenta colocar uma cara feliz em um produto perigoso."

"Imagens de uma câmera Ring podem ser usadas para processar uma paciente que abortou que sai do estado para atendimento médico — seja filmando a clínica, capturando-a saindo de um Airbnb ou provando que não estava em casa por alguns dias", acrescenta o documento.

Questionados sobre as acusações feitas pelos grupos ativistas, Amazon e Ring não responderam ao Gizmodo.

Já em agosto deste ano, o senador norte-americano Ed Markey (D-Mass.), membro do Comitê de Comércio dos EUA, já havia pedido mais clareza de Jeff Bezos sobre as práticas de segurança de dados das câmeras de segurança Ring. "A Amazon parece estar produzindo um anúncio direto para seus próprios produtos Ring e mascarando-o como entretenimento", afirmou, segundo reportagem do Hollywood Reporter.

Nos últimos anos, tecnologias da Ring já viraram notícias por vazamento de dados de usuários e ataques hackers (com cibercriminosos acessando câmeras de usuários).

Grupos pedem investigação à Amazon

No início deste mês, mais de vinte grupos assinaram uma carta pedindo à agência FTC (Agência Federal independente do governo que busca proteger o consumidor) que bloqueie a mais recente aquisição de US$ 1,7 bilhão da iRobot, famosa empresa de robô aspirador, pela Amazon.

Eles alertaram que o acordo "colocaria em risco a concorrência leal" e a privacidade do consumidor. Novos relatórios esta semana, baseados em registros de títulos da iRobot, sugerem que a agência está se aproximando de uma investigação formal.

Uma intervenção da FTC no acordo da iRobot poderia impedir que a Amazon lance no futuro outro reality show usando dados capturados do aspirador robô Roomba (conhecido por ser capaz de fazer o mapeamento preciso dos locais por onde passa limpando).

*Com informações do site Tech Crunch.