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Luzes, lixeiras e ônibus inteligentes: como o 5G mudará cidades brasileiras

Mobilidade urbana é um dos focos principais nos projetos de smart cities beneficiados pelo BNDES - dusanpetkovic/iStock
Mobilidade urbana é um dos focos principais nos projetos de smart cities beneficiados pelo BNDES Imagem: dusanpetkovic/iStock

Thaime Lopes*

Colaboração para Tilt

13/09/2022 04h00

Em junho, novas lâmpadas de iluminação pública foram instaladas em Curitiba. À primeira vista, ela parece uma LED comum. Mas é capaz de realizar mais de 100 funções eletrônicas, inclusive reconhecimento facial, registro de placas de veículo, identificação de barulhos de tiro ou até retransmissão de sinal 5G.

E é exatamente por causa do 5G que esses novos postes foram instalados, ainda em caráter experimental. A nova geração de transmissão de dados, que chegou à capital paranaense pouco depois, em 16 de agosto, tem duas características essenciais para esse tipo de avanço na infraestrutura urbana: a baixa latência (resposta mais rápida) e a alta estabilidade (melhor que a do 4G).

"O 5G pode ampliar até 100 vezes o número de dispositivos por km quadrado. Isso mostra o quanto a tecnologia vai mudar a forma como lidamos com gadgets, porque teremos a disponibilidade de lidarmos com centenas de ferramentas ao mesmo tempo", explica Roberto Marcelino, fundador do iCities, o maior evento de cidades inteligentes da América Latina.

Para ele, não há dúvida: as smart cities já são uma realidade no exterior e, como o exemplo de Curitiba deixa claro, vão ser uma tendência forte na próxima década no Brasil. A implantação do 5G (atualmente já disponível em 15 capitais) só vai acelerar ainda mais o processo.

Drones, dados e sensores

Essas inovações que parecem coisa de ficção científica não serão disponibilizadas apenas porque facilitam a vida do cidadão: as prefeituras farão o investimento porque, a longo prazo, economizará nos cofres públicos.

"Com a rápida conectividade do 5G, poderemos implementar tecnologias que vão cortar custos. Por exemplo, substituir a vigilância de bairros por drones automatizados. Ou criar vagas inteligentes que conseguem identificar se um veículo está parado em lugar proibido ou não", exemplifica Pedro Curcio, CEO da iNeeds, startup focada em soluções para smart cities.

Mais do que dinheiro, essas ferramentas podem até poupar vidas. Em março, a iNeeds foi selecionada para realizar o monitoramento em tempo real das encostas de Petrópolis (RJ), para evitar deslizamentos de terra como os que deixaram centenas de mortos e feridos no início do ano. Poucos dias depois da instalação, sob forte chuva, o primeiro alarme ativado pelos sensores levou a Guarda Civil a evacuar os moradores com sucesso.

O sistema ainda não utiliza o 5G (que não chegou a Petrópolis ainda), mas exemplifica como a tecnologia pode gerar uma grande quantidade de dados para que a administração municipal seja mais eficiente.

Essa realidade, porém, não depende só do Poder Executivo. "Se não houver uma legislação voltada para smart cities, vai ficar difícil aplicar essas tecnologias", ressalva Curcio.

De Campinas a Juazeiro do Norte

Felizmente, o Legislativo também já se move nessa direção. Em dezembro de 2019, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Ministério do Desenvolvimento Regional lançaram a Câmara das Cidades 4.0, com diretrizes de leis para viabilizar smart cities com uma gestão integrada dos serviços para o cidadão.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) também já selecionou várias iniciativas que serão subsidiadas com pelo menos R$ 1 milhão sob o projeto Pilotos IoT (sigla em inglês para "internet das coisas" - o sistema integrado que tornará inteligente vários aparelhos numa casa ou numa cidade, por exemplo).

Entre eles, uma rede de iluminação inteligente e videomonitoramento de segurança pública em Santa Rita do Sapucaí (MG), Caxambu (MG) e Piraí (RJ); lixeiras inteligentes e parquímetros eletrônicos em Mar da Espanha (MG); controle inteligente da rede de semáforos de São Paulo; e oferta de veículos elétricos compartilhados em Campinas (SP).

Um dos focos principais das cidades selecionadas pelo BNDES (e de outras smart cities ao redor do mundo) é a mobilidade. O 5G é perfeito para monitorar e coordenar múltiplos ônibus, vagões de metrô, trólebus e outros modais de transporte. Dados das catracas e vendas de bilhete também pode ser coletados para orientar ajustes na frota em tempo real, com o objetivo de "reduzir tempos de deslocamento e aumentar a atratividade dos transportes públicos", segundo o órgão federal.

Selecionada pelo BNDES, Juazeiro do Norte (CE), que já implementou várias inovações, como iluminação inteligente, agora vai focar na sua rede de ônibus municipais — com suporte do Instituto Atlântico, uma das principais Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT) do Nordeste.

"Cidade inteligente é a que melhor a qualidade de vida dos que habitam nela. Tecnologia é um meio, não um fim. Se melhorar o acesso à educação, à saúde, é uma cidade inteligente", afirma Michel Araújo, secretário de desenvolvimento e inovação.

Marcelino ecoa o sentimento de beneficiamento mútuo: "A partir da implementação de tecnologias 5G, as cidades passarão a ser inteligentes em prol do cidadão. São benefícios para as prefeituras, para as indústrias e para os moradores. O 5G chegou para mudar a sociedade".

* Com reportagem adicional de Felipe Floresti