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Lasers do Alok queimaram câmeras no Rock In Rio? Como isso é possível?

Shoe de DJ Alok no Rock in Rio foi marcado por fogo e efeitos de luzes com lasers - Júlio Guimarães/UOL
Shoe de DJ Alok no Rock in Rio foi marcado por fogo e efeitos de luzes com lasers Imagem: Júlio Guimarães/UOL

Aurélio Araújo

Colaboração com Tilt, de São Paulo

05/09/2022 12h22

O show de Alok no Rock in Rio no último sábado (3) foi marcado fogo, mãos gigantes saindo do palco e lasers — muitos lasers. Inclusive, esse último efeito viralizou e provocou uma discussão: afinal, eles podem estragar a câmera do celular?

O debate foi potencializado por um post no Twitter, em que um fã que esteve na apresentação do DJ mostra uma foto do palco e reclama: "ultima foto antes do laser do alok queimar a câmera do meu iphone. QUE ODIO [sic]". Até o momento, a publicação soma 236,8 mil curtidas.

O próprio Alok respondeu a postagem ironizando: "Oxe, c tava na tirolesa? [sic]", insinuando que, como os lasers verdes estavam apontados para cima, eles não poderiam ter sido responsáveis pelo dano ao celular de alguém filmando ou fotografando a partir da pista.

Tilt consultou um especialista para explicar detalhadamente os riscos e como o laser funciona.

Como o laser funciona

Laser é, na verdade, um acrônimo em inglês para "amplificação de luz por emissão estimulada da radiação". Ou seja, é um nome que se dá a dispositivos que emitam luz de forma precisa e direcionada por meio desse estímulo.

Ele ocorre quando a fonte de luz recebe energia suficiente para excitar elétrons (partículas subatômicas com carga elétrica negativa), que passam a emitir fótons, as partículas que compõem a luz, de forma muito concentrada.

"Um laser de show não pode ser muito potente, porque pode atingir os olhos do público, causando danos à retina. [A emissão de luz] deve ser algo bastante controlado, abrindo bem o feixe", explica Mikiya Muramatsu, especialista em óptica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).

O especialista diz que o risco está no que chama de "efeito cumulativo" de luz, algo especialmente perigoso quando trata-se de uma luz monocromática, como um laser.

Por isso, em geral, a luz do laser usada por profissionais de iluminação em ambientes como shows é espelhada para diversos lados, num constante movimento, evitando sua concentração.

Estraga a câmera ou não?

Sem entrar na discussão sobre o caso específico do show de Alok, o professor diz que, sim, é possível danificar uma câmera de smartphone com um laser. Mas é preciso um pouco de azar.

A área de entrada de luz de uma câmera de smartphone é pequena, afirma Muramatsu, e os riscos maiores são oferecidos às câmeras com abertura maior, como máquinas fotográficas profissionais e câmeras de TV.

"A câmera de um celular não foi feita para captar luz muito forte. Então, se por um azar ela foi exposta a um laser, que é sempre bastante intenso, os sensores podem queimar", avalia.

Além do fã do show de Alok, outras pessoas também compartilhado problemas do tipo na internet.

O que acontece se a câmera for atingida?

Segundo Muramatsu, é um dano irreversível. "Toda vez que você for tirar uma foto, vai ter uma mancha, como se fosse um buraco, e aí é preciso trocar o sensor."

O que dizem as fabricantes

Algumas das principais fabricantes de smartphones, que têm nas câmeras cada vez mais sofisticadas de seus produtos um dos principais atrativos para o consumidor, são claras: não se deve utilizá-las diante de luzes fortes.

Como já destacado por Splash, a Sony, por exemplo, avisa em seu site oficial que lasers podem causar danos às lentes das câmeras.

A Samsung, embora não cite diretamente o laser dessa forma, trata como perigosa a exposição a "calor excessivo ou energia de alta densidade" e "uma fonte de luz forte".

Até o Sol é perigoso

Lasers são diferentes de lâmpadas criadas para iluminar ambientes domésticos, completa o professor Muramatsu, porque estas são feitas para espaços grandes, enquanto aqueles são direcionais e muito mais concentrados.

"Quando o laser está espalhado, por exemplo, quando há vários espelhinhos grudados numa esfera giratória que faz a luz se espalhar, não há problema. Aliás, às vezes eles se utilizam de LEDs, que têm intensidade mais fraca, diminuindo os riscos", destaca.

LEDs, que são siglas em inglês para "diodo emissor de luz", não são monocromáticos como o laser, o que já ameniza a intensidade de suas luzes.

O efeito cumulativo da luz é tão nocivo para as pessoas que, mesmo num ambiente aberto como uma praia, em que a luz do Sol está espalhada, não se deve nunca olhar diretamente para ele. É preciso proteger os olhos com óculos escuros e, claro, cuidar da pele com aplicação de filtro solar.

O risco é tanto que existe até uma aplicação do uso de lasers como armas militares por parte das Forças Armadas dos Estados Unidos, embora ela nunca tenha sido posta em prática de forma pública.