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5G impressiona na China e decepciona nos EUA; veja o que mudou com a rede

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Imagem: rawpixel.com/ Freepik

Aurélio Araújo

Colaboração com Tilt, de São Paulo

15/07/2022 04h00

Como o 5G tem transformado os países em que ele já foi implantado? As pessoas estão vendo a diferença no dia a dia? A revolução esperada da tecnologia na indústria está seguindo seu curso? A chegada do 5G "puro" no Brasil, na última semana, reacendeu a curiosidade sobre o que mudará na prática a partir de agora.

Na China, por exemplo, 5G impressiona. Por lá, é possível sentir o impacto na indústria e avanços em robótica e drones. Já nos Estados Unidos, a sensação dos críticos é de decepção. Confira a seguir o que explica essas percepções e as mudanças que o 5G tem feito em outros países.

5G no Brasil: recapitulando

Brasília foi a primeira capital a receber autorização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para oferecer o 5G "puro" — que não usa a infraestrutura do 4G para funcionar — para os consumidores. Belo Horizonte, Porto Alegre, João Pessoa e São Paulo devem ser as próximas a liberaram o sinal de internet móvel.

Tecnicamente, o 5G promete ser revolucionário por oferecer características importantes:

  • downloads com velocidade na casa dos gigabits por segundo. É possível, por exemplo, baixar filmes em menos de um minuto. A expectativa é de velocidade até 20 vezes maior do que a rede 4G.
  • baixa latência, tempo de resposta entre um comando e outro da rede. A previsão é de que a internet veloz possa ser usada na telemedicina, carros elétricos, drones etc.
  • maior estabilidade, com menor chance de oscilações de conexão.

China: uso prático já impressiona

A China, que tem o serviço desde novembro de 2019, lidera o ranking de cobertura de 5G no mundo, com 356 cidades contando com a tecnologia, segundo dados do site Statista. Também é o país que mais possui patentes relacionadas, com 40% delas — só a empresa Huawei, gigante tecnológica chinesa, possui 6.500.

Embora seja difícil mensurar o tamanho do impacto no cotidiano da população, alguns usos industriais e estratégicos do 5G merecem destaque. Exemplo disso é uma fábrica de cerâmica inteligente no condado de Youngchun, no leste da China.

Segundo o jornal chinês China Daily, ela usa robôs para detecção e controle de qualidade. Os sistemas de manufatura soam alarmes caso algo necessite ser refeito e dispensam produtos com problemas se identificam algo anormal neles. As informações de controle de qualidade são projetadas em telas para que os funcionários da fábrica possam acompanhá-las em tempo real.

Além disso, veículos autônomos (sem motoristas) rodam pela fábrica e transportam os objetos de cerâmica produzidos. Segundo as estimativas do jornal, essa digitalização aumenta a eficiência de produção em 35%, reduz o consumo de energia em 7% e corta os custos operacionais em 8%.

Outra promessa em vias de se tornar realidade graças ao 5G na China é o projeto de integração da tecnologia com o BDS, sistema de posicionamento global por satélite do país, uma espécie de resposta ao GPS, que é americano.

O último satélite do BDS foi enviado ao espaço em 2020, e os primeiros resultados já podem ser vistos: o país implantou um sistema de inspeção inteligente em suas ferrovias, com a ajuda de drones para manter os passageiros seguros.

O sistema coleta, entre outros dados, fotos e vídeos das estruturas de aço e os envia para o centro de controle, que faz o acompanhamento inteligente para identificar mudanças entre as imagens e emitir alertas em caso de risco.

Por fim, um uso interessante do 5G na China se deu na reconstrução da província de Henan, atingida por chuvas em 2021. Como acontece nos desastres naturais, a infraestrutura foi destruída e a comunicação local ficou prejudicada.

A China Mobile, maior operadora de telefonia do mundo, criou uma estação de 5G operada por drones voando em baixa altitude sobre a região durante o período mais crítico, restabelecendo a comunicação e facilitando as operações de busca e resgate.

EUA: decepção

Os EUA são o segundo país do mundo em conectividade 5G, com a rede sendo inaugurada em abril de 2019. Mas, em geral, o clima com a tecnologia é de decepção, segundo críticos.

Um dos motivos é porque as redes mais rápidas estarão limitadas às áreas metropolitanas, devido à densidade de infraestrutura exigida pela tecnologia, segundo Jennifer Alvarez, líder empresa de análise de dados de redes sem fio Aurora Insight, em texto publicado pela Forbes, em fevereiro deste ano.

"O 5G não vai causar uma mudança dramática na vida cotidiana da maioria dos americanos", afirmou.

O ex-chefe executivo do Google, Eric Schmidt, foi ainda mais incisivo: em editorial publicado em fevereiro no Wall Street Journal, disse que os EUA têm tido uma "performance patética" na corrida contra a China pela dominância do mercado do 5G.

No texto, ele critica inclusive a performance da velocidade da internet no país: média de 93,73 mbps (megabits por segundo), muito menos do que os 299 mbps registrados em terras chinesas.

Seja como for, os EUA já têm algumas aplicações práticas do 5G para mostrar. Na cidade de Lewisville, no Texas, por exemplo, a empresa sueca Ericsson possui uma fábrica inteligente.

Entre os destaques dessa planta industrial, estão a criação de uma versão digital idêntica à versão física dela para avanços em:

  • testes de inovações em realidade aumentada.
  • uso de machine learning (aprendizado de máquina em inteligência artificial) na inspeção visual, feita com câmeras de alta resolução, mesmo com a produção em andamento.
  • coleta de dados em tempo real para reduzir o uso de energia, como no apagamento de luzes em ambientes em que não há pessoas.

Coreia do Sul: falta um estalo

A Coreia do Sul foi o primeiro país a lançar uma operação comercial do 5G, pouco antes dos EUA, em abril de 2019, e estima-se que 45% da população já esteja coberta pela tecnologia.

No entanto, ainda não há uma mudança sensível nos hábitos cotidianos das pessoas devido à falta de demanda. Embora o setor tecnológico sul-coreano tenha planos ambiciosos para o 5G, eles ainda não foram colocados em prática.

Em entrevista concedida à Reuters em maio, o analista Kim Hyun-yong usou como exemplo a transição do 3G para o 4G, por volta de 2011: na época, aplicativos como YouTube e Netflix exigiam uma mudança rápida e a adoção da nova tecnologia pelos donos de celulares, e isso ocorreu de forma natural.

O mesmo não se viu ainda com o 5G, que precisa convencer na prática as pessoas que elas devem adotá-lo.

Além disso, as elevadas faixas de radiofrequência (espécies de pistas de uma rodovia usadas para a rede funcionar) necessárias para que o 5G opere em sua velocidade mais impressionante têm dificuldade em contornar obstáculos.

Assim, elas acabam reduzindo a performance da tecnologia. Por isso, segundo informações da própria Reuters, embora as operadoras da Coreia do Sul já tenham construído 250 mil estações de 5G, apenas 2% delas operam com a velocidade mais alta possível.

Filipinas: um salto na velocidade

As Filipinas são um país com grande cobertura de 5G. Isso ocorre porque o país, diferentemente de outros aliados dos EUA, abriu as portas para investimentos chineses na tecnologia. Embora os filipinos já usassem bastante as redes sociais, o país sofria com conexões ruins e baixa velocidade.

Nesse sentido, a implementação do 5G, em outubro de 2021, ajudou a mudar esse quadro. Segundo a empresa de análise de conexão móvel OpenSignal, o país teve a maior melhoria de velocidade de download, passando dos 140,6 mbps na média e com uma performance cerca de 9,8 vezes melhor que a do 4G local.

O 5G já é também cinco vezes mais rápido que o wi-fi no país.

Outros países

Canadá, Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha e Arábia Saudita já implementaram o 5G em algumas das suas principais cidades, e estão em processo de expandir suas redes.