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Como uma 'ilusão de ótica' pode mudar o que sabemos sobre o Sol

Loops coronais observados pela espaçonave Explorador coronal e região de transição (TRACE, em inglês) - Nasa/Trace
Loops coronais observados pela espaçonave Explorador coronal e região de transição (TRACE, em inglês) Imagem: Nasa/Trace

Colaboração para Tilt, em São Paulo

05/03/2022 04h00Atualizada em 05/03/2022 11h37

Uma física solar desenvolveu um modelo da coroa do Sol - a atmosfera externa mais quente, visível apenas durante um eclipse solar total - e apontou, com base em suas pesquisas, que os loops de plasma observados dentro dela podem ser uma ilusão de ótica.

"Passei toda a minha carreira estudando esse fenômeno", disse Anna Malanushenko, cientista do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica em Boulder, Colorado (EUA), que liderou um estudo conduzido por simulação publicado na revista especializada em astronomia The Astrophysical Journal e reproduzido pela Forbes. Ele foi revisado em novembro e publicado na quarta-feira (2).

Eu estava animada que esta simulação me daria a oportunidade de estudá-los com mais detalhes. Eu nunca esperei isso. Quando vi os resultados, minha mente explodiu.

Os loops coronais são fontes de fios eletrificados de gás de plasma de vários milhões de graus que os cientistas pensavam que existiam na atmosfera do Sol. Acredita-se que os loops possam revelar onde a coroa é aquecida a temperaturas 1.000 vezes maiores do que a superfície visível do Sol.

Geralmente, os loops coronais podem ser vistos em imagens tiradas do Sol em luz ultravioleta.

No entanto, muitos deles podem ser ilusões de ótica, segundo o estudo de Anna Malanushenko. Sua equipe de cientistas construiu um modelo de computador extremamente detalhado que simulava o que estava acontecendo em várias regiões do Sol, de 10.000 quilômetros abaixo de sua superfície a 40.000 quilômetros, na coroa.

Aparentemente, como a coroa solar é muito fina de se olhar - como pode ser visto durante o breve período de totalidade de um eclipse solar total - as suas estruturas se sobrepõem nos registros. Muitos dos fios finos podem ser artefatos ópticos ou "rugas" de plasma brilhante na coroa.

Para Anna, essa descoberta entra em conflito com as suposições de outros físicos a respeito dos fenômenos que ocorrem no Sol, em grande parte porque os loops coronais são usados.

"Este estudo demonstra que a forma como atualmente interpretamos as observações do Sol pode não ser adequada para compreendermos verdadeiramente a física da nossa estrela," disse a cientista. "Este é um paradigma inteiramente novo de compreensão da atmosfera do Sol."

No entanto, outros pesquisadores enfatizam que novos métodos observacionais e técnicas de análise de dados são necessários para estudar mais a coroa na esperança de provar sua "hipótese do véu coronal" e saber que impactos os apontamentos de Malanushenko podem ter nos estudos do astro.