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MWC termina marcada por obsessão pelo 5G, climão com Rússia e pouco celular

Lucas Carvalho/Tilt
Imagem: Lucas Carvalho/Tilt

Lucas Carvalho

De Tilt, em Barcelona*

03/03/2022 11h11

Agora que o 5G já está começando a decolar na maior parte do mundo, inclusive com as primeiras redes começando a funcionar no Brasil, a indústria da telecomunicação só tem uma coisa em mente: quem vai pagar a conta de todo esse investimento?

Esse foi o principal tema da MWC (Mobile World Congress) de 2022, evento anual focado em tecnologia móvel que este ano voltou ao formato presencial. Entre palestras, painéis e estandes na Fira Gran Via, um imenso complexo de 200 mil m² no centro comercial de Barcelona, propostas de monetização do 5G apareceram por toda parte.

"O 5G é uma tecnologia que tem muito potencial de médio-longo prazo, mas ele precisa de um empurrão para chegar ao patamar revolucionário que a gente imagina", diz o vice-presidente de negócios da Ericsson, Tiago Machado.

Segundo ele, a aposta da indústria é que negócios entre empresas —redes internas e operações em fábricas, por exemplo— é o que vão bancar a tal revolução do 5G. A rival Huawei concorda: em seu imenso estande na feira, os celulares sumiram, mas as antenas, cabos e serviços para empresas ganharam destaque.

"Após nossos problemas com os EUA [e a proibição do uso da versão comercial do Android], nossa receita caiu com celulares, mas cresceu em todo o resto", disse Paul Scanlan, chefe global de tecnologia da Huawei, em encontro com jornalistas.

Celulares floparam na feira

Vender pacotes de internet de alta velocidade para o consumidor comum pode ajudar a pagar a tal conta, mas não é daí que virá o retorno dos anos e bilhões investidos em pesquisa e na construção da nova rede 5G.

Tanto que a tecnologia para as pessoas comuns ficou em segundo plano na MWC 2022. Marcas tradicionais de telefones, como Samsung, LG e Motorola, sumiram ou se acanharam na feira.

Em vez disso, startups chinesas como Oppo, Realme e Honor ocuparam o vácuo com dezenas de novos smartphones —ainda assim, nada revolucionário além de um carregador que leva a bateria de 0% a 100% em 15 minutos.

A timidez das marcas de celulares também pode ser explicada, em parte, pela crise de escassez de chips, que continua preocupando. Uma combinação fatal de paralisação de fábricas com explosão da demanda atrasou a produção de todo tipo de produto, de sensores usados em fábricas a carros e, naturalmente, telefones.

A venda de celulares caiu 3,2% para 363,1 milhões de unidades no quarto trimestre, segundo a empresa de análise IDC. Na China, a queda foi de 11% no mesmo período, segundo pesquisa da Counterpoint Research.

O que não preocupou, porém, foi a pandemia de covid-19: a GSMA ainda não divulgou o número total de pessoas que passaram pela feira, mas a previsão até o dia da abertura era de 60 mil inscritos de 150 países.

Tilt visitou a feira nos últimos quatro dias pudemos observar corredores sempre lotados. A entrada era permitida apenas com máscara PFF-2 (a mais segura) e em cada "esquina" havia um dispensador de álcool em gel. Ao longo da feira, porém, as restrições foram relaxando.

Nesta quinta-feira (3), último dia da MWC, os pavilhões já estavam bem menos movimentados, e algumas pessoas entraram com máscaras de tecido. Diversas empresas encerraram participações mais cedo e havia alguns estandes vazios. No pavilhão 7, nos "fundos" do complexo onde a feira acontece, houve até queda de energia.

Climão com a Rússia

O conflito entre Rússia e Ucrânia, que chegou a levar manifestantes para a porta do evento durante toda a semana, também marcou presença dentro da feira. Na cerimônia de abertura, o diretor geral da GSMA, organizadora da MWC, Mats Granryd, disse que o grupo "condena fortemente" a guerra no leste europeu.

Em nota, a organização ressaltou que o evento não teria um "pavilhão russo" entre os exibidores, e algumas empresas do país chegaram a ser banidas (nomes não foram divulgados).

Contudo, a gigante de antivírus Kaspersky, que foi fundada em Moscou, manteve seu estande aberto e funcionando durante toda a feira. Membros da equipe no estande da empresa disseram que não tiveram problemas com a organização do evento nem com os protestos na porta da MWC que pediam boicote à empresa.

Em nota, a assessoria de imprensa também negou qualquer problema, mas admitiu que teve que mudar sua agenda.

"A Kaspersky está no MWC representando a marca global e seu portfólio de produtos. Por conta das circunstâncias imprevistas, tomamos a decisão de cancelar nossa coletiva de imprensa devido aos cancelamentos e interrupções do tráfego aéreo, o que impossibilitou a equipe estar presente no evento e organizá-lo de maneira adequada", disse a empresa.

A companhia também tentou se distanciar do governo da Rússia. "A Kaspersky é uma empresa global privada com registro no Reino Unido. Nossa missão é proteger os clientes em todo o mundo contra ciberameaças e continuaremos fazendo isto. As operações comerciais da Kaspersky são estáveis

*O jornalista viajou a convite da Huawei.