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Quem é o culpado? Foguete atingirá Lua em março e ninguém assume autoria

Just_Super/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Just_Super/Getty Images/iStockphoto

Adriano Ferreira

Colaboração para Tilt*, em São Paulo

25/02/2022 04h00

Destroços de um foguete devem colidir com a Lua no dia 4 de março, mas ninguém sabe quem é o responsável. Inicialmente, acreditava-se que se tratava de um equipamento da SpaceX. Depois, especialistas afirmaram que se tratava de um foguete chinês lançado em 2014, o que tirava a culpa pelo lixo espacial da empresa de Elon Musk.

Porém, a China nega ou se omite da responsabilidade em relação a esses objetos espaciais "perdidos no espaço". Afinal, quem é o dono do lixo espacial que vai bater com nosso satélite natural?

Infelizmente, a resposta é que ninguém sabe ao certo, e isso mostra como ainda o espaço é terra de ninguém. Não são todas as missões que monitoram propulsores ou restos que ficam perambulando pelo ambiente intergaláctico.

Tentativas de identificação

O astrônomo e pesquisador Bill Gray, responsável por anunciar o suposto choque dos restos do foguete da SpaceX, o Falcon 9, lançado em 2015, se desculpou no dia 12 de fevereiro, no site Project Pluto, pelo erro cometido.

Após mais cálculos, Gray chegou à conclusão de que os destroços a caminho do choque com a Lua, na verdade, pertencem a um foguete de origem chinesa denominado Chang'e 5-T1, que foi lançado em 2014.

Segundo o site Space News, em uma página do governo chinês, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, negou responsabilidade. "De acordo com o monitoramento da China, o estágio superior do foguete relacionado à missão Chang'e-5 entrou na atmosfera da Terra e queimou completamente".

Em seu posicionamento, o porta-voz chinês não se refere à missão de teste chamada de Chang'e-5-T1, responsável por trazer amostras da Lua ao planeta Terra, mas cita a "Chang'e-5", que teve o seu lançamento mais para frente, só em 2020.

Ou seja, a declaração de Wenbin fala de um foguete, enquanto o pesquisador Gray, de outro. Nisto, os dados de rastreio do 18º Esquadrão de Controle Espacial da Força Espacial dos EUA mostram que a base ou propulsor do foguete chinês Chang'e-5-T1 queimou na atmosfera da Terra em outubro de 2015.

Em uma publicação em um blog, na segunda-feira, 21 de fevereiro, Gray informou que os dados de rastreamento da Força Espacial dos EUA podem ser entendidos como um "pequeno mistério", mas esclareceu que as informações se referem ao que foi possível ser observado no radar depois do lançamento do foguete chinês em 2014.

Gray ainda fala sobre uma possível falta de tecnologia ou falha de alcance para a visualizar o "lixo espacial" na época. "Durante grande parte daquele ano [2014], o propulsor Chang'e-5T1 estaria muito além do alcance do radar. Portanto, duvido muito que o 18º Esquadrão de Controle Espacial da Força Espacial dos EUA o estivesse realmente rastreando".

No fim das contas, quais são as consequências?

Para Alexandre Zabot, doutor em Astrofísica e professor do curso de engenharia aeroespacial da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), toda essa controvérsia não vai gerar nenhuma sanção para a China ou outra instituição, caso seja constatada alguma responsabilidade sobre o choque dos objetos espaciais contra a Lua.

"Não há uma regulamentação universalmente aceita sobre o uso do espaço que considere essa questão do lixo espacial da maneira como ela deve ser encarada", diz. Além disso, o físico reitera que o lado em que o objeto vai cair na Lua não irá gerar qualquer estrago sério para que se torne uma preocupação.

Por causa da dificuldade de monitoramento no espaço, essa situação de não saber exatamente de quem é "lixo espacial" pode se tornar cada vez mais frequente. "De fato, ninguém pode bater com certeza de quem é esse objeto. Daqui a pouco, podem descobrir que seja de outra missão. Porque, como ninguém rastreou a órbita dele completa, desde o começo, ele apareceu meio de do nada. Pode ter vindo de qualquer missão que tenha passado pela região ali entre a Terra e a Lua", afirma Zabot.

*Com informações da Space e The Verge