Topo

Petrópolis teve chuva de um mês em poucas horas; veja como medição funciona

16.fev.22 - Estragos causados pelo temporal no Centro Histórico de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro - WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
16.fev.22 - Estragos causados pelo temporal no Centro Histórico de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt*, em São Paulo

17/02/2022 16h16Atualizada em 18/02/2022 19h21

Na terça-feira (15), uma tempestade inesperada culminou em tragédia que se abateu sobre Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, deixando mais de 100 mortos e 140 desaparecidos até o momento.

Em apenas três horas, choveu mais do que o esperado para o mês de fevereiro inteiro. De acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), foram registrados 259,8 milímetros de chuva durante o dia todo — sendo 250 mm (milímetros) entre 16h20 e 19h20.

A média climatológica para fevereiro na cidade é de 185 milímetros. Ou seja, anteontem choveu o equivalente a quase um mês e meio. Foi a maior tempestade da história de Petrópolis, desde que se iniciaram as medições, em 1932. O recorde anterior ocorreu em 20 de agosto de 1952, quando foram registrados 168,2 mm em 24 horas.

Mas como o nível de chuva é medido?

Órgãos como o Cemaden, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e, no caso do Rio de Janeiro, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), possuem estações de monitoramento de clima espalhadas pelo território brasileiro, principalmente em áreas com maiores riscos de desastres, como deslizamentos.

Elas operam instrumentos capazes de prever e acompanhar em tempo real os fenômenos naturais, como chuvas, ventos e outras mudanças climáticas.

Entre eles, estão os pluviômetros, que medem quanta chuva caiu em determinado local com precisão milimétrica.

Em geral, sua estrutura e funcionamento são bem simples: um funil grande que consegue captar a água da chuva durante o fenômeno. Sua "boca", em geral a 1,5 metros do solo, tem cerca de 500 cm² de área.

pluviometros - Arte UOL - Arte UOL
Medindo a chuva: saiba como funcionam os pluviômetros
Imagem: Arte UOL

Em Petrópolis, os pluviômetros do Cemaden que registraram maior volume de chuvas foram os da estação de São Sebastião/GEO (272,6 mm), Dr. Thouzet (245,6 mm) e Quitandinha (182,4 mm). O Inea contabilizou 221,4 mm na estação Alto da Serra/Palatinado, em apenas 4 horas, entre 14h45 e 18h45.

Parece estranho falar em milímetros de chuva, mas fica fácil quando imaginamos um tanque quadrado, com 1 m de largura e 1 m de comprimento. Se despejar 1 litro de chuva dentro dele, o resultado será uma lâmina de água de 1 mm de altura.

Ou seja, quando falamos que choveu 250 mm em Petrópolis, isso significa que caiu 250 litros de água por metro quadrado. Um registro superior a 50 mm já é considerado de chuva violenta.

Em um pluviômetro manual, todos os dias, uma pessoa precisa abrir a tampa lateral do instrumento e transferir a água coletada para uma proveta (tubo cilíndrico) com graduação em milímetros. Assim, determina-se quanta chuva caiu por ali nas últimas 24 horas.

Os órgãos de monitoramento, em geral, usam pluviômetros automáticos com sensores, também chamados de pluviógrafos. Ele também é um funil por onde escoa a água da chuva, mas, alimentado por eletricidade — seja por meio de células fotovoltaicas ou pela rede de energia—, já realiza a medição constantemente, com registro de tempo.

pluviometro - Wagner Morente/Prefeitura de Limeira - Wagner Morente/Prefeitura de Limeira
Pluviômetro automático, com energia solar, realiza medições em tempo real
Imagem: Wagner Morente/Prefeitura de Limeira

Dentro dele, há um pequeno mecanismo de "caçamba" basculante. Quando o recipiente enche com água da chuva, ele é esvaziado — isso conta um "clique".

O processo vai se repetindo sucessivamente; o número de pulsos, multiplicado pelo volume encontrado nesse reservatório, informa o registro do pluviômetro naquele intervalo de tempo. Em caso de chuva, eles realizam medições a cada dez minutos.

Dependendo da tecnologia do instrumento, a medição é transferida diretamente para centrais de controle, o que permite monitoramento em tempo real. Em outros casos, é preciso coletar os dados presencialmente, com um notebook ou pendrive.

Esse monitoramento é essencial para evitar ou diminuir os efeitos de desastres naturais. É possível prever transbordamentos de rios e enchentes com certa antecedência, de acordo com a chuva que está sendo registrada e alterações meteorológicas, como a chegada de frentes frias.

Assim, a população local pode ser alertada e evacuada — em Petrópolis e em Franco da Rocha (SP), que recentemente também viveu uma tragédia com deslizamentos, tudo aconteceu tão rápido e intensamente que, infelizmente, não houve tempo de agir.

O Cemaden tem um projeto que leva pluviômetros automáticos digitais a comunidades de risco por todo o Brasil. Prefeituras e entidades interessadas em receber o instrumento podem se cadastrar no site do Centro.

*Com informações de matéria feita por Rodrigo Lara, em colaboração para Tilt.