Topo

Como vulcão do outro lado do mundo deixou céu do Brasil 'instagramável'

Amanhecer em João Pessoa (PB) no domingo (6) - Twitter/@jampamilgr4u
Amanhecer em João Pessoa (PB) no domingo (6) Imagem: Twitter/@jampamilgr4u

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

08/02/2022 13h58

Tem visto muitas fotos do pôr do sol ou do amanhecer no Instagram nos últimos dias? Tons de rosa e vermelho começaram a embelezar os céus em diversos lugares do país na segunda-feira (7), como no Recife, em Natal e no interior do Rio Grande do Norte. Mas o que poucos sabem é que existe uma explicação científica por trás desses "céus instagramáveis".

O fenômeno tem nome: é a dispersão de Rayleigh, ou "Espalhamento Mie", que ocorre quando raios solares se espalham pela atmosfera em forma de poeira. E no caso dos céus coloridos desta semana por todo o Brasil, a culpa é de um vulcão do outro lado do mundo.

Mais precisamente, o grande responsável por esse fenômeno foi a erupção de um vulcão no oceano Pacífico, que ocorreu no dia 15 de janeiro próximo a Tonga, na Oceania, e colocou EUA, Japão, Equador e Chile em alerta.

A explosão provocou tsunamis que devastaram a região e ainda foi responsável por lançar bilhões de metros cúbicos de cinzas na estratosfera, a mais de 30 km de altitude. O único cabo submarino que levava internet à ilha de Tonga se rompeu com os tremores, e por isso a conexão com a internet pode permanecer cortada, inclusive, por várias semanas para as quase 100 mil pessoas que vivem no país.

Mesmo semanas depois da erupção, as nuvens de poeira formadas pelo vulcão atravessaram uma boa distância do globo e agora trazem novas cores aos céus brasileiros. Isso porque as cinzas vulcânicas contam com alta concentração de carbono e enxofre, que, associados a outros gases, formam moléculas que refletem tons vermelhos, laranjas e rosados quando cruzam com os raios de luz solar.

O fenômeno pode ser visto em grande parte do país, principalmente no início do dia e no fim da tarde. A expectativa é que fique presente até a próxima semana, segundo o chefe do setor de Meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte, Gilmar Bristot.

Pelas previsões, a circulação de cinzas do vulcão deverá normalizar e, entre o dia 10 e 15 de fevereiro, o retorno das chuvas deve fazer com que o efeito dessas partículas mudando a cor do céu acabe.

Isso já aconteceu antes?

Sim! O último impacto significativo de uma erupção no clima do planeta tem tempo: foi em 1991, quando a erupção do Monte Pinatubo, nas Filipinas, lançou cerca de 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre (SO2) na estratosfera. Além de deixar o céu avermelhado em várias regiões do hemisfério norte, houve resfriamento global de quase 1 °C por três anos.

Mais recentemente, em 2020, as queimadas no Pantanal e na Amazônia deixaram o céu do Sul e do Sudeste alaranjado, igualmente graças à dispersão de Rayleigh. O efeito tem esse nome em homenagem ao físico inglês John William Strutt, o Barão de Rayleigh, que detalhou o efeito no século 19.