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20 meteoros por hora: chuva de 'estrelas cadentes' vai até domingo; observe

Chuva de meteoros observada em Taquara (RS) - Observatório Espacial Heller & Jung
Chuva de meteoros observada em Taquara (RS) Imagem: Observatório Espacial Heller & Jung

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt, em São Paulo

30/07/2021 18h33

A chuva de meteoros que tem "banhado" o Brasil na última semana está quase no fim. O Observatório Espacial Heller & Jung, em Taquara (RS), registrou um recorde: 1.701 meteoros cruzando os céus do sul do país nos últimos três dias. O fenômeno está relacionado ao pico das chuvas Delta Aquáridas do Sul e da Alfa Capricórnidas.

Nos dias de maior intensidade, é possível ver entre 20 e 30 meteoros por hora. "Um elevado número de meteoros ainda pode ser observado até este domingo, devido às condições adequadas do tempo. O Hemisfério Sul é privilegiado na Delta Aquáridas", explica o professor Carlos Fernando Jung, proprietário do observatório de Taquara.

Câmeras de monitoramento de diversas cidades do sul já capturaram o fenômeno em vários ângulos. Em Monte Castelo (SC), foram registrados cerca de 550 meteoros em dois dias, incluindo um do tipo "bola de fogo". O projeto astronômico Exoss, ligado ao Observatório Nacional, também registrou imagens por todo o país:

"Esse ano, há uma coincidência interessante para essas chuvas: Saturno e Júpiter estão, respectivamente, na direção das constelações de Capricórnio e Aquário. O radiante da Alfa Capricórnidas estará próximo a Saturno no céu, e o radiante da Delta Aquáridas do Sul, próximo a Júpiter", conta Marcelo Zurita, diretor técnico da Bramon (Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros).

"Mas não é preciso estar olhando na direção dos radiantes para ver os meteoros, pois eles aparecerão em todas as partes do céu. Apenas aparentam surgirem das respectivas constelações."

Como ver?

As próximas três noites, até domingo (1) são boas janelas de observação, com as chuvas ainda com intensa atividade. Não é preciso qualquer equipamento especial: todos os meteoros podem ser vistos a olho nu, de qualquer lugar do país. Basta encontrar um local adequado e prestar atenção ao céu.

Confira algumas dicas:

  1. Torça por um céu sem nuvens. Procure um lugar escuro, como uma varanda ou quintal, de preferência longe de grandes centros. Quanto menos poluição luminosa, mais chances de observação.
  2. Desligue as luzes e evite usar o celular o tempo todo para não se distrair e nem ter a visão ofuscada pela claridade da tela.
  3. Tenha paciência. Seus olhos demoram cerca de 20 minutos para se acostumar com o céu noturno e começar a diferenciar a luminosidade dos diferentes corpos celestes (estrelas, planetas, meteoros).
  4. A partir das 21h, olhe para a região nordeste (direção em que o Sol nasce). As constelações de Aquário e de Capricórnio, onde estão localizados os radiantes destas duas chuvas, já estarão visíveis no horizonte.
  5. Acompanhe-as, mas lembre-se que são apenas uma referência de perspectiva; os meteoros podem surgir de qualquer ponto ao redor delas.
  6. Observe atentamente e espere pelos meteoros. Um app de observação dos céus, como Stellarium, Star Walk, Star Chart, Sky Safari ou SkyView, pode te ajudar a encontrar estes pontos.

"O melhor horário de observação deve ser entre meia-noite e 4h30, quando as constelações estarão altas no céu. No final de semana, as taxas já começam a cair, mas vale uma observada dos próximos dias. A Alfa Capricórnidas pode render até algum bólido muito brilhante, mas você tem de passar a madrugada olhando", ressalta Marcelo De Cicco, astrônomo coordenador da Exoss.

Meteoros e chuvas

A Delta Aquáridas do Sul é a chuva de meteoros mais fácil de observar em todo o hemisfério sul. Seu radiante — isto é, o ponto de onde os meteoros aparentam surgir, na Constelação de Aquário — fica mais bem posicionado deste lado do planeta. Em seu pico, são registrados entre 20 e 25 meteoros por hora. Apesar de menos brilhantes, essa grande densidade é sua maior característica, enchendo o céu de "riscos".

Já a Alfa Capricórnidas, menos intensa, tem o radiante na constelação de Capricórnio e é vista igualmente nos dois hemisférios. Apesar de mais difícil de observar, com cerca de 5 eventos por hora, ela tem um diferencial: os meteoros costumam aparecer como bolas de fogo brilhantes ou explosivas, deixando clarões no céu, em vez dos tradicionais rastros.

Também conhecidos como estrelas cadentes, meteoros são pequenos pedaços de rochas e poeira espacial que queimam ao entrar na atmosfera da Terra em altíssima velocidade, resultando em um belo fenômeno luminoso. Em geral, são inofensivos e se desintegram bem antes de atingir o solo.

Os meteoros podem ser incidentes isolados ou fazer parte de alguma chuva. A Delta Aquáridas vem de resquícios do cometa 96P/Machholz; a Alfa Capricórnidas, de detritos do 169P/NEAT. Elas acontecem todos os anos, quando a Terra, em seu movimento de translação em torno do Sol, cruza a órbita de cada cometa, por onde flutua uma trilha de destroços e poeira.

Neste período, por cerca de um mês, algumas dessas partículas atingem nossa atmosfera, causando uma chuva de meteoros. O pico quase sempre dura dois dias, quando atravessamos a área mais central e densa do rastro do cometa.

As próximas chuvas visíveis do hemisfério sul são a Táuridas do Sul, com pico entre 9 e 10 de outubro, e a Orionidas, entre 20 e 21 do mesmo mês.