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Confira as primeiras imagens feitas pelo satélite brasileiro Amazônia 1

Imagem feita pelo satélite brasileiro Amazonia 1 - INPE/MCTI
Imagem feita pelo satélite brasileiro Amazonia 1 Imagem: INPE/MCTI

De Tilt*, em São Paulo

11/03/2021 09h47

As primeiras imagens feitas a partir do Amazônia 1, primeiro satélite totalmente brasileiro colocado em órbita, foram finalmente divulgadas pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O seu lançamento aconteceu no último dia 28 de fevereiro como parte da missão PSLV-C51, da agência espacial indiana Indian Space Research Organisation (ISRO).

A recepção no Brasil das imagens do satélite ocorreu em 3 de março de 2021. Depois de dois dias de testes, a câmera WFI do Amazônia 1 foi ligada sobre o Brasil durante duas passagens diurnas.

A primeira delas, mais a leste, teve início às 9:57:27 e término às 10:08:27. A segunda passagem, mais a oeste, teve início às 11:35:27 e término às 11:47:57 — tudo no horário oficial de Brasília. Os dados brutos gerados pela câmera WFI foram processados em São José dos Campos (SP) e em Cachoeira Paulista (SP).

As imagens produzidas mostram a região metropolitana de São Paulo e do Rio de Janeiro. Além delas, é possível ver o reservatório de Sobradinho, o Rio São Francisco, e entornos. As figuras abaixo mostram cinco exemplos de imagens da câmera WFI do Amazônia 1, com resolução espacial de 66 metros, segundo informações do INPE.

Confira as primeiras imagens feitas pelo satélite brasileiro Amazônia 1

Como foi o lançamento

O lançamento do Amazônia 1 ocorreu a partir do Centro Espacial Satish Dhawan, na cidade de Sriharikota, na província de Andhra Pradesh, na Índia. Em apenas 17 minutos, o satélite alcançou o destino a 752 quilômetros de altitude da superfície da Terra.

Desenvolvido por engenheiros e cientistas brasileiros durante 12 anos, o satélite Amazônia 1 tem 640 kg e 2,5 metros de altura.

Com ele em órbita, o Brasil passou a fazer parte de um seleto grupo de 20 países que são capazes de desenvolver o próprio satélite. O equipamento foi enviado para Sriharikota, no sudeste do país, em dezembro do ano passado.

Mas por que um produto 100% nacional não foi lançado do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, um local mundialmente conhecido por sua localização privilegiada?

O que nos falta é foguete

O Brasil não tem um foguete com tamanho suficiente para colocar o Amazônia 1 em órbita, segundo explica o professor Naelton Mendes de Araujo, astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro.

Para cada tipo de foguete, você precisa de uma plataforma de lançamento apropriada para aquele tamanho. "Em Alcântara, temos uma plataforma que pode lançar um foguete do porte do VLS (com 19,7 metros de altura). O foguete que vai pôr o Amazônia 1 em órbita é o Polar Satellite Launch Vehicle (PSLV), foguete indiano de 44,4 metros", explicou em entrevista a Tiltna semana do lançamento do nosso satélite.

Além do Amazônia 1, a missão PSLV-C51 levou outros 18 satélites. Segundo o especialista, "não é interessante trazer um foguete lá da Índia para cá e construir uma plataforma nacional só para um único lançamento".

Alcântara tem localização privilegiada

Construído em 1983, o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, é mundialmente conhecido por sua localização privilegiada, próxima da linha do Equador.

A base é cobiçada, porque fica num ponto estratégico. Voos que saem dali rumo à órbita equatorial (onde o satélite artificial ou natural orbita baixo, na altura da linha do Equador) gastam até 30% menos combustível em relação a outras bases pelo mundo.

Os custos mais baixos são um diferencial para voos com cargas maiores —por exemplo, um foguete com grande quantidade de satélites —como o que levará o Amazônia 1.

O potencial da base, no entanto, foi pouco explorado até agora, porque havia uma limitação para o uso do local por outros países. Em novembro de 2019, o Senado aprovou o AST (Acordo de Salvaguardas Tecnológicas), que permite aos Estados Unidos lançarem satélites com fins pacíficos a partir de Alcântara —o que poderia trazer mais investimentos na área.

Em janeiro do ano passado, a AEB (Agência Espacial Brasileira) começou a negociar com empresas estrangeiras que demonstraram interesse em utilizar o Centro de Lançamento de Alcântara para o lançamento de microssatélites. No entanto, isso ainda não avançou muito.

O que o Amazônia 1 vai fazer lá em cima?

O objetivo do Amazônia 1 é gerar imagens do planeta a cada cinco dias e, sob demanda, fornecer dados de um ponto específico em dois dias.

De acordo com o Inpe, as imagens ajudarão na fiscalização de áreas que estejam sendo desmatadas, bem como na captura de imagens onde haja maior ocorrência de nuvens. O novo satélite possibilitará também o monitoramento da região costeira, de reservatórios de água e de florestas (naturais e cultivadas). Há, ainda, a possibilidade de uso para observações de possíveis desastres ambientais.

A Missão Amazônia pretende lançar, em data a ser definida, mais dois satélites de sensoriamento remoto: o Amazônia-1B e o Amazônia-2.

Com seis quilômetros de fios e 14 mil conexões elétricas, o satélite integra a Missão Amazônia 1, que tem por objetivo fornecer dados de sensoriamento remoto para observar e monitorar o desmatamento, especialmente na região amazônica, além de monitorar a agricultura no país.

O Amazônia 1 foi desenvolvido pelo Inpe em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) - órgãos ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

*Com reportagem de Felipe Oliveira