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Nem os ETs escaparam! Museu de Ufologia no RS perde público com pandemia

Hygino Vasconcellos

Colaboração para Tilt

29/08/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Agora, visitas guiadas no Museu da Ufologia no RS só podem ter até dez pessoas
  • Trilha noturna do lado de fora do observatório foi suspensa
  • Fundador conta que se aproximar da ciência o afastou da ufologia

Nem mesmo o mundo extraterrestre escapou da pandemia do coronavírus. Pelo menos não no Museu Internacional de Ufologia, História e Ciência, localizado em Itaara (RS), a 252 km de Porto Alegre. Em dias normais, 60% do público é composto por estudantes do nível básico a pós-graduação. Mas com as aulas presenciais suspensas, o movimento ficou restrito a turistas.

Por ano, uma média de 25 mil alunos visita o local, de até 300 escolas diferentes. Por mês, são cerca de 2.000 estudantes, diz Hernán Mostajo, fundador do espaço. "As escolas são nosso público-alvo, é o público sustentador do museu. O turista era nosso público eventual", conta.

A maior parte do público vem de Santa Maria, município vizinho com mais de 277 mil habitantes, chamado de cidade universitária devido à presença de sete instituições superiores de ensino.

Aberto, mas sob regras rígidas

Com a pandemia, o museu ficou fechado da metade de março até começo de maio. Na reabertura, foi preciso seguir regras mais rígidas impostas pelo governo estadual. Entre elas, o limite de ocupação dos dois espaços: no museu e no observatório.

O passeio guiado, que antes chegava a receber 60 pessoas, agora não pode ter mais de dez pessoas. No chão, foram feitas marcações para garantir o distanciamento.

E na hora de olhar as estrelas no telescópio? Cada visitante que chega à cúpula precisa passar álcool gel nas mãos e não pode tocar nem encostar o rosto no visor.

"Eu faço uma simulação e fico com olhos posicionados de três a quatro centímetros de distância do visor", observa Mostajo, que acompanha todo o processo pessoalmente. Mesmo assim, a higiene do local e do próprio aparelho foram redobradas.

Outra atividade, chamada de Caminhando com as Estrelas, também foi afetada com a pandemia. Nela, os participantes observam os astros enquanto percorrem à noite uma trilha criada no terreno de 2.500 metros quadrados do museu. Mesmo ocorrendo na parte externa do local, a procura caiu, o que forçou a direção a suspendê-la temporariamente.

A atividade deve voltar em 26 de setembro, mas com mudanças no formato. Será permitida a participação de até 25 pessoas —metade do que era antes da pandemia— e a apresentação da caminhada vai ocorrer na parte externa, não mais no auditório do museu.

Como funciona o museu?

O museu é organizado em seis seções temáticas diferentes: cosmologia (ramo da astronomia que estuda a estrutura e a evolução do universo, desde sua origem), evolução da vida, paleontologia, arqueologia, astronomia e ciência espacial e, por último, a ufologia.

Neste último espaço, é possível encontrar roupas do catarinense Antonio Nelso Tasca, que teria sido abduzido por alienígenas em 1983. O visitante também vê manuscritos de Artur Berlet, gaúcho que ficou desaparecido por 11 dias em 1958 após ter sido abduzido e levado para um planeta chamado Acart, que funcionaria apenas com energia solar.

Na Paleontologia é possível encontrar réplicas de fósseis de dinossauros. Já na Astronomia o visitante se depara com a réplica de uma Apollo 11, em uma escala duas vezes menor em relação à nave que foi mandada para a lua no final da década de 1960. Na sala, recortes de jornais e revistas relatam a chegada do homem ao satélite da Terra.

Um espaço maior

Mesmo com a queda no movimento, a direção prevê a ampliação do museu, com a construção do Espaço Astronômico.

A estrutura deve funcionar como uma concha acústica, com bancos organizados de maneira circular e o palco ao centro. "Será um planetário ao ar livre", resume Mostajo. A nova área deve ser entregue no próximo verão.

Mas, apesar da diminuição da receita, como o local continua aberto? Em operação há 19 anos, o espaço é autossustentável: a sede é própria e não há funcionários fixos além de Hernán e a esposa, Roberta, responsável pela parte administrativa. Devido à pandemia, o casal usou uma reserva de emergência enquanto o museu esteve fechado. Desde a reabertura o espaço tenta atrair turistas, que eram uma parte menor do público do local.

"A ufologia me aproximou da ciência"

O percurso no museu é construído para fazer com que o visitante tire suas próprias conclusões se há, de fato, vida extraterrestre. "A ideia é deixar sempre um ponto de interrogação", resume Mostajo.

Pessoalmente, Hernán é cético em relação à ufologia, apesar de ter passado 15 anos da sua vida em meio a congressos, alguns deles de âmbito internacional.

Eu era aficionado pelo tema. Mas a ufologia não estava me dando a resposta que eu queria, que eu fui buscar na ciência. A ufologia me aproximou da ciência e a ciência me afastou da ufologia
Hernán Mostajo, fundador do museu

Mas qual era a resposta que buscava? "A prova definitiva da vida extraterrestre. Olhava a literatura de Marte e acreditava em Cydonia (uma planície onde se acredita que alienígenas tenham desenhado um rosto). Hoje eu sei que não é verdade, é manipulação. O pensamento da época falava que a planície era feita por ETs", diz Mostajo, que se intitula educador científico.

Até a história do ET de Varginha, no sul de Minas Gerais, é considerada por ele uma "alegoria" lançada em 1996. Na época, três mulheres afirmaram que viram uma criatura extraterrestre enquanto outras pessoas dizem que avistaram Objetos Voadores Não Identificados (OVNI) em cima de seu gado. "Foram apresentadas muitas historinhas para poucas verdades", diz.

Questionado se já foram encontradas evidências concretas da existência de ETs, ele nega. "História provada não temos. Há algo que o governo esconde? Eu acho que não. Agora não. Nos anos 1970 a informação era limitada. Mas agora cada cidadão tem um celular, toda a gurizada tem informação. Já percebeu como diminuíram os relatos de aparecimento de OVNIs?", afirma.

Para Mostajo, o problema não está no tema, mas nos seus seguidores. "Qualquer pesquisador analisa tudo primeiro e depois apresenta os resultados. Na ufologia não. O ufólogo já chama a imprensa e expõe o que acha, sem uma pesquisa consolidada. A ufologia é muito imediatista de afirmar: 'isso aqui, sem dúvida, foi feito por vida extraterrestre'", acrescenta.

Segundo ele, o conhecimento foi a virada de chave para se afastar da antiga paixão. Afirma ter se desiludido com pessoas que idolatrava na juventude por elas "barganharem fatos não verdadeiros". Também acredita que os ufólogos ficaram "na acomodação, na invencionice, na análise primária de foto". "Eu sou altamente crítico e eles não podem erguer uma vírgula de dizer o contrário. Eu os conheci, eu sei como funciona", diz.

Apesar da postura crítica, Hernán garante que não interfere no entendimento dos visitantes que passam pelo museu. "Eu sou um interlocutor, conto as histórias e mostro os lados. O caso de Varginha, por exemplo, eu relato a história falada na época, mas também conto o outro lado. Deixo a dúvida para o visitante", conclui.