Esta ferramenta promete impedir que reconhecimento facial analise sua foto
![Equipe de Fawkes mostra imagens antes e depois das fotografias de Jessica Simpson, Gwyneth Paltrow e Patrick Dempsey encobertas pela ferramenta - SAND Lab, Universidade de Chicago](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/76/2020/08/05/equipe-de-fawkes-mostra-imagens-antes-e-depois-das-fotografias-de-jessica-simpson-gwyneth-paltrow-e-patrick-dempsey-encobertas-pela-ferramenta-1596648408329_v2_900x506.jpg)
Engenheiros da computação da Universidade de Chicago, nos EUA, desenvolvem uma ferramenta que burla os sistemas de reconhecimento facial para dar mais privacidade às pessoas. Segundo reportagem de segunda-feira (3) do New York Times, o software Fawkes faz isso distorcendo ou trocando alguns pixels, ou combinando o rosto da pessoa com o de alguma celebridade menos parecida com ela.
O nome do programa é uma homenagem a Guy Fawkes, soldado britânico que inspirou máscaras de manifestantes do mundo todo após o filme "V de Vingança" (2005).
O sistema não faz distinção de gênero, o que acaba colocando maquiagens exageradas e barba em certas pessoas, fazendo parecer que o rosto está com alguma sujeira, por exemplo. Mas quando o software funciona de forma perfeita, essa alteração da imagem é quase imperceptível a olho nu.
Durante os testes, os pesquisadores usaram imagens da atriz Gwyneth Paltrow e as "camuflaram", associando seu rosto a características de fotos do ator Patrick Dempsey. Segundo a equipe do Fawkes, essas mudanças conseguiram enganar os sistemas de reconhecimento facial da Amazon, Microsoft e Megvii, empresa chinesa de tecnologia.
A Universidade de Chicago disponibilizou o Fawkes gratuitamente. Para testar, você só precisa fazer o upload da imagem desejada no aplicativo. Este, por sua vez, embaralhará os pixels em cerca de 40 segundos, de acordo com os pesquisadores.
O reconhecimento facial ficou mais conhecido quando smartphones começaram a adotá-lo como uma forma de desbloquear a tela. Mas em anos recentes, a ferramenta tem sido usada por governos e autoridades para identificar pessoas na multidão. Empresas também buscam criar grandes bancos de dados de rostos, gerando debates éticos e comerciais sobre esse tipo de dado.
Um exemplo disso é a startup norte-americana Clearview AI. Em parceria com a polícia estadunidense, ela criou uma ferramenta capaz de encontrar um rosto em uma conta do Facebook, assim, revelando a identidade da pessoa. Para isso, foram coletadas bilhões de fotos online.
O propósito do Fawkes é dificultar ao máximo que empresas como a Clearview criem um banco funcional de dados de rostos, já que as fotos alteradas não bateriam com o conteúdo armazenado pelos sistemas de reconhecimento facial. Segundo Shawn Shan, pesquisador da Universidade de Chicago, esse é um ataque algorítmico chamado envenenamento por dados.
Entretanto, em entrevista ao The New York Times, o chefe da Clearview AI, Hoan Ton-That, disse que a ferramenta não seria capaz disso porque sua inteligência artificial seria capaz de aprender também com as fotos alteradas. Além disso, o volume de fotos corretas na web é muito alto para o Fawkes interferir em seus resultados.
"Existem bilhões de fotos não modificadas na internet, todas em diferentes nomes de domínio. Na prática, é quase certamente tarde demais para aperfeiçoar uma tecnologia como a Fawkes e implantá-la em grande escala", diz.
Para Joseph Atick, pioneiro em sistemas de reconhecimento facial ouvido pelo jornal, apenas legisladores podem garantir o direito ao anonimato facial contra empresas desse tipo. Já para Emily Wenger, estudante que ajudou a criar Fawkes, a tecnologia e as leis ajudam na privacidade, mas é um "jogo de gato e rato". "E você pode ter uma lei, mas sempre haverá atores ilegais", argumenta.
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