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OPINIÃO

LG G8X é desnecessário, mas vira opção mais barata para quem quer 2 telas

Rodrigo Trindade

De Tilt, em São Paulo

01/02/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Primeiro smartphone com duas telas a chegar no Brasil, G8X destoa da concorrência
  • Com foco em multitasking, celular deixou impressão de que isso pode ser desconfortável
  • Acostumar com formato diferente de smartphone exigirá tempo de adaptação

O LG G8X ThinQ desembarcou no Brasil no finzinho de 2019 para ganhar o coração de quem se amarra na ideia de ter duas telas no mesmo celular. Por R$ 5.999, o novo celular custa menos que um iPhone 11 Pro (R$ 6.999), mas o mesmo que um Galaxy Note 10+, com o diferencial de ter dois displays de 6,4 polegadas para realizar tarefas separadas ou simultâneas, o que o torna uma alternativa muito mais barata ao Galaxy Fold (R$ 12.999).

No meu primeiro contato com ele já percebi que a experiência era completamente diferente da que temos com celular "normal" e também com um dobrável como o Motorola Razr. Adotei o G8X para o meu dia a dia e, depois de duas semanas, posso dizer com convicção que não senti grande vantagem em ter uma tela extra.

O recurso me deu uma versatilidade que sequer existe num celular tradicional. O que ocorre em cada tela do G8X é uma atividade independente: você pode abrir o YouTube em uma enquanto responde mensagens na outra ou fazer uma reunião em vídeo pelo Skype em uma com as anotações abertas em um arquivo no Google Docs na outra. Não por acaso, a LG bate na tecla de que este é um aparelho para quem gosta, ou precisa, fazer duas coisas ao mesmo tempo no celular.

Pode ser uma questão de estilo de vida, mas não me vi em muitas situações em que esta função se mostrou necessária. Tive uma impressão inicial — que se sustentou após vários dias de uso — de que para atividades que não precisavam de um teclado, a tela dupla até que caía bem. Contudo, ao mexer no WhatsApp com as duas telas abertas, a experiência de digitar é ruim, mesmo que você esteja assistindo uma série na Netflix do outro lado. Isso é acentuado pelo peso do smartphone: mais de 300 g.

Sim, você pode destacar o "celular G8X" do sistema e usá-lo como outro modelo qualquer, ou girar a tela secundária 360º para ter o espaço tradicional para digitar com o aparelho na vertical. Ainda assim, são duas soluções vão contra a proposta de multitasking do produto.

O smartphone também pode virar uma espécie de videogame portátil, com a ação em cima e o controle embaixo — um Nintendo 3DS sem os botões. É uma forma confortável de aproveitar as particularidades do G8X, mas que deixa o lado multitasking de lado.

Certos (e poucos) aplicativos, como o Google Chrome, permitem que a imagem seja estendida para a segunda tela, o que funciona bem se o celular estiver na horizontal, caso contrário o conteúdo fica separado por uma tarja preta de alguns milímetros de largura. Na configuração horizontal, dá até para usar uma das telas como se fosse o teclado de um notebook. É uma maneira de aproveitar as características exclusivas do G8X, mas que elimina a possibilidade de realizar tarefas múltiplas.

LG G8X na horizontal - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
LG G8X na horizontal, exibindo o Google Chrome em suas duas telas
Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

LG G8X na vertical - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL - Gabriel Francisco Ribeiro/UOL
LG G8X na vertical com o Chrome aberto no modo estendido
Imagem: Gabriel Francisco Ribeiro/UOL

É segunda geração, mas ainda esquisita

O G8X é a segunda geração de modelos de duas telas da LG, sucedendo o V50, mostrado na MWC de 2019 e não lançado no Brasil. Isso significa que o novo celular foi projetado levando em consideração o feedback de usuários, o que levou a melhorias na dobradiça, que agora gira 360º, à adoção de duas telas de tamanho idêntico e de um display externo que exibe notificações e horário quando o celular está fechado.

Ainda assim, a proposta diferentona do G8X não me convenceu. Isso não significa que ele é um celular ruim, muito pelo contrário. Durante a maior parte do tempo, o utilizei como um aparelho normal, destacado da carcaça da segunda tela.

Neste formato, ele é tão confortável quanto outros modelos top de linha disponíveis no mercado, com desempenho compatível com o de concorrentes, além de contar com um detalhe no design que o diferencia dos rivais: a câmera traseira não é protuberante, mas embutida no corpo do celular. Diria até que gostei mais dele do que do G8S ThinQ.

Mas isso é pouco para justificar que alguém desembolse R$ 5.999 em um celular. Se houvesse benefícios mais concretos para o uso das duas telas, o valor seria mais palatável — afinal, trata-se de uma inovação tecnológica que ninguém mais tentou. A Microsoft até pretende lançar um produto semelhante no fim de 2020, o Surface Duo, porém faz questão de dizer que o aparelho não será um smartphone, mas uma nova linha de eletrônicos.

Entre os formatos inovadores de smartphones que chegam ao mercado, o G8X é o mais em conta. Ao mesmo tempo, neste momento, ele tem menos a oferecer do que o dobrável Galaxy Fold, mais de duas vezes mais caro, mas com benefícios tangíveis na usabilidade e consumo de conteúdo.

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