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Tenso: jovem perde visto dos EUA pelo que amigos postaram em rede social

Diretoria de Harvard diz que está tentando resolver a situação de Ismail Ajjawi - Getty Images
Diretoria de Harvard diz que está tentando resolver a situação de Ismail Ajjawi Imagem: Getty Images

Fabricio Calado

Colaboração para Tilt

28/08/2019 16h23Atualizada em 28/08/2019 16h36

Sem tempo, irmão

  • Palestino que vive no Líbano diz que amigos dele postaram opiniões contrárias aos EUA
  • Polícia de aeroporto de Boston achou as postagens e por isso mandou ele voltar ao Líbano
  • Ismail Ajjawi diz que não curtiu, compartilhou ou comentou posts antiamericanos dos amigos
  • Neste ano, EUA passaram a pedir nomes de usuários nos formulários de novos vistos

Um adolescente de 17 anos diz que teve seu visto americano revogado por causa de comentários de outras pessoas em uma rede social. Para piorar, o adolescente estava prestes a começar seus estudos na universidade de Harvard, uma das mais renomadas do mundo.

Ismail Ajjawi, palestino que vive no Líbano, chegou ao aeroporto de Boston e diz que uma policial o levou para uma sala após cinco horas de interrogatório e começou a gritar com ele. "Ela disse que viu pessoas com pontos de vista contrários aos EUA na minha lista de amigos", declarou o rapaz ao jornal de Harvard.

O adolescente disse que não curtiu, compartilhou ou comentou posts antiamericanos feitos por seus amigos, e que não deveria ser responsabilizado pelas mensagens de outras pessoas. Mesmo assim, diz ele, seu visto de estudante foi revogado na hora, e Ajjawi foi enviado de volta para o Líbano.

Antes disso, a policial já havia questionado o adolescente sobre sua religião, e pediu a ele que desbloqueasse celular e laptop durante o interrogatório, o que Ajjawi fez.

A diretoria da universidade de Harvard diz que está tentando resolver a situação de Ajjawi antes do início das aulas, em 3 de setembro. O site Harvard Crinsom, informativo sobre a inistituição, diz que um funcionário do Departamento de Estado se recusou a comentar especificamente sobre o caso de Ajjawi, já que os registros de vistos são confidenciais sob a lei dos EUA.

Lei controversa

Segundo o portal "The Register", a lei que permite aos policiais de fronteira vasculhar aparelhos eletrônicos sem ordem judicial é alvo de ao menos duas ações na Justiça, movidas por organizações de direitos civis e eletrônicos. Uma veio da ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis), e a outra da entidade de direitos digitais EFF (Fundação da Fronteira Eletrônica).

Ambas afirmam que a ação é inconstitucional; já os funcionários de fronteira afirmam ter poderes especiais e que não precisam de mandado para isso.

Desde junho deste ano, os EUA têm novas regras para concessão de vistos de estudante, turismo e trabalho. Segundo o Departamento de Estado americano, a maioria das pessoas que quiser se candidatar a um visto no país deve enviar, com a solicitação, seus nomes de contas de redes sociais que usa ou usou nos últimos cinco anos. Os candidatos a visto também têm que fornecer endereços de email e números de telefone usados nos últimos cinco anos.

A medida do governo americano engloba 20 plataformas, e vale para sites de outros países, como Weibo e QQ (China) e VK (Rússia). A maioria da lista, porém, é de redes sociais americanas, como Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Reddit, entre outras.

No ano passado, o Departamento de Estado americano estimou que 14 milhões de pessoas que pedem vistos de não-imigrante foram afetados pela medida de varredura nas redes.

Em julho deste ano, a diretoria de Harvard escreveu uma carta ao Departamento de Estado americano se dizendo preocupada com a situação de seus estudantes internacionais. Não é a primeira vez que algo assim acontece —em 2017, ao menos quatro estudantes tiveram vistos negados.

A Alfândega dos EUA e a Segurança Interna também estão sendo processadas pelo Instituto Knight de Primeira Emenda, dedicado à liberdade de expressão no país. A entidade quer que ambas entreguem as regras pelas quais as pessoas têm seus aparelhos eletrônicos apreendidos e revistados na fronteira.

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