Melhores séries; o ano de destaque das produções brasileiras originais

Flavia comenta que adora os personagens odiáveis de "Succession" e Thiago observa que a temporada final começou um pouco amarrada, mas a trama evoluiu bem e a série terminou como um dos grandes sucessos da década.

Foi uma temporada em que todo mundo já imaginava que o Logan Roy, o grande patriarca, morreria, só que isso ocorreu no meio da temporada e o público pode acompanhar a guerra pela sucessão para valer. Thiago Stivaletti

"Os três filhos, de alguma maneira, disputam o poder e também tentam entender como o rearranjo do poder no grande conglomerado vai ser dar. Um dos grandes episódios foi o do funeral, quando o personagem do caçula, Roman Roy (Kieran Culkin) sofre o colapso nervoso", completa Thiago.

Flavia observa que a série, ainda que trate de bilionários e seus jogos de poder, também trata da questão do luto, do desamparo de três filhos que sempre disputaram, mais que o poder, a atenção e o amor do pai.

Muita gente despreza estes personagens, mas eu adoro ver este jogo, esta intriga e como a moral é muito flexível, mesmo nas altas escalas da sociedade. A gente acha que o Brasil é o país da moral fluida, mas isso é algo universal quando o poder está em jogo. Flavia Guerra

Brasil

No Brasil, "Cangaço Novo" surpreendeu com uma direção longe do padrão Globo e toda a violência dos assaltantes do sertão.

Criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, que também atuam como roteiristas, "Cangaço Novo" leva para a Amazon Prime Video a história Baldo Vaqueiro (Allan Souza Lima), bancário de São Paulo que descobre que tem uma herança e duas irmãs no sertão do Ceará: Dinorah (Alice Carvalho), a mais valente e única mulher em uma gangue de ladrões de banco, e Dilvânia (Thainá Duarte) lidera um grupo que adora seu famoso pai falecido. (ouça a partir de 46:00)

Thiago: "É uma série absolutamente surpreendente, que tem muito do cinema brasileiro, mas também usa muito bem o ritmo da TV."

Flavia Guerra: "A gente apostou na série, entrevistou os atores (edição 154 do Plano Geral) e falou de como Cangaço Novo é um fenômeno que já é conhecido na região nordeste do Brasil. São estes grandes assaltos cometidos por gangues que roubam e arregaçam mesmo as cidades, explodem os bancos, amarram reféns nos capôs dos carros que usam para fugir. A série atualiza o imaginário e atualiza o Cangaço e a realidade desta região do Brasil", completa Flavia (ouça em 48:00)

"Os Outros" foi campeã de repercussão; e ainda tivemos "Fim", "Amar é para os Fortes", "DNA do Crime" e muito mais.

Thiago observa que "Os Outros", da Globoplay, trata da insegurança que todos os brasileiros vivem, mesmo vivendo em grandes condomínios. Com elenco impecável, com nomes como Maeve Jenkins, Thomás Aquino, Milhem Cortaz, Adriana Esteves, entre outros. A trama traz, além de tudo, uma figura que precisa ser retratada pelo cinema e TV brasileiros, a do miliciano.

"Infelizmente, o Brasil está dominado por milícias. Seja nas grandes ou pequenas cidades, o poder paralelo é algo muito forte no Brasil hoje. E o Eduardo Sterblitch, que vive este miliciano de "Os Outros" está impecável", observa Thiago. (ouça a partir de 53:00)

Para ele, "Os Outros" é uma série que revela muito como "o Brasil podre pode entrar no que a gente considera como o Brasil de bem, dos cidadãos de bem, o Brasil com uma cara mais limpinha. Está tudo entranhado, emaranhado e não tem muita solução."

Flavia observa que é uma série de grandes personagens, que são muito bem desenvolvidos e escritos. "Eles vivem quase neste condomínio que funciona como uma grande metáfora do Brasil. A gente pode até pensar que vai ser chato, pois é uma trama que se passa toda quase dentro deste lugar. Mas a trama vai evoluindo, a tensão vai aumentando e é o tipo de série, como "Amor e Morte", que a gente se pergunta em como fomos parar ali."

Ela completa que a trama funciona como um microcosmo do Brasil, que revela como estamos com dificuldade para conviver, para dialogar. "Como o Brasil veio parar no lugar de país violento em que as pessoas apontam armas umas para as outras por divergências políticas, comportamentais. E a tragédia que se forma quando as pessoas não conseguem dialogar. A gente vai puxando o novelo deste caldo de Brasil e não acaba mais a confusão", diz ela.

Atrizes e atores

Nesta edição, ainda escolhemos os melhores atores e atrizes de série em 2023: Alice Carvalho, Drica Moraes, Eduardo Sterblitch, Bruno Mazzeo, Sarah Snook e Zazie Beetz (45:36).

"Alice Carvalho vive a Dinorah em "Cangaço Novo" e é um dos grandes destaques do ano. Ela também dirige curtas, é cineasta. A gente acabou de assistir na Mostra de Gostoso o curta "Navio", que ela codirigiu. Ela também atua em "Guerreiros do Sol", criada por George Moura, que estreia em breve na Globo. Eu brinquei que ela bota a Maria Bonita no chinelo", comenta Thiago (ouça em 49:00)

Na Amazon Prime Video, destaque também para a recém-estreada "Amar é para os Fortes". Baseada na obra de Marcelo D2, é dirigida por nomes como Kátia Lund (de "Cidade de Deus") e estrelada por Clara Moneke, Breno Ferreira, Tatiana Tiburcio, Maicon Rodrigues, Mariana Nunes, entre outros. Na contramão do óbvio, a série trata da questão da violência das grandes cidades brasileiras pelo olhar de duas mães, uma que perdeu um filho atingido por uma bala perdida em um tiroteio entre a polícia e bandidos, e a mãe de um dos policiais envolvidos no incidente.

Na próxima semana, Plano Geral Especial - Melhores Filmes do Ano!