Escolhas erradas marcam o rock do The Town; sorte que Foo Fighters salvou

Num sábado sacramentado antecipadamente como o dia do rock no festival The Town, o Foo Fighters fez o que todos esperavam: fechou a noite com um grande show de hits, a já manjada extrema simpatia do líder Dave Grohl e rocks furiosos, mas na medida para tocar nas rádios americanas. Nessa celebração de rock em seu estágio mais básico, mulheres acabaram esquentando o público para o Foo Fighters: Pitty, Shirley Manson e as meninas britânicas do Wet Leg.

Pitty abriu o palco principal, à tarde, com um show para comemorar os 20 anos de seu álbum de estreia, "Admirável Chip Novo". Tocou sete músicas desse disco na primeira metade do show, provando que é mesmo um trabalho com sucessos que moram na memória afetiva dos fãs, como "Teto de Vidro" e "Equalize". Depois passeou pelo repertório de seus outros quatro álbuns, para fechar com o mega hit "Me Adora". O lance diferente foi a participação da Nova Orquestra, um grupo sinfônico de gente bem jovem, que fez uma moldura até delicada para o peso habitual das canções de Pitty. E, incrível, funcionou.

Outra garota que impôs respeito à plateia roqueira foi a escocesa Shirley Manson, desde os anos 1990 à frente da banda americana Garbage. O show foi bem estruturado no roteiro, que começou dando algum destaque às canções do último álbum, "No Gods, No Masters", reservando para a parte final os grandes sucessos, como "Vow", "Only Happy When It Rains" e "Push It", canções fundamentais para entender o rock dos anos 1990.

Mais mulheres de talento em seguida, com as vocalistas e guitarristas inglesas Rhian Teasdale e Hester Chambers, dupla que agrega mais três garotos no palco sob o nome Wet Leg. Com apenas um álbum e um hit pegajoso, "Chaise Longue", é uma banda em plena ascensão no cenário indie, com influência clara das americanas do Breeders.

Pitty merecia um horário melhor no dia do rock do festival
Pitty merecia um horário melhor no dia do rock do festival Imagem: Leo Franco/ Agnews

Um show divertido e instigante de uma banda que deve ainda crescer muito, mas talvez não para o horário noturno de um festival com 100 mil pessoas no recinto. Aliás, a pergunta dos outros dias de The Town se repetiu: por que não escalar Pitty à noite, com seu repertório poderoso? Por que sempre os gringos no final?

E por falar em escalação errada, no palco Skyline, o maior do festival, o Yeah Yeah Yeahs substituiu o Queens of the Stone Age, que cancelou a vinda por problemas médicos. À frente do trio nova-iorquino, a figuraça Karen O. Com visual e gestual bem particulares, a cantora é um magneto para a atenção do público, que até acolheu o som da banda, que fica entre um climão denso nas mais lentas e um pulso eletrônico forte nas dançantes.

Mas, mesmo com as mais pesadas no final, o equívoco foi total. O Queens of the Stone Age, com seu rock rude de guitarras, old school, era um aquecimento perfeito para o Foo Fighters. O Yeah Yeah Yeahs não deu liga com o headliner.

E fora os shows constrangedores, como a galeria de clichês supostamente roqueiros do Detonautas, com convidado que nada acrescentou, Vitor Kley, e até uma participação do filho do vocalista Tico Santta Cruz, tocando guitarra. Outro momento deprimente foi o que restou do Barão Vermelho, com seu terceiro vocalista, Rodrigo Suricato, numa formação que mais parece banda cover. E o grupo agora apela até para o repertório solo de Cazuza, com "Exagerado" e "O Tempo Não Para", e de Roberto Frejat, "Amor pra Recomeçar", antigos vocalistas que lançaram essas músicas fora do Barão. Um exercício de cara de pau.

Deixe seu comentário

Só para assinantes