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'Tachado de emo': Fresno expõe mágoa com mídia após 'Quebre as Correntes'

Colaboração para Splash

27/07/2023 04h00

Foi com "Quebre as Correntes" que, de caso pensado, Fresno conseguiu furar a bolha emo em 2006. O segredo? Mirar no clássico "Eye of the Tiger" e nas músicas que serviam de trilha para a entrada triunfal dos lutadores nos ringues de UFC, esporte da moda na época. Mas furar a bolha trouxe consequências.

No Meu Hit desta semana, a banda conta os bastidores da música, até hoje uma das mais lembradas e queridas pelo público. Assista à entrevista no vídeo no topo da página.

Lucas Silveira, Gustavo Mantovani e Thiago Guerra (vocalista, guitarrista e baterista, respectivamente) abrem o jogo sobre o preconceito que encaravam devido ao rótulo emo e sobre a vida de "rockstars pobres" que viviam.

Segundo Lucas, a canção já foi composta com a ideia de estourar nas paradas. "'Quebre as Correntes' foi a primeira música que a gente fez 'na maldade'", diz Lucas. A banda, então no início da carreira, tirou dinheiro do próprio bolso para a produção. "Investimos R$ 8.000. Foi tudo muito pensado, principalmente a parte de como envelopar a mensagem que a gente queria passar [na canção]."

Para Lucas, a gravação ambientada em um ringue de luta tem tudo a ver com a essência da música. "A gente tinha uma referência visual muito forte para 'Quebre as Correntes': era uma música de entrar em ringue! Sentia que ela tinha essa vibe meio Rocky Balboa. Na época, estava bombando muito o UFC, e lembro que o Rickson Gracie sempre entrava [no ringue] com uma música [no fundo]."

Quase 20 anos após ter sido lançada, "Quebre as Correntes" segue entre as favoritas dos fãs da Fresno. "Tem músicas que foram hits muito depois dessa, mas que a gente não toca mais, por não casar tanto com o momento atual da banda. Já 'Quebra as Correntes' é uma música que a gente toca até hoje, em todos os shows", conta Gustavo.

Emos: uma tribo em emersão

O sucesso da Fresno nos anos 2000 está relacionado ao movimento emo, tribo urbana que começava a se autoafirmar entre os jovens e adolescentes daquele período. As franjas em evidência e o gosto musical ao mesmo tempo meloso e hard estavam entre as marcas dos adeptos.

"Em São Paulo ou em Porto Alegre [onde nasceu a Fresno], os emos eram quase sempre gente de quebrada, da região metropolitana. Os playboys até ouviam emo, mas só banda gringa", recorda Lucas.

Outras bandas nacionais, inclusive, serviram de referência para o repertório da Fresno. "Nossas referências eram as bandas emo brasileiras. CPM 22 foi a primeira banda que chutou 'a porteira' mesmo, [em termos] de vir da cena emo e estourar", aponta o cantor.

O sucesso de grupos como Fresno, NXZero e CPM22, tão em alta na época, ajudou a dar visibilidade ao movimento. "Toda essa onda culminou nisso de [até] a tua avó saber o que é ser emo, o que são as bandas... O duro é que rolaram umas matérias de TV muito zoadas [sobre o assunto]. O pai estava em casa, [assistia às matérias] e ficava: 'como assim, meu filho é emo?'", diverte-se Lucas.

Alvos de preconceito

Se a banda já acreditava que o sucesso estava próximo, houve quem não esperasse - os 'donos' do grande circuito musical foram pegos deprevenidos ao ver uma banda tão distante da bolha emergir de forma tão rápida.

"A mídia inteira, salvo pouquíssimas exceções, torceu muito o nariz. Pensaram: 'não foi a gente que falou para isso aí bombar'", recorda Lucas Silveira, sobre os primeiros anos de sucesso do conjunto.

Para ele, foi o estopim para que as principais redes de comunicação entendessem que uma nova tendência se formava. "Foi gerando esse fenômeno de: os 'moleques' estão tendo uma troca de comportamento. As pessoas não estão vendo TV muito, não estão ouvindo música que rola em rádio, eles têm uma realidade paralela deles."

Não por isso, entretanto, foi menos desagradável lidar com a má vontade e o preconceito de parte da mídia. "A gente tinha uma mágoa, do tipo: 'os caras não reconhecem a gente mesmo!' Isso se percebia até nas entrevistas que dávamos na época. Os jornalistas [praticamente diziam]: 'como é que é ser uma merda?'", desabafa Lucas.

Até mesmo entre os próprios artistas a corrente representada pela Fresno era vista com certo desdém. "Sofremos, sim, preconceitos de outras bandas, que nos tachavam de 'banda de emo'", conta Gustavo Mantovani.

Meu Hit

Na reestreia do programa, o cantor Dinho Ouro Preto deu detalhes de "Natasha", um dos maiores sucessos do Capital Inicial. Além da Fresno, também Gloria Groove e a cantora gospel Sarah Beatriz marcam presença no Meu Hit, que vai ao ar toda quinta no canal de Splash no YouTube.