Topo

Plano com anúncios e cobrança extra: o que sabemos do futuro da Netflix

Laysa Zanetti

De Splash, em São Paulo

21/07/2022 04h00

Mais barata, mas com menos conteúdos. O novo plano de assinatura da Netflix vem com anúncios e pode não contar com todo o catálogo presente no plano premium. Mesmo assim, os executivos da companhia estão confiantes.

"A maioria dos conteúdos que os fãs veem na Netflix hoje podem ser incluídos no plano com anúncios", tranquiliza o co-CEO e diretor de conteúdo Ted Sarandos. "Alguns não, e estamos em conversas com estúdios. Mas se lançarmos o produto hoje, membros do plano terão uma ótima experiência. Vamos conseguir liberar alguns desses outros conteúdos mas certamente não todos. Porém isso não é algo material o suficiente para travar nossos planos."

O novo plano de assinatura, previsto para ser lançado em 2023, é uma das tentativas da empresa de contornar a crise econômica, que causou uma perda de 200 mil assinantes no primeiro trimestre do ano e de mais 970 mil no segundo.

Mas este não é o único projeto em desenvolvimento: há dois anos, os times de finanças e produtos estudam uma forma de cobrar mais daqueles que compartilham senhas com amigos ou parentes que moram em outras casas. E, agora, com os testes já em andamento, parece que eles estão chegando a um modelo que consideram satisfatório.

Sobre o compartilhamento de senhas

Netflix vai cobrar taxa extra para quem quer compartilhar senhas com terceiros - CardManPR/Unsplash - CardManPR/Unsplash
Netflix vai cobrar taxa extra para quem quer compartilhar senhas com terceiros
Imagem: CardManPR/Unsplash

"Agora, conseguimos colocar isso na frente dos consumidores e ver como eles reagem, é quando a borracha encontra a estrada", compara o diretor de produto e de operações Greg Peters. "Temos dois modelos. Na essência, ambos são similares, pois pedem aos consumidores que não parem de compartilhar, mas que paguem um pouco mais para formas diferentes de compartilhamento."

Segundo Peters, o primeiro modelo pede para que o assinante pague um pouco mais para acrescentar um membro à conta e dividir com ele. O segundo modelo pede que o assinante pague um pouco mais para acrescentar uma casa adicional à sua conta.

"Nesse ponto, precisamos ver o que funciona para os consumidores", continua. "Embora seja cedo para dar um veredito, eu diria que estamos seguindo muito bem o plano que tínhamos em andamento, e estou confiante que teremos algo em definitivo que podemos implementar no ano que vem, como planejamos."

Mas como garantir que uma pessoa que viajou não será cobrada por estar fora de casa?

"Um dos motivos por que estamos nisso há tanto tempo é que estávamos trabalhando essas questões nos bastidores", explica Peters. "Isso é uma implementação técnica que vem de uma variedade de sinais, mas vamos colocar na lente do consumidor. Queremos um modelo amigável, que identifica casos legítimos de uso, e viagem é um bom exemplo, uso de aplicativos móveis, no celular, computador, essas coisas."

No entanto, ele reforça que, para a empresa, a cobrança extra é legítima ainda que gere algumas frustrações para quem terá que desembolsar mais.

"Queremos garantir que estamos fazendo um bom trabalho ao sermos pagos por fornecer bom entretenimento para quem está aí fora, de uma forma que seja razoável e suave para os assinantes."

Microsoft, anúncios e nova experiência

Stranger Things - Tina Rowden/Netflix - Tina Rowden/Netflix
'Stranger Things': séries originais da Netflix estão garantidas no plano com anúncios, mas catálogo completo é incerteza
Imagem: Tina Rowden/Netflix

Já o plano de assinaturas com anúncios é um pouco diferente. Na última semana, a Netflix anunciou que escolheu a Microsoft como parceira para implementar o novo projeto. A ideia aqui é oferecer uma assinatura mais barata, já que o lucro obtido com as propagandas deverá balancear o retorno financeiro da companhia.

"Todos os anúncios virão através da Microsoft", explica Greg. "Uma das principais razões de estarmos fazendo parceria com eles é a flexibilidade na abordagem. Eles enxergam uma oportunidade de trabalhar junto e colaborar. Vamos evoluir juntos para entender qual é a melhor estrutura."

Ainda de acordo com o diretor, o objetivo é tornar as propagandas parte da experiência. Ele acredita que o que a Netflix está implementando pode mudar até mesmo como anúncios são feitos na TV paga premium, e que pode oferecer uma experiência que seja agradável para o consumidor.

Quando vem aí?

A previsão da Netflix é lançar o plano com anúncios também em 2023. Mas ele não será implementado em todos os países de uma vez.

"Vamos lançar primeiro nos países que têm mercados mais maduros, naqueles em que nos sentimos mais confiantes quanto à monetização", ele explica. "Vamos explorar os demais com o tempo. Mas as respostas iniciais de anunciantes são fortes. Pelo menos no início, a previsão é boa."

E o preço?

Ainda não se sabe quanto o novo plano vai custar. Hoje, o plano padrão da Netflix no Brasil custa R$ 39,90 por mês, e permite que dois aparelhos estejam assistindo ao mesmo tempo. O plano básico custa R$ 25,90 e o premium, com quatro acessos simultâneos, R$ 55,90.

"Sabemos que existe uma sensibilidade relacionada ao preço" diz Peters. "Alguns que vão aderir são pessoas que nunca assinaram a Netflix, outros são os que usam contas de terceiros. Tudo isso representa oportunidades, estamos trazendo novos preços com o plano com anúncios e, assim poderemos atrair novos membros. Estamos atentos aos preços, pensamos na monetização e também no cenário da perspectiva do assinante."

Tábua de salvação?

Enquanto o mercado financeiro e as concorrentes ficam de olho na Netflix e na queda de assinantes, Sarandos demonstra confiança:

"Bilhões pessoas ao redor do mundo amam streaming, e só servimos algumas centenas de milhares delas. Então, a oportunidade para crescimento é enorme. Tivemos alguns contratempos e estamos passando por eles. Lembrem-se que essa companhia e esse time já passaram por muitas mudanças nos últimos 25 anos (...) Crescemos em meio a todos os tipos de condições econômicas e níveis de competição. Estamos confiantes que, enquanto fizermos filmes, séries e jogos que as pessoas amam, vamos continuar liderando essa indústria tão jovem e empolgante."