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A vida de Robert Johnson, que 'vendeu' a alma ao diabo assim como Trindade

O bluesman Robert Johnson que teria vendido a alma ao diabo - Reprodução
O bluesman Robert Johnson que teria vendido a alma ao diabo Imagem: Reprodução

Laysa Zanetti

De Splash, em São Paulo

19/05/2022 04h00

O peão Trindade (Gabriel Sater) chegou a "Pantanal" roubando a atenção, tanto pela performance do ator, filho de Almir Sater, quanto pela história sinistra do personagem. Afinal, não é sempre que vemos alguém estrear em uma novela invocando o diabo para salvar o "pai das sucuris".

Mas a sinistra lenda do pacto com o satã feito para salvar alguém ou conquistar grandes objetivos existe desde muito antes de Benedito Ruy Barbosa e "Pantanal". No mundo da música, histórias do tipo são bastante difundidas. Uma das mais conhecidas data da década de 1920 e diz respeito a uma das maiores lendas do blues.

Trata-se da história do músico Robert Leroy Johnson, nascido no Mississippi por volta de 1911. Considerado por estudiosos como "o Jimi Hendrix de sua época", ele era um músico habilidoso que entrou para o fatídico "clube dos 27", composto por grandes músicos que morreram no auge da carreira, aos 27 anos.

Sua música ficou mais conhecida após sua morte, e o trabalho de Johnson influenciou grandes figuras como Bob Dylan, Keith Richards, Robert Plant e Eric Clapton. Nascido em uma família simples e pobre, ele começou a tocar em bares e as letras de suas músicas falavam sobre a vida difícil e desafiadora levada por pessoas negras, além dos percalços da Grande Depressão após 1929.

Robert Johnson gravou 29 canções apesar de ter deixado outras composições prontas antes de morrer - Divulgação - Divulgação
Robert Johnson gravou 29 canções apesar de ter deixado outras composições prontas antes de morrer
Imagem: Divulgação

Os rumores de que o talento de Robert vinha de fontes mais sinistras começaram a surgir porque as suas letras costumavam mencionar muitos encontros sobrenaturais e criaturas sombrias. Além disso, é descrito que ele tinha hábitos estranhos e era um homem silencioso e discreto, que algumas vezes tocava ou compunha de costas para as pessoas e encarando a parede.

Mas qual é a lenda?

Encruzilhada de Clarksdale entre as rodovias 49 e 61 - Divulgação - Divulgação
Encruzilhada de Clarksdale entre as rodovias 49 e 61
Imagem: Divulgação

O mito conta que Robert Johnson até era um cantor habilidoso, mas um violeiro trágico. Para resolver esta questão, ele teria ido para o famoso cruzamento das rodovias 61 e 49 em Clarkdale, no Mississippi, munido com seu velho violão e uma garrafa de uísque. Na encruzilhada, ele teria feito um ritual e trocado sua alma pelo dom de ser o maior bluesman da história.

A sua fama e a grande repercussão de suas composições teriam vindo como consequências deste pacto, e a teoria ganhou forças sobretudo por causa de composições de Johnson que mencionavam encontros com o diabo ou com cães do inferno, como "Crossroads Blues", "Me And The Devil Blues" e "Hellhound On My Trail".

Os relatos explicam que a história do pacto foi difundida principalmente por Son House, outro influente cantor e músico do blues nos Estados Unidos, que a relatou para o arquivista e historiador Pete Welding ao explicar como Johnson tornou-se um violonista tão hábil com tanta rapidez.

Alguns estudiosos contam ainda que a lenda tem origens que datam de 20 anos após a morte de Johnson, ocorrida em 1938. Isso teria acontecido quando o artista foi redescoberto por fãs brancos que difundiram a especulação.

Outros detalhes foram sendo adicionados com o tempo e com as reproduções da lenda, que já foi contada até em episódios de séries como "Supernatural" e "Legends of Tomorrow".

Mas como Robert Johnson aprendeu a tocar guitarra?

Johnson até teve um professor que o ensinou a tocar guitarra de uma maneira, para a época, assustadoramente competente. Mas não tratava-se de alguém de outro plano.

Na verdade, seu professor foi o músico Isaiah "Ike" Zimmerman, que tinha uma técnica apurada e incomum para aqueles tempos.

O próprio Ike também foi alvo de especulações sobre ter pacto com o diabo, tanto pela proximidade com Johnson quanto pelo fato de ser visto tocando violão no cemitério, sozinho, pelas noites.