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Pocah e Luísa Sonza: o YouTube está censurando as cantoras brasileiras?

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Imagem: Reprodução

Fernanda Talarico

De Splash, em São Paulo

15/08/2021 04h00

Ao ver que o clipe de "Mulher do Ano" havia saído do ar no YouTube pouco tempo após a publicação, no início de agosto, Luísa Sonza foi ao Twitter desabafar. Havia um quê de reclamação e de crítica naquelas palavras, também.

O fato é que o vídeo tinha cenas de beijos cheios de língua trocados por Sonza e o também cantor Vitão. E cantora se sentiu perseguida pela plataforma.

Sonza cumpriu a promessa de publicar o clipe no site de conteúdo adulto, mas depois se arrependeu, tirou do ar, pediu desculpas nas redes e o vídeo voltou para o YouTube como antes.

Afinal, o que está acontecendo?

O fato é que esta não foi a primeira vez em que uma artista brasileira do pop reclamou e se sentiu afetada políticas do YouTube. Antes de Sonza foi a vez de Pocah, cantora e ex-participante do BBB 21, também ter sido derrubada na plataforma de vídeos.

Segundo o YouTube, contudo, um vídeo pode ser derrubado na plataforma se for contra as diretrizes da comunidade e apresentar conteúdos com discurso de ódio, assédio, violência extrema, ameaças à segurança infantil e conteúdo sexual.

O caso de Pocah

A funkeira Pocah fez uma divulgação massiva para antecipar o clipe "Muito Prazer" e revelou ter sido o vídeo mais caro já produzido (e bancado) por ela.

Mas "Muito Prazer" teve o alcance limitado pela plataforma no dia do lançamento. Ou seja, o vídeo seguiu no YouTube, mas chegou a um número menor de pessoas dentro da plataforma, o que frustrou a artista.

A música, a primeira do novo álbum da cantora, não fala diretamente de sexo oral, mas trata desse tema. O vídeo também conta com coreografias sensuais e dançarinas com roupas coladas. Ainda assim, não se trata de nada que o público não esteja acostumado em vídeos de artistas brasileiros e gringos.

Nas redes sociais, Pocah chorou ao falar sobre o assunto: "Estou arrasada, muito triste", disse.

O caso de "Muito Prazer", contudo, foi sinalizado como conteúdo impróprio pelos usuários do YouTube. E, em casos como este, a plataforma passa a restringir o vídeo, que fica sem aparecer nos resultados da busca, nos destaques do site ou nas recomendações da plataforma.

Segundo informa o YouTube, após as acusações, o vídeo é novamente analisado, desta vez por uma figura humana, não um sistema ou algoritmo. No caso de "Muito Prazer", o clipe voltou e a restrição foi retirada após a reavaliação.

Tem raba? Tem. Mas tem em vários clipes. Tá muito seletivo, eu tenho percebido, se fosse algo que fosse para todos, ok. Tá muito seletivo paras mulheres. Se tivesse um cara colocando um monte de mulheres assim.
Disse a cantora ao programa Papo de Segunda

Pocah, que não respondeu aos pedidos de entrevista de Splash, também havia citado uma seletividade no tratamento de artistas homens e mulheres dentro da plataforma na entrevista de TV.

O fato é que, segundo o YouTube, este tipo de restrição parte do comportamento dos usuários na plataforma, que neste caso sinalizaram ter algo de impróprio no conteúdo. De certo modo, portanto, a seletividade citada pode realmente existir, mas partiu do público incomodado com o que assistiu no vídeo. O que, raramente, ocorre quando o artista é do sexo masculino.

O mesmo aconteceu com 'Modo Turbo'

Outro vídeo protagonizado por mulheres afetado por uma restrição causada pela atuação dos usuários do YouTube foi "Modo Turbo", o single de Luísa Sonza, Pabllo Vittar e Anitta, outra super produção com efeitos visuais e linguagens dos animes.

Na época, o YouTube se pronunciou sobre o assunto no Twitter oficial da plataforma no Brasil.

O caso de Luísa Sonza

Procurado por Splash, um porta-voz do YouTube culpou questões de direitos autorais pelo fato do vídeo de "Mulher do Ano", que pode ser assistido abaixo, ter sido derrubado da plataforma na ocasião do lançamento.

As tais questões de direitos autorais são gerenciadas pela Universal Music Brasil, a gravadora de Sonza. Portanto, o caso seria mais um imbróglio burocrático do que uma censura ao clima "caliente" e de pegação do vídeo.

O YouTube respondeu ser padrão da plataforma enviar uma notificação ao dono do canal com os motivos do conteúdo ter sido retirado da plataforma. No caso de uma engrenagem gigantesca como a de Luísa Sonza, com tantos profissionais envolvidos, é possível que a informação tenha demorado para ser checada por completo e, por isso, a reação da artista.

Splash procurou tanto Sonza (sobre ter o vídeo removido por conta de questões da própria gravadora) quanto a Universal Music Brasil para comentarem o caso, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.