Roberto Sadovski

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Opinião

O fim de 'Ahsoka' e o futuro sempre incerto do universo 'Star Wars'

"Ahsoka" terminou como um dos melhores recortes dentro do universo "Star Wars". A série encabeçada por Rosario Dawson trouxe novos personagens e velhos conhecidos, cenários familiares e mundos inexplorados, uma nova trama que respeita o legado da saga e, por fim, ação na medida certa, com batalhas espaciais e duelos de sabres de luz.

Acima de tudo, "Ahsoka" dialoga com uma geração mais nova de fãs de "Star Wars", uma turma por vezes subestimada por entusiastas mais, digamos, tradicionais. Se Luke Skywalker é o grande herói da série para quem cresceu com a trilogia original, o pessoal mais jovem muda o holofote para seu pai, Anakin. Não só ao longo da trilogia lançada no começo do século 21, mas principalmente nas séries animadas "Star Wars: The Clone Wars" e, por extensão, "Rebels".

"Ahsoka" acontece depois desses eventos, mais precisamente após a queda do Império em "O Retorno de Jedi", quando Anakin, já transformado em Darth Vader, tornou-se um executor a mando do imperador Palpatine. Antes disso, contudo, ele foi o mestre de Ahsoka Tano (em "Clone Wars"), aspirante a Jedi que não concluiu seu treinamento. Embora a série exista em torno da saga da família Skywalker, ela funciona com as próprias pernas, respeitando e expandindo o legado.

O cérebro por trás de toda essa história é Dave Filoni, indiscutível herdeiro de George Lucas e a pessoa que explorou como poucos o terreno fértil desse universo. Depois de conceber "Clone Wars" e "Rebels", foi natural para Filoni trazer seus personagens para uma nova série, dando-lhes a chance de amadurecer junto com a história. Essa proximidade, porém, teve consequências, e "Ahsoka" se tornou um problema para o futuro de "Star Wars".

A linha do tempo da saga é uma confusão elegante. Com as trilogias no cinema, tivemos primeiro o miolo de uma história mais abrangente, seguida de suas origens para, por fim, descobrirmos sua conclusão. A expansão de "Star Wars" para o streaming em novas séries, contudo, fragmentou ainda mais essa linha do tempo e trouxe perguntas ainda sem resposta.

Para refrescar a memória, "Obi-Wan Kenobi" existe cerca de uma década após "A Vingança dos Sith", com o Império consolidado e o cavaleiro Jedi em exílio se aproximando de Luke e Leia ainda crianças. "Andor" adianta essa linha do tempo para pouco antes dos eventos do "Guerra nas Estrelas" original, fazendo também a ponte com "Rogue One" e criando um prólogo do filme de 1977.

Dave Filoni, ao lado de Jon Favreau, produziu um recorte de "Star Wars" cerca de cinco anos após a queda do Império. As três temporadas de "The Mandalorian", assim como "O Livro de Boba Fett" e, agora, "Ahsoka", mostram o universo ainda lidando com um vácuo no poder. Para dar à nova série um vilão que pudesse rivalizar com Darth Vader, e tivesse laços com o legado de "Star Wars", Filoni resgatou a figura do Grão Almirante Thrawn.

O Grão Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen) é o grande vilão dessa fase de 'Star Wars'
O Grão Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen) é o grande vilão dessa fase de 'Star Wars' Imagem: Lucasfilm
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Criado em 1991 para a série de livros "Herdeiro do Império", material hoje não considerado canônico, Thrawn foi reapresentado à cronologia oficial de "Star Wars" em "Rebels", consolidado como um mestre estrategista que, ao fim da série animada, desaparecia após um confronto com o jovem Jedi Ezra Bridger. "Ahsoka" resolve esse conflito e recoloca Thrawn como uma ameaça real para a Nova República.

A resolução desse conflito deve acontecer em um filme, a ser escrito e dirigido por Dave Filoni, que segue sem data de estreia. Além de trazer personagens vistos em "The Mandalorian", "Boba Fett" e, claro, "Ahsoka", a nova produção (que pode ser tanto um filme solo como uma nova trilogia) precisa amarrar sua história para que ela não cause problemas práticos desenhados pela própria cronologia de "Star Wars".

Ninguém representa melhor essa questão que Luke Skywalker e Leia Organa. Eles são, afinal, personagens fortemente estabelecidos nesse recorte da saga e precisam ter seu papel definido neste novo período de turbulência. Como os irmãos tiveram seu epílogo nos filmes da nova trilogia, que mostram a ascensão da Primeira Ordem, Leia como general na Resistência e Luke autoexilado, é necessária uma costura para não bagunçar o que já está estabelecido.

O grande Ray Stevenson em seu último trabalho como Baylan Skoll, um Jedi caído
O grande Ray Stevenson em seu último trabalho como Baylan Skoll, um Jedi caído Imagem: Lucasfilm

O último episódio de "Ahsoka" traz o encerramento de tramas desenhadas ao longo da série, mas também significa um novo começo, um final que não fecha a porta para o destino de seus personagens. O mais interessante deles é Baylan Skoll, Jedi transformado em mercenário, interpretado por Ray Stevenson. Com a morte inesperada do ator pouco antes da estreia da série, a jornada do personagem é agora um ponto de interrogação.

O futuro apontado por "Ahsoka" está longe de ser o único problema em "Star Wars". Filmes e séries que abrangem um espectro ainda maior de sua linha do tempo são anunciados e cancelados na velocidade do hiperespaço. "Rogue Squadron", filme de Patty Jenkins, não está mais na agenda, assim como a produção tocada por Taika Waititi. James Mangold, Shawn Levy e Rian Johnson (do excepcional "Os Últimos Jedi"), por outro lado, seguem com projetos em desenvolvimento.

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Se no cinema "Star Wars" encontra-se dormente desde 2019, ano do malfadado "A Ascensão Skywalker", os caminhos da Força seguem ativos no streaming. "Skeleton Crew", agendado para estrear ainda neste ano, traz Jude Law à frente de um elenco infanto juvenil em uma aventura na mesma época de "The Mandalorian".

Já "The Acolyte", prometida para 2024, é ambientada durante a Alta República, um século antes dos eventos mostrados em "A Ameaça Fantasma", cronologicamente o primeiro filme da saga Skywalker.

Ahsoka Tano (Rosario Dawson) reencontra sua aprendiz, Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo)
Ahsoka Tano (Rosario Dawson) reencontra sua aprendiz, Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo) Imagem: Lucasfilm

Ao expandir seu universo em séries no streaming, "Star Wars" foi alvo de críticas — muitas delas merecidas, outras exageradas. A rejeição maior veio justamente de uma fatia de fãs mais antigos que são absolutamente refratários a mudanças. Para essa turma, que acredita não haver espaço para a saga crescer além dos filmes criados por George Lucas, qualquer história sem Luke, Leia ou Han Solo à frente seria irrelevante.

Não precisa ser assim. "Andor", um thriller político assinado por Tony Gilroy, ampliou o universo de forma inteligente sem depender de Jedis ou da Força. "Ahsoka", por outro lado, recuperou o entusiasmo da saga pela fantasia, abraçando seus conceitos fantásticos em terreno empolgante e familiar, com criaturas estranhas e o choque dos sabres de luz. "Star Wars" é, e sempre será, uma caixa de brinquedos para crianças de todas as idades.

Nem mesmo "Rebel Moon", supostamente um projeto de Zack Snyder rejeitado pelos produtores de "Star Wars", foge dessa regra. Os fãs do diretor — e, bom, parte de sua equipe —, comemoraram que o responsável por "Batman vs. Superman" havia feito sua própria versão da criação de George Lucas, só que mais "sombria e violenta". Na prática, porém, "Rebel Moon" recebeu classificação PG-13 nos Estados Unidos: a criançada pode ver sem medo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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