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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Os Cavaleiros do Zodíaco' vai destruir sua infância com golpes de marreta

Mackenyu como Seiya em "Os Cavaleiros do Zodíaco" - Sony
Mackenyu como Seiya em 'Os Cavaleiros do Zodíaco' Imagem: Sony

Colunista do UOL

29/04/2023 04h00

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Nos anos 1990, não houve surto coletivo pop maior do que o desenho animado "Os Cavaleiros do Zodíaco". Uma geração inteira abraçou a série que, a exemplo da paleta mexicana e do Orkut, foi um fenômeno que explodiu unicamente no Brasil. Essa turma já pode preparar os lenços para o chororô que deve se instalar nos cinemas por aqui. Não de emoção, veja só, mas possivelmente de ódio.

Isso porque "Os Cavaleiros do Zodíaco - Saint Seiya: O Começo" (ufa) praticamente ignora todos os elementos da série criada por Masami Kurumada a favor de uma aventura de fantasia que não poderia ser mais genérica. É curioso, portanto, imaginar para quem se destina a produção, que dá de ombros para seus fãs raiz e não tem nenhuma conexão emocional com a molecada mais ligada em "Attack on Titan" ou "Jujutsu Kaisen".

É preciso ao menos dar crédito ao diretor polonês Tomasz Baginski para tentar desenhar uma trama, já que nem o anime, e muito menos o mangá que o precedeu, trazem uma história interessante. O texto original é uma salada que mistura mitologia grega, constelações, torneios marciais e guerreiros em armaduras poderosas. Tudo bem exagerado e estridente, como boa parte dos animes menos inspirados.

Se um filme poderia ser a chance de enxugar os conceitos e criar uma narrativa mais coesa, seus produtores optaram pelo caminho da preguiça. Seiya (Mackenyu, filho do lendário Sonny Chiba) é um órfão que, depois de ver o sequestro da irmã quando criança, treina suas habilidades como lutador em ringues clandestinos. Numa luta com Cassios (Nick Stahl, oi sumido!), ele acidentalmente revela seu "cosmo", energia que amplia suas habilidades naturais.

Seiya passa a ser perseguido por dois grupos. O primeiro, que o acolhe, é encabeçado por Alman Kiddo (Sean Bean), guardião de Saori (Madison Iseman), reencarnação da deusa Athena. O outro, obviamente os vilões, tem à frente Guraad (Famke Jansenn) e Nero (Diego Tinoco). O plano é usar Seiya para chegar a Saori e remover a energia da jovem para... não sei, salvar o mundo?

O roteiro é uma confusão só, colocando Seiya na cartilha da "jornada do herói", em que ele primeiro nega e depois abraça seu destino como o Cavaleiro de Pégaso. No meio do caminho, o órfão treina com o Cavaleira de Águia, Marin (Caitlin Hutson) e apanha um bocado antes de finalmente triunfar. Os diálogos são pomposos e intermináveis, como se todos estivessem em uma convenção de coaches. O elenco, que ainda traz o veterano Mark Dacascos, também não ajuda. E faltam, vai entender o motivo, cavaleiros!

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Madison Iseman e Sean Bean em 'Os Cavaleiros do Zodíaco'
Imagem: Sony

O mais mais espanta em "Os Cavaleiros do Zodíaco" é como o filme é feio. Existe a clara vontade de espelhar dúzias de referências da cultura pop, como os stormtroopers de "Star Wars", algumas engenhocas de "G.I. Joe" e o clima cafona de 'Mortal Kombat'. As soluções estéticas, porém, são equivocadas. Em especial, as esperadas armaduras dos cavaleiros: frágeis e desconfortáveis, elas parecem feitas de lata, não servem nem como destaque em escola de samba.

"Os Cavaleiros do Zodíaco - Saint Seiya: O Começo" termina como uma experiência frustrante para os fãs do anime, que mais uma vez terão suas memórias de infância brutalizadas por uma atualização que é só barulho e sujeira. Tudo bem que o desenho original não era lá grande coisa, mas também não precisava arranhar o fundo do poço.

Se serve de consolo, "Os Cavaleiros do Zodíaco" não é absolutamente execrável como "Dragonball Evolution", que em 2009 adaptou um dos animes mais bem-sucedidos da história em um filme que não vale uma casca de pitomba. Alguns brinquedos de infância merecem ficar esquecidos bem no fundo do baú.