Topo

Pedro Antunes

Barões da Pisadinha prova que você deve, sempre, ouvir sua mãe

Faça como os Barões da Pisadinha e ouça a sua mãe - Montagem: Pedro Antunes
Faça como os Barões da Pisadinha e ouça a sua mãe Imagem: Montagem: Pedro Antunes

Colunista do UOL

07/07/2021 07h27

Sem tempo?

  • Sabe aqueles conselhos de mãe que a gente insiste em desobedecer e se provam verdadeiros?
  • A história de Barões da Pisadinha só tem inicio quando Felipe Barão decide ouvir a mãe e comprar um teclado.
  • Em outra, Rodrigo diz que recebeu sinais divinos de que não deveria abandonar a carreira de cantor para voltar a trabalhar na roça.
  • Esta é uma das muita saborosas histórias de Da Roça para Cidade, documentário que conta a história da dupla Os Barões da Pisadinha

"Não esquece de levar uma blusa porque, quando você voltar, vai estar frio".

Eu ria ao ouvir isso da minha mãe, dona Vera, olhava para o céu azul, mas levava o casaco para a festinha. Ao voltar, à noite, agradecia pela sapiência materna.

Eventualmente, entendi que na vida que, se a mãe diz, o melhor é obedecer. E você pode ter 8 anos, 18 ou 38 anos, isso não vai mudar. Acredite em mim.

Felipe, antes de assumir o "sobrenome artístico" de Barão, ouviu a mãe, Dona Maria, uma senhora que eu adoraria conhecer, aliás.

Foi Maria a responsável por criar o atual fenômeno da música popular brasileira. Sem ela, não teríamos "Tá Rocheda", "Basta Você Me Ligar", "Esquema Preferido", entre tantos outros, na voz de Rodrigo Barão e no teclado de Felipe Barão.

É o que mostra o excelente documentário "Da Roça Para Cidade: A Ascensão dos Barões da Pisadinha", disponível no YouTube e produzido pela Amazon Music.

Sem se meter em qualquer confusão, polêmica ou assunto espinhoso (se é que eles existem na curta carreira do carismático duo), o doc é chapa branca, mas serve de apoio para dar luz à vida das figuras de Felipe e Rodrigo Barão antes da fama.

A jornada começa com Felipe, jovenzinho de tudo, cabelo partido ao meio, com uma guitarra no colo e os dedos roliços a passear pelas cordas com talento para acompanhar o riff de "Sultans of Swing", um clássico da banda inglesa Dire Straits.

Felipinho (apelido criado só por mim para indicar que a história segue no passado) tocava pela região de Heliópolis e Ribeira do Amparo, no nordeste do estado da Bahia.

A mãe, a já citada Maria, era criticada por deixar o menino de 12 anos tocar em festas e barzinhos.

"Não tinha jeito", ela diz, com um sorriso no rosto.

Em dado momento, Felipe quis reunir dinheiro para comprar uma guitarra nova. A mãe sugeriu um teclado. Disse que viu um músico, sozinho no instrumento, comandar uma festa toda.

Aí está a gênesis dos Barões da Pisadinha. Uma dica de mãe, como aquelas tantas outras como "come algo antes de sair porque acho que lá vai demorar" e "leve uma blusa", que mudou a música popular brasileira? Sim.

Felipe nem sequer sabia manusear o instrumento cheio de botões e teclas, mas aprendeu o que pode com vídeos no YouTube. Logo, virou o homem das festas, chamado para tocar ali e acolá.

Procurou um cantor, deu de cara com Rodrigo. Tocaram como dava e onde chamavam, em bares ou acompanhados dos paredões de som (nome dado às caixas de som empilhadas na carroceria de caminhonetes com agudos estridentes e graves ensurdecedores).

Rodrigo, por sua vez, conta que quase deixou de cantar para trabalhar na roça. "Já estava com 24 anos", ele justificava, antes de receber "sinais" de que deveria seguir com os Barões.

Foi logo depois, diz Felipe, que tudo mudou para o duo.

Viraram Barões do Forró. Em três anos, até menos, já eram Barões da Pisadinha, com duas músicas no Top 50 da parada Global do Spotify ("Recairei" e "Basta Você Me Ligar", em 38º e 50º lugares, respectivamente), entre outros números superlativos no YouTube e plataformas de streaming.

O documentário tem mais momentos de candura e motivos de chororô. São histórias saborosas sobre a relação de ambos artistas com as mães, a ausência da figura paterna, gravações em quartinhos com colchões velhos, religiosidade e resiliência.

Se a pisadinha, o forró eletrônico descrito por Felipe Barão como mistura de "xote, samba e a vanera do Rio Grande do Sul", tem força gigantesca para fazer frente ao todo poderoso sertanejo nas paradas nacionais, a culpa é dos Barões.

Quero dizer, a culpa mesmo é da Dona Maria.

(Será que eu deveria ter ouvido minha mãe e ter estudado engenharia?)